O Paraná que hoje conhecemos teve um passado bastante sofrido. Durante o século XX, período de colonização do Estado, um fato marcou a história: a conflagração do Sudoeste do Paraná. Segundo o professor titular de filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Antônio Celso Mendes, o movimento que aconteceu em 1957 pode ser considerado o mais representativo da evolução econômica do Estado.

A história começou em 1943, quando Getúlio Vargas criou ilegalmente uma colônia agrícola com o nome de Colônia Nacional General Osório – hoje conhecida como a cidade de Francisco Beltrão. O objetivo do ato era atrair o excedente de mão-de-obra agrícola do Rio Grande do Sul para o Sudoeste do Paraná. Por isso, todas as condições necessárias foram criadas para fixar os colonos: entre elas estavam a atribuição gratuita de terras, doação de madeira para a construção das casas, distribuição de ferramentas agrícolas e sementes e ainda atendimento médico e odontológico gratuito. Em conseqüência das vantagens oferecidas, o número de habitantes em 1947, que era de 467 famílias, passou para 2.725 em 1956.

Conflagração

Em abril de 1957, três companhias de terras resolveram colonizar, com a ajuda do governador Moisés Lupion, a região já habitada pelos colonos desde a época de Getúlio Vargas. Segundo o policial militar aposentado João Miguel da Silva, durante a conflagração, muitas discussões, inclusive políticas, ocorreram. Os colonos, na sua maioria, não queriam comprar as terras que já tinham sido doadas a eles. Por essa atitude, muitos colonos sofreram violências e foram ameaçados de morte pelos empregados das companhias, conhecidos como jagunços.

Em reação à violência, os colonos contrataram pistoleiros para defendê-los. Estes ficaram conhecidos como “farrapos”. A guerra havia começado. Os primeiros choques armados entre os dois grupos foram inevitáveis. Até que, no dia 14 de setembro de 57, foi registrado o mais sangrento episódio de luta, que teve sete mortos, dois feridos e quatro desaparecidos.

A questão ganhou vulto nacional e internacional – os colonos ameaçados se refugiavam na Argentina -, até que foi enviada a Polícia Militar para restabelecer a ordem na região, que naquele momento já havia atingido todo o Sudoeste do Paraná. “Quando chegamos em um dos locais, percebemos que estávamos em menor número. Por isso, nós da Polícia Militar resolvemos não usar armas, tentamos resolver o problema através da comunicação. Seria um suicídio usar armas”, afirma João Miguel.

Após vários conflitos e discussões, foi criado em 1962, pelo presidente João Goulart, o Grupo Executivo de Terras para o Sudoeste do Paraná, que teve como função titular legalmente as terras que estavam causando a conflagração. Como resultado, os antigos posseiros, ou seja, os colonos, foram reconhecidos como os proprietários e a paz social voltou a reinar no Sudoeste do Paraná, pelo menos por algum tempo.

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