Desde que o Centro de Ação Voluntária de Curitiba foi criado, em 1999, cinco mil pessoas foram encaminhadas para ajudar em instituições e mais de 7 mil participaram de palestras. A maioria são mulheres, com idade entre 30 e 40 anos e que trabalham fora.
Mas enquanto algumas entidades estão precisando com urgência de voluntários outras tem até fila de espera, no Pequeno Cotolengo apenas 40 pessoas colaboram enquanto o Hospital Erasto Gaetner tem ajuda de 300 pessoas e conta ainda com uma lista de espera com 100 candidatos.
Essa situação acontece porque o voluntariado depende da vontade e da aptidão de cada um para as atividades. No caso do Cotolengo não são muitas pessoas que tem estrutura para trabalhar com os internos.
O Centro de Ação Voluntária tem 140 instituições cadastradas e está oferecendo mais de cem atividades diferentes, nas áreas de cultura, saúde, educação e meio-ambiente, entre outras. As entidades mandam um perfil do voluntário que precisam e a informação é casada com a vontade dos candidatos, que são encaminhados às instituições. Lá passam por um período de adaptação, se não der certo podem voltar e escolher outra atividade.
De acordo com a assistente administrativa Maria de Lourdes Peixoto Drabik, o trabalho voluntário exige muito comprometimento. “A pessoas que está esperando a ajuda é carente, se o voluntário falta ela vai se sentir mais rejeitada ainda”, explica.
Por isto o Centro realiza palestras onde aborda o tema “voluntariado com responsabilidade”. A próxima palestra será no dia 7 de outubro, às 10h30 no auditório da Biblioteca Pública do Paraná. Os interessados em ajudar alguma instituição podem ligar para 322-8076.
O difícil trabalho de dar carinho
O Pequeno Cotolengo do Paraná existe desde 1965 e atende 236 pessoas portadoras de necessidades especiais. Todos moram no local, o mais novo tem 2 anos de idade e o mais velho cerca de 70 anos. A maioria é altamente dependente para as mais diversas atividades, sendo que boa parte usa cadeiras de rodas. Muitos foram abandonados pela família e já vivem lá mais de 30 anos. Outros, vez por outra, são lembrados por familiares.
A entidade sobrevive de doações e da arrecadação do tradicional churrasco organizado por 280 voluntários, uma vez por mês. Mas o voluntariado se estende ainda para a lavanderia, costura e a recreação com as crianças. A coordenadora dos voluntários, kênia Maria Scatolin, explica que o grande benefício para os internos, chamados de crianças independente da idade, é o carinho que recebem. “Mesmo com a atenção de médicos, pedagogos, fisioterapeutas, entre outros, eles precisam de alguém que passeie, converse e brinque com eles”, explica. Mas a rotatividade na casa é grande, muitos começam a trabalhar e depois desistem devido o grau de comprometimento das “crianças”.
Há mais seis ajudando na lavanderia e 15 na costura. É justamente entre os tecidos, agulhas e linhas que encontramos uma das mais antigas voluntárias que trabalham lá. Juanita Drapalski, 60 anos, se dedica a outras pessoas desde que tinha 31 anos de idade. Pela manhã cuida da casa e à tarde divide o tempo entre três entidades: Cotolengo, Hospital de Clínicas e Paróquia Santa Catarina. “Eu parei por um tempo depois que perdi um dos meus filhos, mas se não voltasse ficaria louca. Não sei mais viver sem isso”, garante. Juanita, neste longo tempo, também acabou perdendo os outros dois filhos, mas afirma que o voluntariado para ela não é uma fuga, tem um significado maior.
Erasto Gaertner, história de dedicação
O Hospital Erasto Gaetner surgiu devido o trabalho de voluntários. O médico, que tem o mesmo nome do hospital, pensou em criar apenas uma casa para as pessoas que vinham tratar o câncer em Curitiba. Depois da morte dele a esposa Anita Merhy Gaetner levou a idéia adiante, deu tão certo que a instituição virou referencia no tratamento da doença.
Só na Capital quase 300 pessoas colaboram com a instituição, divididas em 16 setores. No interior há vinte regionais com mais 450 voluntários. Ao contrário do Cotolengo, eles têm até uma fila de espera para ajudar. A neta dos fundadores, Maria Cecília Gaetner Lacerda Pinto, diz que a credibilidade da instituição colabora para isto.
Não é difícil encontrar histórias comoventes envolvendo voluntários e pacientes do hospital. Uma delas é Tereza de Lima Correia, ou Terezinha. Ela começou a fazer parte do quadro de ajudantes em 1991, depois de passar por 23 cirurgias e três comas, devido o câncer. Dentro do hospital, começou um trabalho muito especial: dar recados dos doentes para os familiares que estavam impossibilitados de chegar até o telefone, recados de pais, mães, filhos e até namorados. “Não sei quantos eu te amo, e quantos beijos e abraços já mandei para gente que nem conheço”, diz.
Terezinha lembra uma situação que a emociona até hoje. Ela conta que havia no hospital um senhor muito doente. Ele era caminhoneiro e às vezes ficava até três meses sem voltar para casa, ver a mulher e os três filhos. Certa vez, resolveu não voltar mais, arranjou outra mulher e teve mais três filhos. No hospital, o passado não dava sossego e resolveu pedir ajuda. Em pouco tempo Terezinha já havia localizado a família dele. No início, os filhos não queriam se aproximar, mas uma das noras resolveu visitá-lo e acabou convencendo o marido. Aos poucos as duas família se reuniram. “Não esperava que o meu trabalho iria alcançar tanto resultado”, se emociona.
Pelo seu trabalho recebeu um prêmio nacional, promovido pelo Ministério da Saúde no ano passado. Duas histórias foram publicadas no livro lançado durante o evento.
Réus com dependência terão apoio
Elizângela Wroniski
Mais de 75% das pessoas que cometem crimes têm algum tipo de ligação com álcool ou entorpecentes. Grande parte deles volta a cometer delitos motivado pela dependência química. Para reverter a situação o Ministério Público do Paraná, em parceria com a Secretaria Estadual de Segurança Pública, vão prestar atendimento especializado a réus que tenham este perfil e que estejam cumprindo penas alternativas ou que saíram de prisões e estão em liberdade condicional.
A promotora de Justiça Maria Espéria Costa Moura fala que é comum os réus que cumprem penas alternativas e que tem seu processo suspenso, voltar a praticar o crime e os entorpecentes, muitas vezes, são os grandes vilões. Nesta situação, o processo é reativado e o caso volta a seguir o curso normal, mas o réu passa a responder também pelo novo delito. “Muitas vezes ele quer se reabilitar, mas a dependência química não deixa”, explica.
A promotora conta que o Núcleo de Orientação e Atendimento a Dependentes Químicos (Noad) vai começar a funcionar em outubro. Maria Espéria reforça que sem as drogas a recuperação das pessoas é mais garantida. Ela conta que esta semana ocorreu o caso de um jovem que estava fazendo um curso profissionalizante, mas ele estava sentindo muita dificuldade para aprender, os entorpecentes prejudicam o sistema nervoso.
Os dependentes vão ter assistência psicológica e médica quando necessário. Equipes formadas por voluntários, ongs e o outras instituições vão realizar o trabalho.Entidades e voluntários que quiserem colaborar com o projeto podem entrar em contato com a coordenadora Cleía Oliveira pelos telefones (41)324-2370 e (41) 324-9272.