Apesar do Legislativo municipal já indicar uma possível mudança na lei, Urbs e Sindicato das Empresas de Transporte Urbano e Metropolitano de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp) adotam discurso cauteloso sobre uma possível extinção da função de cobrador de ônibus. Roberto Gregório, presidente da Urbs, afirma que o órgão municipal não tem como prioridade extinguir a função de cobrador. “Hoje, nosso objetivo é ampliar cada vez mais o uso do cartão transporte em nosso sistema. Até porque não podemos trabalhar nesse sentido, pois existe a lei municipal que torna obrigatória a presença de cobradores nas estações-tubo, terminais e ônibus da capital”, afirma.
Ele revela que até o final do ano será lançado também o cartão pré-pago descartável. A Urbs também estuda a adoção de tarifas diferenciadas, com desconto, para quem utiliza o cartão transporte. Nas linhas urbanas de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, esse sistema já é adotado. Quem tem o cartão VEM (Vale Eletrônico Municipal) paga R$ 2,70 – R$ 0,40 a menos do que quem paga em dinheiro. Na cidade, 70% dos usuários já aderiram ao cartão. Já a RIT registra, em média, 1,1 milhão de passageiros pagantes por dia. Destes, em torno de 55% utilizam o cartão transporte.
Também cauteloso, Maurício Gulin, vice-presidente do Setransp, afirma que é cedo para determinar se a função de cobrador é necessária ou não. “O pagamento exclusivo com cartão começou a valer faz poucos dias e em micro-ônibus que já não contavam com cobrador, então ainda é preciso de um tempo maior para avaliar todos os aspectos da medida. Independentemente de qualquer cenário, isso não significa a demissão dos nossos colaboradores, uma vez que eles serão requalificados para outras demandas que certamente irão surgir. Por enquanto, o objetivo é fazer com que o transporte público funcione normalmente para os usuários”, explica.
“Absurdo”
Dino César Morais de Mattos, vice-presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de ânibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) disse à Tribuna que a categoria desaprova integralmente a proposição que retira a obrigatoriedade legal de cobradores nas estações-tubo, terminais de transporte e no interior dos ônibus. “Trata-se de uma proposta indecente, que só visa a posição das empresas. Hoje na RIT são 6 mil cobradores em atividade. Como vão demitir toda essas gente? Como vão recolocar todos esses trabalhadores no mercado de trabalho? Nenhuma tecnologia substitui integralmente o trabalho do ser humano. É um absurdo. Já estamos tomando todas as medidas necessárias para impedir que esse projeto siga em frente”, afirma. Protocolado no dia 16 de julho, o projeto aguarda análise da Comissão de Legislação, Justiça e Redação.
Campinas vive transição
No interior de São Paulo, Campinas, com cerca de 1 milhão de habitantes, passa por um período de transição. A partir de 1.º de outubro, as passagens deixarão de ser pagas em dinheiro nos ônibus. Segundo Carlos José Barreiro, secretário de Transportes e presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), a decisão foi tomada, principalmente, por questão de segurança. “Em 2013 foram registrados 329 furtos e roubos em ônibus. A média do 1.º semestre de 2014 é 34% maior que no mesmo período de 2013. O grau de violência também cresceu. Antigamente, se assaltava um ônibus usando um estilete. Hoje, todos usam armas de fogo”, aponta.
Atualmente, 80% dos usuários do sistema de transporte de Campinas utilizam o bilhete único, que continua existindo, garantindo integração no período de duas horas. Para os usuários avulsos, será disponibilizado o bilhete de viagem pré-carregado com uma ou suas viagens. “No caso do Bilhete 1 Viagem, paga-se uma passagem – R$ 3,30 – mais R$ 2,00. No caso do Bilhete 2 ,Viagens, paga-se duas passagens – R$ 6,60 – mais R$ 2,00. Esses R$ 2,00 poderão ser ressarcidos se o usuário devolver o bilhete”, explica.
A prefeitura criou o Programa de Aperfeiçoamento Profissional (PAP) para atender os 1.350 cobradores que foram afastados. “Vamos oferecer cursos gratuitos de motorista, eletricista, mecânico, entre outros. Essas funções são demandadas pelas empresas de ônibus, que sofrem com a falta de mão de obra nessas áreas”, garante.