Sono na estrada acaba em morte

Pelo menos 30% das cerca de 50 mil mortes no trânsito do Brasil acontecem devido à sonolência. A revelação faz parte de um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifest). Esses entre outros temas relacionados ao sono serão discutidos em novembro, no X Congresso Brasileiro de Sono em Curitiba.

?Para quem está acostumado tocar direto um dia e uma noite é rotina, mas que dá sono, dá?, confirma o motorista de caminhão, Nilson Dolci. Ele confessa que já enfrentou jornadas de longas horas no volante para entregar a carga no prazo.

?Esses acidentes são bem mais freqüentes do que a gente imagina. É a segunda causa de acidentes, depois do álcool. A gente escuta as campanhas dizendo não beba antes de dirigir, mas ninguém fala durma bem e dirija. O sono também diminui reflexo e concentração?, explica a psiquiatra, neurofisiologista e presidente do congresso, Gisele Minhoto.

Segundo a médica, o ideal seria que a cada uma hora e meia ou duas horas, o motorista parasse para descansar, porque nesse tempo a fadiga já aparece. ?O problema dos motoristas é que eles trabalham em turnos e não fixam um único horário. Além disso têm uma vida sedentária e se alimentam mal, na beira da estrada. Os motorista de caminhão, principalmente, ainda têm a pressão do tempo?, afirma.

?Já aconteceu de cochilar no volante. Já fiz 1.500 quilômetros direto com carga e horário para entrega. Um dia inteiro e uma noite a gente ainda agüenta, mas passou disso complica?, admite o motorista Nilson Dolci. Ele conta que dorme muito bem quando está em casa, mas quando tem carga para entregar passa até 15 dias na estrada. A dura rotina já dura seis anos. Além disso, o caminhoneiro admite que não faz exercício e que ?60% do que se come na beira da estrada é péssimo, principalmente os salgados?, revela.

Para tentar enganar o sono e seguir viagem, além do conhecido ?rebite? (comprimidos para não dormir), existem outras estratégias. ?Cigarro e café, direto. Tem hora para chegar, a gente não pode parar. No final do destino a gente chega até azedo?, explica Nilson.

A médica Gisele Minhoto diz que estes hábitos são danosos para o organismo. ?O organismo continua cansado, mesmo com os estimulantes. Quando passa o efeito eles caem. Aí pode acontecer o acidente, que geralmente ocorre no amanhecer?, relata. O motorista Nilson Dolci, que usa destes expedientes para cumprir os prazos, confirma que já viu muitos casos assim. ?É comum ver acidentes causados porque os motoristas dormiram no volante?,confirma.

Apnéia perturba descanso

Não são somente os motoristas que sofrem desse mal. ?Muitas vezes as pessoas acham que dormem bem, mas não têm uma boa qualidade de sono?, alerta Gisele Minhoto.

Entre as principais doenças relacionadas ao sono estão a apinéia que, como explica a médica, são pequenas paradas respiratórias – no mínimo cinco, por hora. ?Essas paradas a pessoa pode nem se dar conta, mas fazem uma interrupção no sono?, explica. Outro problema são os movimentos periódicos de perna. ?São pequenos abalos de pernas com freqüência determinada, durante toda a noite. A pessoa também chega a despertar?, explica.

Durante o congresso, além das palestras e mesas redondas com profissionais de diversas áreas da saúde, uma palestra será aberta à população, no dia 13 de novembro. ?Freqüentemente as pessoas têm, mas não se dão conta. O sono ruim pode trazer as complicações do acidente e outras como derrame e até depressão. Além de diminuir produtividade, trazer irritabilidade. É uma medida de saúde pública. Não precisa remédio e nem tratamento se houver conscientização?, afirma a médica.

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