Uma receita que nasceu da guerra e atravessou o oceano está refrescando curitibanos no Bom Retiro. A sorveteria de seu Mario Farina, na esquina das ruas Carlos Piolli e Angelo Zeni, existe há pouco mais de um ano. Mas a história dos gelados vendidos ali tem cerca de seis décadas, numa Europa praticamente destruída pelo confronto que abalou o mundo em meados do século passado.
A relação do sorvete com os Farina começou em Londres, por volta de 1955, com o bisavô de Mario. Na época, a família italiana vivia um período de exílio na Inglaterra, em busca de oportunidades melhores do que as oferecidas pelo país natal, completamente abalado após a derrota na Segunda Guerra Mundial.
Felipe Rosa |
---|
Seu Mario nasceu na Itália, mas veio pro Brasil ainda criança. Foi da terra natal que trouxe a receita dos gelados que comercializa. |
Mas logo a família retornaria, com o sorvete na bagagem, para a terra natal. “Quando as coisas melhoraram, eles voltaram pra casa, em Gallinaro, uma cidadezinha ao sul de Roma, e montaram sua ‘gelateria’. Eu nasci lá, mas vim para o Brasil aos 6 anos”, conta o sorveteiro “brasiliano”.
A receita e o negócio da família, porém, demoraram bem mais para atravessar o Atlântico. “Há uns 20 anos, fui visitar os meus primos e redescobri o negócio. Lá, eles fazem bolos, tortas e todo tipo de doce com sorvete. E vendem nas ruas, naquelas vans que ficam circulando pelos bairros. Eu saía com eles nos carros e peguei gosto pela coisa”, diz Mario.
Só que a ideia de montar uma sorveteria no Brasil demorou mais duas décadas para sair do papel. “Em 2011, vendi minha empresa que importava ferramentas eletrônicas da China e voltei para Itália”. Dessa vez, Mario ficou três meses por lá, estudando de perto a atividade dos primos sorveteiros. “Peguei o jeitão deles e adaptei. Queria montar uma van, mas a prefeitura não permite”, revela.
Felipe Rosa |
---|
Apesar dos ingredientes refinados, preço é bastante acessível: R$ 3 a R$ 3,30 a bola. |
De todas essas idas e vindas, surgiu a sorveteria Don Farina, em novembro de 2011. “Antes disso, eu nunca tinha feito sorvete. Só tomava. Mas consegui pegar o jeito e oferecer uma receita diferenciada, sem gordura trans, com o mínimo de açúcar, creme importado e, quando possível, de baixa caloria”, afirma o proprietário.
Alternativa pro inverno
Outro diferencial da sorveteria é o preço. Enquanto as casas que servem um produto similar cobram até R$ 8 por uma bola, seu Mario mantém o preço de seu sorvete a R$ 3 – ou R$ 3,30 no cascão. “O problema de Curitiba é que o frio e a chuva atrapalham. Aqui pouca gente toma sorvete quando a temperatura cai. Tem que estar acima de 24º e com sol”, constata.
Para não ficar no prejuízo no inverno, Mario começou a pouco tempo a vender massas. “Outro negócio que a família tem há mais de 50 anos”, garante. E para deixar o negócio ainda mais internacional, a próxima novidade deve vir da França. “Meus filhos moram em Paris e estão estudando uma receita de macaron, que eu pretendo fazer recheado com o produto da casa. Afinal, como diz um freguês, as maiores descobertas da humanidade são o fogo, a roda e o sorvete”.
Felipe Rosa |
---|
Massas complementam a renda de Mario no inverno. |