O sonho de gerar um filho é problema para cerca de 15% da população mundial. Desse total, em 10% dos casos não é possível identificar as causas, e em 90% os problemas estão divididos entre homens com má-formação de espermatozóides e mulheres com dificuldade de ovulação. A medicina reprodutiva tem sido a solução para uma parte representativa dessa população, mas o acesso ainda é muito restrito em função dos altos custos.
Há seis anos, a dona-de-casa Zanete Rosa Schneider iniciou um tratamento para engravidar. Depois de uma investigação detalhada, descobriu que tinha problemas na formação de tecidos do útero, e somente teria chances de gerar um filho por processo artificial. Entre exames, medicamentos e tratamento já gastou cerca de R$ 6 mil. Zanete comenta que chegou a vender uma moto para investir na tentativa, mas até agora não teve sucesso.
O mesmo drama vive o casal Jane e Osni Alves, que há oito anos tenta ter um filho. Durante esse período tiveram que interromper o tratamento várias vezes por falta de dinheiro. Osni conta que familiares ajudaram no pagamento, mas mesmo assim, não conseguiram esgotar as possibilidades pela questão financeira. O investimento já passou de R$ 4 mil, e apenas as consultas iniciais foram cobertas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Para o médico do Centro de Reprodução Humana Embryo, César Augusto Cornel, é preciso uma sensibilização maior por parte do governo para esses pacientes, que vivem uma expectativa muitas vezes frustradas pela questão econômica. “Os sistema públicos de saúde investem mais na contraconcepção, e não estão sensíveis para o outro lado da questão”, disse. Ele comentou que Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul estão disponibilizando parte do tratamento de reprodução, o que vem dando oportunidade para que mais pessoas tenham acesso as tecnologias disponíveis.
Crescente
De acordo com a bióloga Ana Lectícia Mansur, um casal sem problemas tem cerca de 20% de chances de engravidar por mês. Já em uma tentativa artificial – como a inseminação intra-uterina, transferência intra tubária de gametas ou fertilização in vitro ? as chances são de cerca de 30%. “Mas esse índice varia muito de acordo com o tratamento e condições do paciente”, disse a bióloga, acrescentando que as possibilidades caem para 25% quando as mulheres têm mais de 38 anos.
Segundo a bióloga Elisangela Böhme, o índice mundial de pessoas com dificuldade de reprodução vem aumentando, mas a questão ainda continua desconhecida pela maioria da população. Isso vem acontecendo porque as mulheres estão protelando a gravidez devido à carreira. Além disso, a fertilidade vem diminuindo devido ao comportamento, como exposição excessiva ao sol, e consumo de álcool e outras drogas.