A síndrome de Down é alvo de diversas campanhas de conscientização e até foi tema de novela. Mas isso ainda não foi suficiente para acabar com as diversas barreiras que as pessoas com essa deficiência precisam enfrentar todos os dias. Mais uma tentativa para reverter a situação aconteceu ontem, durante as comemorações do Dia Internacional da síndrome de Down.
Mostrar a cara das pessoas com Down foi um dos objetivos da exposição fotográfica ?Pelo Jeito de Cada Um?, promovida ontem na Boca Maldita, centro de Curitiba, pela Associação Reviver Down. As imagens revelavam que, apesar da síndrome, as pessoas fazem atividades normais do dia a dia e têm capacidade para muito mais.
Segundo a vice-presidente da Associação e chefe do ambulatório de síndrome de Down do Hospital de Clínicas (HC), Noemia Silva Cavalheiro, as barreiras ainda existem, principalmente na educação. As pessoas com Down podem estudar em instituições regulares, mas muitas não aceitam alunos especiais. ?As pessoas com Down podem ir bem na escola, desde que a mesma dê apoio. As escolas precisam aceitar estes alunos. Os professores precisam acreditar que eles têm capacidade. Vão demorar mais, mas aprendem?, afirma.
Para Noemia, a situação poderia mudar se houvesse uma regulamentação sobre a inclusão dos estudantes com Down nas escolas regulares. Atualmente, cabe a cada colégio a decisão de aceitar o aluno ou não. No mercado de trabalho, o cenário não é muito diferente, apesar da lei das cotas para deficientes. A Associação Reviver Down está formulando um projeto para preparar a pessoa com Down dentro do próprio ambiente de trabalho, ao contrário do que acontece hoje.
Apesar disso, o acompanhamento das pessoas com Down vem evoluindo. A família é envolvida em todo o processo de estimulação desde o início. ?Além disso, hoje os diagnósticos são mais precoces e o encaminhamento para tratamento das patologias associadas também acontece mais cedo?, explica a pediatra Nanci Palmieri de Oliveira, do ambulatório de síndrome de Down do HC. De acordo com ela, também ajuda muito a existência de um espaço como o que ela trabalha, com toda a estrutura necessária para acompanhar o crescimento da criança com Down.
Carlos Eduardo da Silva Cavalheiro e Mariana Palmieri de Oliveira são filhos de Noemia e Nanci, respectivamente. Os dois são namorados e compartilham sonhos. Carlos Eduardo estuda e trabalha em uma escola regular. ?Meu sonho é ser professor, para passar o que eu aprendi para outras crianças com síndrome de Down?, diz. Mariana freqüenta um colégio para educação de jovens e adultos e está se preparando para entrar no mercado de trabalho. Enquanto isso, ela pinta quadros, que ficaram expostos ontem na Boca Maldita.
A síndrome de Down é a alteração genética mais freqüente em seres humanos, com registro de um caso entre 800 nascidos vivos. Essa mudança acontece com a presença de um cromossomo 21 extra, sendo esse responsável pelas características físicas e cognitivas da síndrome.