Hwang e Kang foram os destaques
do XVII Congresso Brasileiro
de Genética Clínica.

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O anúncio da realização da clonagem de células-tronco, ou clonagem terapêutica, no final do mês de maio na revista Science, fez com que os pesquisadores sul-coreanos Woo Suk Hwang e Seung Keun Kang ficassem conhecidos no mundo inteiro em função da pesquisa. A primeira apresentação deles depois da publicação do artigo científico aconteceu ontem, em Curitiba, durante o XVII Congresso Brasileiro de Genética Clínica, no qual foram as grandes atrações. Os dois proferiram palestras sobre as técnicas e os procedimentos utilizados para o alcance deste feito inédito na história da humanidade.

A equipe de pesquisadores da qual Hwang e Kang fazem parte conseguiu produzir 11 linhagens de células-tronco humanas geneticamente iguais às dos doadores por meio de transporte de células. Durante suas palestras, eles explicaram que coletaram óvulos, que são rodeadas por várias camadas de outras células. Essas foram separadas e manipuladas. Do óvulo tirou-se todo o material genético. As células tratadas foram injetadas no espaço que sobrou do óvulo. A partir disso, houve a fusão, a ativação química para iniciar o desenvolvimento do embrião (sem a presença de espermatozóide), a cultura in vitro e a formação de células embrionárias. A única informação genética é do doador, o que não causaria rejeição na aplicação de tratamento com células-tronco.

Segundo Kang, a equipe não tinha informações de como fazer tudo isso quando a pesquisa começou. A saída era otimizar o que já era conhecido por meio de estudos com animais ou determinar todos os fatores. Apesar da existência de tantas doenças que precisam da clonagem terapêutica, os esforços foram concentrados apenas na diabetes e problemas de trauma na espinha dorsal. "A clonagem terapêutica tem um potencial enorme e trata-se de um grande avanço. É para dar possibilidades de tratamento a doenças hoje intratáveis. As células-tronco são as técnicas médicas mais promissoras no futuro e estão oferecendo esperança", avaliou Hwang.

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Quando a pesquisa dos sul-coreanos foi divulgada, muitos especialistas alarmaram uma possível clonagem de seres humanos, principalmente de bebês. Hwang salientou que as experiências com animais  mostraram uma eficiência menor que 1%, fato que demostra o perigo de lidar com a cópia genética de homens e mulheres. "Clonagem humana é antiética e totalmente sem segurança. Não deveria ser feita de jeito nenhum. Tecnicamente é muito difícil e não é qualquer laboratório que poderá fazer isso. Não temos o menor interesse em fazer clones humanos no nosso laboratório", afirmou.

Ele destacou que não sabe quanto tempo vai levar para a clonagem terapêutica ser aplicada na cura de doenças. "Também gostaria de saber quanto tempo vai levar, mas temos uma série de problemas. Ainda precisamos descobrir a segurança, a eficiência e os mecanismos para a aplicação. Não sei o que esperar sobre efeitos práticos a curto prazo. Acho que todos os países devem colaborar para chegar a um resultado", opinou.

Parceria

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Para Hwang, uma parceria de cooperação entre Brasil e Coréia do Sul seria muito importante para a união de esforços no avanço da clonagem terapêutica. Ele disse saber da existência de grandes pesquisadores brasileiros, que poderiam contribuir neste projeto futuro.

O pesquisador Kang informou que a diabetes pode ser a primeira doença a ter algum resultado efetivo com a clonagem terapêutica. Os próximos passos da pesquisa seguirão nesse caminho. Mas Kang reiterou que não há prazo para isso acontecer.

Implante afasta risco

Araçatuba – O cirurgião vascular José Dalmo de Araújo, do Instituto de Moléstias Cardiovasculares (IMC) de São José do Rio Preto (SP), afirmou ontem que o primeiro implante de células-tronco em paciente com trombose no País foi um sucesso. O risco de amputação da perna do agente tributário Ramão Torres Martins, de 49 anos, está praticamente afastado. Nas próximas semana outros pacientes devem se submeter ao mesmo procedimento.

O implante, feito em 11 de maio, era a última alternativa para evitar a amputação. Portador de uma trombose arterial na perna esquerda, Martins havia passado por todos os tratamentos convencionais, que indicavam a amputação como única solução. Antes do implante celular, o risco de perda da perna era de 90%, hoje há mais de 90% de chance de não amputar o membro.

Martins passou ontem pelo último exame, de arteriografia, e hoje deverá ser liberado para voltar para casa, em Campo Grande, depois de passar os últimos 60 dias em São José do Rio Preto. Hoje, ainda no apartamento 103 do IMC, onde foi internado para os últimos exames, Martins recebeu um padre e rezou com a família. "Agora volto para casa mais animado, mais esperançoso, sem as fortes dores que sentia", afirmou.

Novo procedimento na Bahia

Salvador – Mais um paciente com mal de Chagas foi submetido ontem a um procedimento cirúrgico com células-tronco no Hospital Santa Izabel, em Salvador. A cirurgia feita pela equipe do médico Ricardo Ribeiro (da Fundação Osvaldo Cruz), demorou menos de três horas e integra a segunda etapa da pesquisa nacional que avalia o uso de células-tronco no tratamento de doenças do coração, patrocinada pelo Ministério da Saúde.

A técnica, testada nos últimos três anos em trinta chagásicos baianos, consiste em retirar células-tronco da medula óssea do paciente e injetá-las diretamente no coração dele. As células-tronco demostraram a capacidade de regenerar o músculo cardíaco em pouco tempo.

O primeiro paciente dessa segunda fase (a identidade foi preservada) é voluntário, tem 53 anos e mal de Chagas em estado avançado. A doença é provocada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitido pelo inseto conhecido popularmente como barbeiro, que causa insuficiência cardíaca e pode levar à morte.

Os médicos retiraram cerca de 60 mililitros de líquido da medula óssea e injetaram entre 300 mil e três milhões de células-tronco no seu coração. Se tudo der certo, em um mês o paciente deve começar a apresentar melhoras.