O líder nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, terá que explicar à CPI da Terra do Senado Federal suas declarações do último final de semana, quando disse que o MST iria “infernizar?? o governo em abril, aumentando o número de ocupações. Ontem, o presidente da CPI, o senador paranaense Alvaro Dias (PSDB), convocou Stédile para depor. O requerimento da CPI propõe a Stédile duas datas: 1.º de abril, às 10h, ou 6 de abril, às 13h30.
Além de Stédile, também foram convocados o representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), José dos Santos, e um representante da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que ainda será indicado pela entidade. O ouvidor agrário nacional, desembargador Gersino José da Silva, depôs ontem na CPI.
“É preciso saber o que ele (Stédile) quis dizer quando afirmou que vai pintar o país de vermelho e ?infernizar? o governo. Não podemos permitir a deflagração desse clima de conflito”, afirmou Dias.
Apesar de condenar as declarações, o senador disse acreditar que elas não configuram um grito de guerra. “São mais manifestações de inconformismo e desabafo do que uma ameaça real ao governo Lula”, salientou.
Em nota oficial, o MST informou que os 19 trabalhadores assassinados em 17 de abril de 1996, em Eldorado dos Carajás, serão homenageados pelo movimento com a instituição do mês Internacional de Luta pela Terra. Por isso, o MST está se mobilizando em todo País, para lembrar do ocorrido e pressionar o governo federal. “O movimento só está cobrando o que foi prometido pelo governo Lula, que é o assentamento de 530 mil famílias, em todo país”, diz a nota.
Para marcar a data, o MST do Paraná está preparando uma grande jornada entre os dias 12 e 16 de abril, em Curitiba. A estimativa é que 5 mil trabalhadores se reúnam para “uma semana de luta e debate sobre reforma agrária”.
CPI paranaense
No Paraná, também haverá uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os conflitos no campo e a distribuição da terra para a reforma agrária. A CPI da Reforma Agrária é presidida pelo deputado Élio Rusch (PFL).”Nossa primeira reunião será amanhã pela manhã. Aberta a todos. Vamos ouvir as pessoas envolvidas na questão e visitar acampamentos, assentamentos e ocupações para conhecer a realidade”, revelou. Rusch disse que a CPI tem quatro meses para ser concluída. Ele afirmou que a participação do MST em outras questões, como a dos transgênicos e do pedágio também poderá ser abordada pela CPI.
O secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, acredita que as cerca de 150 famílias que invadiram uma parte da fazenda da Araupel, em Rio Bonito do Iguaçu, saiam pacificamente da região. “Estamos num processo de negociação para que haja desocupação pacífica”, afirmou.
Os proprietários da terra devem entrar hoje com pedido judicial de transformação do interdito proibitório em reintegração de posse. O temor é que haja interdição da rodovia pela qual a matéria-prima chega ao setor de beneficiamento de madeira da empresa.
O MST manteve silêncio sobre a ocupação, mas o secretário disse que as informações são de que não teria sido articulada pela coordenação, mas partiu dos próprios acampados. A Polícia Militar permanece na região para garantir a segurança.
“Se matarem um, matamos 10”
São Paulo – O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Pernambuco, Jaime Amorim, ameçou ontem os donos de fazendas que decidirem pegar em armas para defender suas propriedades. Dizendo que o movimento pretende acelerar nos próximos dias a série de invasões em todo o País, Amorim informou que se algum segurança matar um sem-terra o movimento estará preparado para o revide. A declaração foi uma resposta ao presidente nacional da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antônio Naban Garcia, que teria recomendado aos ruralistas que contratassem segurança particular. “Se eles (os fazendeiros) matarem um, nós matamos dez deles”, disse o líder dos sem-terra.
Amorim, no entanto, assegurou que não espera conflito, uma vez que o movimento está respeitando decisões judiciais.
O coordenador disse que espera agora uma posição mais clara do governo para tentar resolver a situação dessas famílias. “Nós já começamos, agora falta o governo fazer a sua parte”, disse.
Amorim reiterou a estratégia de MST de tornar abril um mês de dezenas de invasões. Segundo ele, os primeiros passos nesse sentido começaram. Só em Pernambuco, 14 novos acampamentos surgiram neste último final de semana.
Reforma agrária terá mais R$ 1,7 bi até o final do ano
O governo federal vai liberar R$ 1,7 bilhão suplementar até o final do ano para garantir a meta do Ministério do Desenvolvimento Agrário de assentar 115 mil famílias no campo este ano. O anúncio foi feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se reuniu com ministros, no Palácio do Planalto, para discutir a execução orçamentária da reforma agrária.
Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto, Lula assegurou a integralidade dos recursos para a execução do Plano Nacional de Reforma Agrária. O ministério já tem garantido R$ 1,4 bilhão no orçamento deste ano, mas reivindicava suplementação de mais R$ 1,7 bilhão para cumprir a meta de assentamentos. “O governo vai suplementar e assegurar o ritmo orçamentário e financeiro para a execução de todas as nossas metas”, ressaltou Rosseto. Os recursos, segundo ele, serão liberados ao longo do ano.
Ameaça
Sobre a promessa do líder do MST, João Pedro Stédile, de “infernizar?? o País em abril com invasões, o ministro disse que não vê como uma ameaça. Abril é o primeiro de maio da luta da reforma agrária. É um período de intenso debate. Temos que respeitar os debates com as organizações”, afirmou o ministro.