Quem vive em Curitiba já se acostumou a enfrentar alagamentos em trechos próximos ao Rio Ivo, ao Rio Água Verde e principalmente por onde passa o Canal Belém, que corta o centro da cidade. São vias muito acessadas, como Avenida Iguaçu, a Linha Verde, a Visconde de Guarapuava e a Visconde de Nácar. Exemplos não faltam. E nessa época, em que as chuvas chegam sem avisar e trazem um grande volume de água, o sistema de drenagem da cidade não dá conta e o resultado é o centro da cidade debaixo d’água.
“Os centros urbanos possuem baixíssima impermeabilidade do solo, pois são zonas inteiramente construídas onde a água deve ser escoada para os bueiros. Essas estruturas foram projetadas há muitas décadas e hoje observamos um efeito de extremos, com secas mais fortes e chuvas mais intensas”, avalia o professor do curso de arquitetura e urbanismo da PUC, Carlos Hardt.
Para enfrentar a situação, a Secretaria Municipal de Obras está investindo em mapear a rede de drenagem existente. “Os córregos de Curitiba foram canalizados praticamente há cinco décadas e estão localizados em áreas construídas. Essas galerias realmente não comportam chuvas atípicas. Mas hoje contamos com cinco equipes de manutenção constante para a verificação dessa estrutura”, explica o secretário municipal de obras públicas, Sérgio Luiz Antoniasse. Segundo ele, existem pontos que precisam ser estudados, pois ainda não há informação.
Bacias pro Belém
A falta de informação sobre a rede de drenagem da cidade tem sido atrasado para que mais intervenções ocorram. “Hoje, apenas inspecionamos parte desta rede. Por conta de canais muito antigos, precisamos programar esse levantamento. Se contribuem, ou até o que pode ser feito. Apenas conseguimos agir após um levantamento, que nunca foi realizado”, afirma Antoniasse.
Projetos
A bacia do Belém é a que mais influência nos alagamentos no Centro. Para acabar com isso, e sem poder alterar a estrutura já existente, a prefeitura aposta na criação de novas bacias como solução. “Atualmente temos três projetos contratados, que já atuam na bacia do Belém, na região do Parolin. Além disso, temos 13 projetos que aguardam aprovação. Esses projetos visam a criação de novas bacias de detenção, que servirão para desafogar a bacia do Belém”, explica. Segundo o secretário, a verba de R$ 330 milhões para esses projetos, que ainda estão sendo contratados, é garantida pelo PAC da Drenagem e PAC Gestão de Riscos.
Diferente das bacias de retenção, que acumulam água, as bacias de detenção, previstas para reduzir o impacto das pancadas de chuva, servem para absorver esse volume excessivo de água. Mesmo sem áreas definidas, a proposta é de que grandes áreas com terra ou grama façam esse trabalho, além de servir como local de recreação.
Ruas se transformam em verdadeiros rios. |
Locais de maior risco
Um dos pontos mais problemáticos está na esquina das ruas Carlos de Carvalho e Visconde de Nácar. O local sofre com a cheia da galeria F,ernando Moreira, responsável por canalizar o curso do Rio Ivo. Lá, o volume de água provocou uma morte em 2010, quando um morador de rua caiu no vão da galeria durante a chuva e se afogou. No traçado próximo à Avenida Visconde de Guarapuava, por onde o Rio Água Verde corre no subterrâneo, os alagamentos também têm sido frequentes, principalmente no cruzamento com a João Negrão.
Outro drama está nas ruas que ligam o Água Verde e Rebouças. As ruas Desembargador Westhphalen, Alferes Poli, Nunes Machado, nas proximidades com a Rua Getúlio Vargas, sempre têm pontos de alagamentos em que carros não conseguem transitar. Foi assim no na última chuva forte, em outubro. No mesmo dia, a água tomou conta do cruzamento da Iguaçu e Arthur Bernardes.
Continua!
Por conta do El Niño, que este ano é considerado um dos mais fortes já registrados, a primavera e o verão reservam chuvas ainda mais intensas. Em outubro, foram 216 milímetros de chuva. O valor superou a média histórica de precipitação do mês, que era de 140 milímetros. Para meteorologistas do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), a previsão é de que até fevereiro chuvas fortes surjam com mais intensidade. “Tivemos períodos de forte estiagem no inverno e outono. Durante a primavera e o verão já observamos chuvas mais pesadas”, alerta o meteorologista do Simepar Samuel Braun.