Cid Cordeiro, supervisor técnico do Dieese. |
Foi-se o tempo em que o grau de escolaridade era a garantia de um lugar ao sol no concorrido mercado de trabalho. Com o ínfimo crescimento da economia brasileira, milhares de jovens – mesmo com o “canudo” em mãos – têm encontrado dificuldades em obter um emprego. As empresas, cientes de que a oferta de mão-de-obra é grande, acabam se tornando mais exigentes. Em alguns casos, até para conseguir um estágio é preciso que o candidato apresente experiência profissional.
“O grau de escolaridade não garante emprego, não é a segurança de entrar no mercado de trabalho”, sentencia o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócios Econômicos (Dieese-PR), economista Cid Cordeiro. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Penad), realizada pelo IBGE, mostram que em 2002, dos 369 mil desempregados no Paraná, cerca de 16,8 mil (4,55%) tinham quinze anos de estudos ou mais – o que significa que tinham, no mínimo, ensino superior.
“É um índice muito alto. Temos um País crescendo pouco, e o nível de tecnologia é baixo. Nesse cenário, as ocupações que mais abrem vagas são aquelas com baixa qualificação”, analisa, acrescentando que muitas pessoas com ensino superior acabam indo para o segmento de autônomos – mercado informal.
Pré-requisitos
Outro dado que chama a atenção é que, em 2003, 50% dos jovens de 10 a 17 anos – a legislação permite o trabalho a partir dos 16 anos de idade, mas muitos começam a trabalhar antes disso – da População Econômica Ativa (PEA) estava desempregada. Na faixa de 18 a 24 anos, o índice de desemprego era de 30%. “As empresas exigem pré-requisitos como grau de escolaridade, experiência profissional e conhecimentos técnicos. O problema é que quando as empresas fazem tais exigências, o jovem se torna um forte candidato a estar excluído da seleção, pois todos esses conhecimentos ainda estão sendo adquiridos”, explica. Conforme os dados de 2003, a taxa de desemprego cai à medida que a faixa etária aumenta: 16% entre pessoas de 29 a 39 anos, 13,5% na faixa entre 40 e 59 anos e 8,7% entre a população de 60 anos ou mais.
O economista também criticou a atitude de algumas empresas, que exigem experiência profissional ao candidato a estágio. “O estágio tem que formar mão-de-obra e, quando as empresas solicitam experiência, é porque o estagiário estará atuando como funcionário, mas com uma remuneração menor”, arrematou.
Estágio bem aproveitado pode garantir uma vaga
O primeiro emprego a gente nunca esquece. Principalmente quando ele é decorrente de um bom aproveitamento de um estágio. É o caso de Paulino Ubirajara Karam Filho, 20, que vai se formar no final do ano em Análise de Sistemas pela PUCPR.
Antes mesmo da colação de grau, ele já está com lugar garantido no mercado de trabalho: há seis meses foi efetivado na empresa de telefonia GVT, onde entrou como estagiário em maio de 2002. “Fiz segundo grau técnico e já fazia estágio desde aquela época, com 15 ou 16 anos. Isso abriu algumas oportunidades para mim”, revela. Sobre a concorrência no mercado de trabalho, especialmente entre os recém-formados, Paulino acredita que é possível vencer. “O mercado é concorrido, mas se você tem preparo, consegue um bom emprego, ser promovido”, afirma.
O administrador de empresas Maurício Campos Franzoni, 22 anos, formado pela FAE desde o final do ano passado também soube aproveitar a oportunidade do estágio. Antes mesmo de concluir o curso, foi efetivado na mesma companhia telefônica.
“Sair da faculdade só com o canudo, sem experiência profissional, dificulta ainda mais a obtenção de um emprego”, diz Maurício, acrescentando que o estágio serve ainda para direcionar o universitário para essa ou aquela área. “O interessante é fazer vários estágios durante a faculdade, até mesmo para saber em que segmento quer atuar”, aconselha. Antes de ser efetivado em seu primeiro emprego, Maurício conta que passou por três estágios.
Fila de espera no Ciee é grande
Cerca de 80 mil estudantes aguardam na fila do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), no Paraná, à espera de uma vaga para estágio. São estudantes dos ensinos médio e superior, que pretendem adquirir experiência profissional, mas que vêm encontrando dificuldades mesmo antes de ingressar no mercado formal.
“Não existem oportunidades. Os próprios escritórios, que deveriam ajudar a formar profissionais, exigem experiência”, desabafa Ernani Antonio Trevisan, 30, aluno do último ano de Direito. Ele conta que já fez dois estágios, mas que ainda não tem experiência em Fórum, andamentos de processos. “É algo que me preocupa muito”, diz Ernani.
Eduardo José Ladeia, 19, aluno do 2.º ano de Engenharia de Produção Civil, também reclama da atitude de certas empresas. “Algumas querem experiência, e quem tem o curso técnico acaba tendo mais oportunidade”, diz. Para ele, fazer um estágio logo no começo da faculdade aumenta as chances de vir a ser efetuado mais tarde.
Para a estudante de Marketing Silvana Travassos Antunes, 26, além da questão da experiência, outro problema é o fato de as empresas oferecerem vagas que não são exatamente para estágios. “Já fiz três entrevistas, e recusei a vaga em todas elas porque eu acabaria desempenhando uma função que não teria nada a ver com o curso”, diz. Segundo ela, outro fator que pesa é a bolsa-auxílio. “Se for um estágio bom, com oportunidades, até me submeto a ganhar um valor menor. Senão, nada feito.” Silvana está na fila há quatro meses.
Daiane Petry, 19, aluna do 3.º ano de Administração de Empresa, também reclama da falta de vagas. “Mesmo para estágio, é muito concorrido. As empresas exigem conhecimentos de informática avançada e inglês intermediário”, diz. A bolsa-auxílio, segundo ela, varia entre R$ 400 e R$ 800. “É um valor razoável”, opina.
Primeira experiência
De acordo com o presidente do Ciee-PR, Fernando Fontana, 95% das ofertas de estágio são para os dois últimos anos do curso superior. “O estágio é a primeira experiência profissional, que deve abrir a porta do primeiro emprego”, diz, acrescentando que o aperfeiçoamento pessoal em áreas onde realmente existem bolsões de crescimento – como é o caso de agronegócios – facilita a colocação no mercado. O Ciee-PR tem 7 mil empresas (unidades) conveniadas e quase 30 mil estagiários atuando. O Centro presta até 800 atendimentos por dia.