Tapete e procissão mantêm tradição de Corpus Christi

Feriado de Corpus Christi é sinônimo de descanso para grande parte da população, mas não para os moradores da Lapa, município localizado a 70 quilômetros de Curitiba. Como acontece há vários anos, os lapianos acordam bem cedo no dia de Corpus Christi e vão às ruas preparar o grande tapete colorido feito de serragem, por onde passa a procissão mais tarde. Ontem a tradição se repetiu mais uma vez. Foram feitos 35 tapetes com imagens relacionadas à comemoração, ligando o Santuário de São Benedito à Igreja Matriz. Cerca de 500 moradores participaram da confecção do tapete. A procissão, que começou às 11h, reuniu cerca de 3 mil pessoas.

A professora Cláudia Wiedmer é uma das “artistas” que não se incomodam em acordar bem cedo para enfeitar a cidade. Apesar de ser luterana, e não católica, ela conta que há quase dez anos ajuda a igreja na preparação do caminho. “Atividades como esta aumentam o convívio social, a amizade”, comenta. A orientadora educacional Jussara Bara Araújo também dá a sua contribuição. Ela estava desde 6h30 ajudando a preparar o tapete, e participa há quase vinte anos da montagem. “Antigamente, apenas as famílias ajudavam. Agora, a cidade toda se envolve. É uma festa tradicionalíssima na Lapa, que só tem a acrescentar”, diz.

Para o funcionário público Gilmar Ribas Paes, nascido na Lapa, a tradição supera até mesmo a distância. Há quase vinte anos ele se mudou para Curitiba, mas continua ajudando na construção da obra. “É importante manter a tradição pelo valor que tem, pelo simbolismo e pela fé que se tem em Jesus e no Santíssimo Sacramento.”

Roupas

Entre tantos tapetes coloridos feitos basicamente de serragem – foram utilizados quase dois mil sacos do material – um chamou a atenção pelo inusitado: ao invés de pó de serra, cal, sal grosso ou pó de café, o que se via eram roupas espalhadas no chão. A iniciativa foi da Pastoral do Dízimo, vinculada à Igreja Católica. “Como o dízimo significa partilhar, pedimos agasalhos e donativos (alimentos) para fazer o tapete. O resultado superou as nossas expectativas”, comemorou a comerciante Ana Knaut, da Pastoral do Dízimo. Segundo ela, a idéia será mantida no ano que vem.

Turistas

Foram quase duas semanas de trabalho intenso, que envolveu escolas, Exército, pastorais da igreja e diversas outras entidades, mas o resultado valeu a pena. Com quase 1,5 km de extensão, o tapete coloriu e trouxe vida ao setor histórico da Lapa. “Além da principal função, que é a manutenção da fé, da tradição, o tapete tem um significado ainda maior, que é a participação da comunidade”, define a secretária de Turismo da Lapa, Vilma Piovezan Wille, acrescentando que é grande o número de turistas que vão para o município durante Corpus Christi. “As pessoas vêm nem tanto pela crença, mas principalmente pela arte”, acredita. Segundo ela, o município recebe entre 500 e mil turistas durante o feriado.

Campanha contra a miséria em Curitiba

Mesmo com o mau tempo, milhares de fiéis acompanharam a Festa de Corpus Christi ontem na Catedral de Curitiba. Dom Pedro Fedalto aproveitou o momento para lançar a campanha nacional contra a miséria, fazendo uma crítica à globalização, que gera a concentração de renda. Em várias paróquias da cidade o evento se repetiu. Na Igreja Santuário Nossa Senhora do Carmo, no Boqueirão, cerca de 10 mil pessoas participaram do evento pela manhã.

A missa que seria realizada em frente à Catedral foi transferida para dentro da igreja devido à chuva. Os fiéis que não conseguiram entrar procuraram abrigo em marquises de prédios e pontos de ônibus, mas não pensavam em ir embora. Eunice Carrano, 76 anos, e a irmã de 74 anos se mantiveram firmes. “A fé supera a chuva, o sol, o vento, tudo”, disse.

Mas a chuva parou ainda na metade da missa e a procissão seguiu sem problemas. Os fiéis levaram várias faixas criticando o modelo de globalização, tema do sermão do arcebispo durante a celebração. “A verdadeira fé e a Eucaristia se traduzem no compromisso com quem passa fome”, profetizou o arcebispo.

Na Igreja Santuário Nossa Senhora do Carmo a festa começou às 9h30 com a celebração de uma missa. Logo em seguida os fiéis saíram em procissão. A comunidade confeccionou cerca de 800 metros de tapetes, feitos com serragem colorida e enfeitados com vários desenhos eucarísticos.

A festa de Corpus Christi começou na Paróquia de Liège, na Bélgica, em 1230, através da leiga Juliana de Mont Cornillonn, que observou ao seu pároco, na época monsenhor Tiago Pantaleão de Troyes, que faltava no calendário litúrgico uma festa dedicada à Eucaristia. (Elizangela Wroniski)

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