Servidores públicos federais, vinculados à 14 entidades representativas, realizaram ontem uma paralisação de 24 horas como advertência ao governo federal. Os trabalhadores querem a valorização das carreiras e reajustes salariais. O alerta foi feito neste momento porque o governo só tem até o dia 30 de junho para conceder o aumento. Depois desta data, qualquer ação deste tipo é proibida pela legislação eleitoral.
Os funcionários públicos querem cobrar uma atitude do governo federal. Em Curitiba, as categorias não realizaram manifestações em conjunto, apenas atos isolados. Na frente da Delegacia Regional do Trabalho (DRT), no centro da capital, um carro de som explicava à população o porquê da paralisação. Os servidores administrativos da instituição ficam parados até hoje. Ontem, a paralisação de 24 horas foi empregada apenas pelos auditores fiscais do trabalho. ?Somente os funcionários terceirizados não aderiram à paralisação, temendo ser demitidos. Eles entraram no prédio, mas não trabalharam. O atendimento foi zero no período da manhã?, explica Luiz Felipe Bergmann, presidente da Associação dos Auditores Fiscais do Trabalho no Paraná. À tarde, os funcionários voltaram à ativa. ?Acreditamos que atingimos o nosso objetivo. Mas não está descartada uma nova paralisação na semana que vem. Tudo vai depender do sindicato nacional?, diz o sindicalista. A categoria reivindica a realização de concursos, o combate da corrupção no serviço público e reposição salarial de 55,88%, equivalente às perdas desde 1995.
A Receita Federal também teve seus trabalhos afetados pela paralisação de ontem. Somente foram aceitos os atendimentos de casos com prazos que venceriam ontem e que não poderiam ser postergados. Cerca de 700 auditores-fiscais da Receita de todo o País, fizeram um ato público em frente ao Ministério da Fazenda em Brasília.?O movimento quer promover a valorização dos servidores e a eliminação das distorções salariais entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Os técnicos e auditores da Receita já vinham negociando a reposição das perdas salariais há algum tempo e, mesmo assim, aderiram à paralisação?, afirma João Caputo e Oliveira, delegado sindical de Curitiba do Sindicato Nacional dos Técnicos da Receita Federal (Sindireceita).
De acordo com ele, o governo precisa tomar uma atitude logo porque o limite para a concessão de qualquer reajuste é o dia 30 de junho. Depois disso, aumentos só poderão ser negociados seis meses após a posse do novo presidente da República, em janeiro do ano que vem. ?Queremos que o governo defina logo?, conta Oliveira. As perdas da categoria chegam a 45% nos últimos dez anos. O sindicato propôs a reposição escalonada ao Ministério do Planejamento. Segundo o sindicalista, no final da tarde de terça-feira, as lideranças da categoria foram recebidas em Brasília. ?Não houve nenhum acordo, mas pelo menos nossas reivindicações foram ouvidas?, disse.
Persistência
As entidades representativas dos servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) também participaram do movimento, que será estendido por todo o dia de hoje. Além disso, os servidores da Previdência completaram ontem o segundo dia de paralisação. Eles pedem o cumprimento do acordo de greve feito no ano passado, quando a categoria ficou parada por 72 dias. Os funcionários da Previdência querem também melhores condições de salário, implantação do plano de cargos e carreira e a contratação de mais pessoas, para acabar com a sobrecarga de trabalho. ?Não queremos prejudicar a população. Pelo contrário, alertando o governo teremos melhores condições de atendimento?, disse o presidente do Sindiprevs, Nélson Malinoviski. Ele alerta para que as pessoas que ficaram sem atendimento hoje procurem o INSS só na segunda-feira, já que na sexta, em função dos dias de paralisação, o movimento nas agências será intenso.
Paralisação pode prejudicar negociação
Brasília (ABr) – O presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Valdir Moysés Simão, disse ontem que a greve dos funcionários é injustificada e pode prejudicar a negociação de parte do acordo estabelecido na greve de 2005. Em entrevista às emissoras da Rede Nacional de Rádio, ele garantiu que o acordo está sendo rigorosamente cumprido. ?Nós entendemos que o movimento não está respaldado pelo acordo de greve. Entendemos que houve um rompimento, sim, por parte do movimento, o que pode prejudicar o andamento das negociações?, rebateu Simão.
Segundo ele, desde janeiro os servidores estão recebendo o reajuste previsto no acordo assinado em 27 de setembro de 2005. O aumento foi concedido, de acordo com o presidente do INSS, por medida provisória editada em 2005 e já convertida em lei. Em relação ao plano de carreira dos servidores, Simão disse que o prazo para definição da proposta é 30 de junho. ?O plano de carreira, estamos rigorosamente em dia. Estamos fazendo reuniões constantes com o movimento para a elaboração?, informou.
De acordo com Simão, no primeiro dia de greve, a adesão foi maior principalmente no sul do País e em São Paulo, onde cerca de metade dos servidores aderiram ao movimento. No nordeste, a cidade de Recife (PE) teve a maior participação, com praticamente todas as agências fechadas. No Rio de Janeiro e Minas Gerais, a paralisação foi pequena. ?De uma forma geral, nossas unidades estão atendendo as perícias médicas agendadas porque os peritos não estão em greve e os servidores estão viabilizando esse atendimento?, disse Simão.