O governador Roberto Requião suspendeu ontem o sorteio e a venda das cartelas da loteria Totobola em todo o Paraná, até que fique pronta a perícia que está sendo realizada pelo Instituto de Criminalística da Polícia Cívil. Ontem, peritos estiveram no local onde ocorre o sorteio e fizeram os primeiros estudos. Segundo o delegado do Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), Sérgio Inácio Sirino, tecnicamente existe a possibilidade de fraude. Mas devido à complexidade do equipamento, só uma investigação mais aprofundada pode apurar se houve crime. O processo de licitação da empresa também será investigado.

Devido aos indícios de irregularidades, o governador resolveu suspender o jogo na tarde de ontem. No entanto, por enquanto, são considerados válidos os sorteios realizados até a última segunda-feira. “Vamos solucionar o problema da jogatina no Paraná de uma vez por todas”, disse o governador. As investigações começaram há 20 dias, depois de uma denúncia de Carlos Rodolfo Zicavo, ex-sócio da empresa responsável pelo Totobola, a Komac – Administradora de Eventos Ltda. Segundo ele, o software que controla os sorteios permite a escolha dos resultados. Na segunda-feira, os equipamentos foram lacrados no estúdio alugado para a gravação do sorteio.

Segundo o delegado, a perícia realizada ontem não foi conclusiva e vai exigir mais estudos. O resultado é que vai determinar o rumo das investigações. “É a prova técnica que precisamos para dar continuidade às apurações”, disse. Mas ainda não existe prazo para que fiquem prontos. Por enquanto, a máquina e o software continuam lacrados no estúdio.

Depoimento

A gerente administrativa da Komac, Janine Thiesn, prestou depoimento ontem. Nos próximos dias a polícia deve ouvir funcionários do Serviço de Loteria do Paraná (Serlopar) e também da empresa que faz a auditoria nos sorteios. O Estado não localizou o diretor-presidente do Serlopar, Mário Lobo, para falar sobre o assunto. “A recomendação do governador e do secretário da Segurança Pública é investigar um crime e quem for que estiver envolvido nele”, afirmou o delegado. A polícia também já enviou carta precatória para o Rio Grande do Sul, onde mora o ex-sócio, mas ainda não conseguiu localizá-lo. Ele está em viagem na Argentina.

De acordo com o ex-sócio a fraude seria possível através do código de barras que existe em cada uma das bolas numeradas. Um sensor da bingueira poderia selecionar a bolinha escolhida pelo software. Além disso, o fato de o sorteio ser gravado com cinco horas de antecedência à divulgação também levanta suspeitas. Nesse meio-tempo, a cartela premiada poderia ser identificada, tirada de circulação ou comprada por algum laranja. Segundo Rodolfo, o atual proprietário do Totobola, Mário Charles, teria embolsado R$ 500 mil, que deveriam ser entregue s a ganhadores.

Janine nega a possibilidade de fraude pelo fato de o sorteio ser realizada horas antes da divulgação. Segundo ela, antes do sorteio, são verificadas quais cartelas foram vendidas e as que sobraram. As informações são enviadas para o Serlopar. Após o sorteio, um auditor verifica se tudo está correto. Para ela, a denúncia do ex-sócio foi motivada por brigas internas. Rodolfo não teria concordado com o valor pago a ele para deixar a sociedade. A Komac teria concessão para operar o Totobola por mais três anos e meio.

A Komac atua desde 1997 no Brasil (Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais). Começou as atividades no Paraná em 2002. Segundo Janine, o faturamento na empresa em 2003 foi de R$ 8,759 milhões, mas as despesas teriam sido em torno de R$ 9,8 milhões. Por semana, são colocadas a venda cerca de 300 mil cartelas. 7% do que é arrecadado vai para o governo do estado, 4,9% para o Iasp, 2,1% para o Serlopar, 33% fica para o Totobola, 10% para a mídia, 10% para as loterias e 40% para o prêmio. No último sorteio, realizado na segunda-feira, foram vendidas 292.734 das 400 mil cartelas colocadas à venda.

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