No Brasil, cerca de 30 mil pessoas estão na fila de espera para um transplante de córnea. Cinqüenta por cento delas são vítimas de ceratocone – doença hereditária, que afeta a córnea (parte transparente do olho) e leva à perda progressiva da visão – e podem ter o problema solucionado através do implante de um anel intracorneano denominado Keraring.
Há cerca de duas semanas, a cirurgia de implantação do anel foi liberada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia e, desde então, vem sendo custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Todo procedimento cirúrgico tem um custo aproximado de R$ 585 para o SUS, valor inferior ao do transplante. Porém, ainda é o paciente que compra o anel, que custa entre R$ 700 e R$ 900, dependendo da situação”, afirma o médico oftalmologista Leon Grupenmacher, que ontem participou da I Conferência Curitibana de Combate à Ceratocone, no Hospital Ecoville.
Segundo Leon, atualmente os pacientes ficam, em média, um ano e seis meses na fila para receber uma córnea. O uso do anel de Keraring pode minimizar a fila e diminuir o tempo de espera para todas as vítimas de enfermidades oftalmológicas que necessitam de transplante. “O anel é implantado no meio da córnea, modificando sua estrutura. Ao contrário do que acontece nos transplantes, não tem risco de ser rejeitado pelo organismo”, explica. “De cada cem pacientes que colocam o anel, 92 não precisam mais receber uma nova córnea.”
A implantação do Keraring também é considerada bem mais confortável. Enquanto em um transplante de córnea o paciente leva um ano e meio para se recuperar, quem passa pela cirurgia de colocação do anel tem a visão restabelecida em um período médio de trinta dias, podendo levar vida normal. “É bem menos sofrido para o paciente. O procedimento dura quinze minutos, é feito com colírio anestésico e permite que o paciente saia andando da sala de cirurgia, recebendo alta imediata”, comenta. No pós-cirúrgico, o paciente precisa utilizar colírios por períodos determinados, podendo ficar completamente livre de medicamentos com o decorrer do tempo.
Paciente
O estudante Israel Bodziack da Silva, de 20 anos, colocou o anel de Keraring há um ano e quatro meses. Na época, ele mesmo custeou sua cirurgia, desembolsando um total de cerca de R$ 10 mil. Ele comemora o fato de o método já estar sendo custeado pelo SUS, o que irá beneficiar pessoas que, ao contrário dele, não podem pagar pela cirurgia. “Tive ceratocone em grau bem acentuado, mas não cheguei a perder a visão. Durante a colocação do anel, fiquei lúcido, não tive mal-estar e não senti dor. Saí da sala de cirurgia já enxergando e fui direto para casa. Hoje, já não utilizo qualquer tipo de medicamento”, conta. “Valeu a pena.”
