Servidores miram-se no espelho no dia da categoria

O Paraná comemora hoje o Dia do Servidor. São quase 190 mil funcionários públicos no Poder Executivo paranaense, entre ativos e aposentados. Gente que está há duas, três décadas; outros, há menos tempo. Nas secretarias, autarquias, departamentos e demais órgãos, são incontáveis os casos de funcionários, de todos os escalões, que têm história no Estado, desempenham papel importante e ajudaram e ajudam a implementar ações que buscam melhorar a vida da população paranaense.

O engenheiro civil José Rubel é um deles. Trabalha no governo desde 1980, quando ingressou na Coordenadoria da Região Metropolitana de Curitiba (Comec). Ou seja, há 24 anos – quase metade dos seus 52 anos de vida – tem como missão cuidar, coordenar ou colocar em prática projetos, programas e planos de desenvolvimento para a Grande Curitiba. “Acompanhei de perto o aumento populacional estrondoso da nossa Região Metropolitana. Nesse tempo que estou na Comec, 1 milhão de pessoas vieram morar em Curitiba e cidades vizinhas”, relembra.

Na avaliação dele, o salto no número de habitantes, o crescimento econômico, o agravamento de problemas sociais, tudo isso exigiu uma mudança do papel do Estado, da Comec. “O governo deixou de ser o único ator que intervinha no desenvolvimento da região, porque setores da sociedade (indústria, organizações não governamentais) emergiram. O estado deixa de ser o único executor, e passa a ser planejador, aquele que aponta caminhos, diretrizes”, compara.

Em mais de 20 anos dedicados ao serviço público, Rubel é daqueles funcionários que não se acomodaram. Pelo contrário, buscou se aperfeiçoar e aprofundar os conhecimentos, para melhor desempenhar suas tarefas.

Formado em Engenharia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), fez pós-graduação em Administração Pública em 1992, e há dois anos concluiu um mestrado também em Engenharia. Durante seis meses, em 1987, fez um estágio no Ministério de Transportes da França. “O grande aprendizado naquele estágio no governo francês, e que aplico aqui no estado, foi o constante controle de qualidade de todas as medidas, ações e projetos dos quais participo. Isso é uma preocupação sempre presente”, observa.

Outro que procura sempre fazer o melhor é o administrador de empresas Walter Gonçalves. Nas quase três décadas de dedicação ao serviço público, ele já trabalhou em diversas secretarias e exerceu diferentes funções.

Uma de suas realizações foi a informatização, no âmbito estadual, do Sistema Nacional de Empregos (Sine). Em 1998, Walter Gonçalves foi o responsável por implantar o cartão magnético no órgão. Com ele, o trabalhador cadastrado no sistema, para obter informações (vagas ofertadas no mercado de trabalho, por exemplo), passou a não precisar mais enfrentar filas para ser atendido. Basta consultar um terminal eletrônico.

Hoje ele ocupa a função de gerente de atendimento da Secretaria Especial de Corregedoria e Ouvidoria Geral (Seoge), onde coordenou, entre outras atividades, a implantação de um sistema de informática com programa livre de computador.

Dedicação aparece em todos os escalões

Ela não tem uma sala própria, mas ao mesmo tempo tem todas. A zeladora Margarida Grein, 59 anos, é responsável, junto com outras colegas, por fazer a limpeza das repartições do bloco 2 do Centro Administrativo Santa Cândida (Casc), onde está a Secretaria de Estado da Administração e da Previdência. “Gosto de fazer tudo da melhor maneira possível”, afirma ela, demonstrando seu perfil perfeccionista.

Margarida passa diariamente pelo gabinete da secretaria, pelo setor de Recursos Humanos, pelas salas que abrigam os departamentos jurídico, de transportes. Enfim, não há lugar no bloco 2 que ela não freqüente pelo menos uma vez por dia. “Às vezes acabo de sair de uma sala, mas aí me chamam para voltar porque alguém derrubou alguma coisa que sujou o chão ou a mesa. Volto e deixo tudo limpo”, assegura.

Há 13 anos que Margarida se tornou funcionária pública. E tem orgulho do trabalho e dos colegas: “É minha segunda família, afinal passo boa parte do meu dia na secretaria.”

Prestativo

O porteiro Vítor Teixeira, 63 anos, entrou no Estado na mesma época de Margarida. Como a zeladora, cativou os colegas da Secretaria da Administração pelo espírito prestativo com que atua. Não bastasse isso, é um artista: os desenhos que faz nas horas livres chamam a atenção dos conhecidos.

“Entrei por um concurso público, como faxineiro. Trabalhei muito tempo cuidando do pátio do “Castelo” (Edifício Castelo Branco, que abrigava as secretarias de Estado antes de ser adaptado para o Museu Oscar Niemeyer). Quando vim para cá (Centro Administrativo Santa Cândida), fui colocado na função de porteiro”, conta Vítor. “De vez em quando aparece um ou outro probleminha para resolver, alguém precisando de informação. A gente tem que fazer de tudo para resolver”, frisa.

Imagem de privilegiados incomoda bons servidores

Ser servidor público é ter a certeza de que, vez por outra, se vai deparar com alguém de fora questionando o direito à estabilidade no emprego, ou insinuando que o trabalho é fácil. É o que dizem os funcionários públicos.

“Tem gente que acha que servidor público é marajá. É uma injustiça, porque se trabalha bastante, não existem mordomias”, observa a zeladora Margarida Grein. “Quando alguém me fala uma coisa dessas, digo que trabalho sim e que faço tudo com o coração, com orgulho.”

O porteiro Vítor Teixeira completa: “Não tem nada disso. A gente tem que cumprir horário, tem chefe, tem superiores, do mesmo jeito que em outros lugares. E tem que fazer o serviço.”

Um burocrata, um trabalhador sem criatividade, que não se preocupa com resultados de suas tarefas. Essa é a visão que a sociedade tem, conforme percebe o engenheiro José Rubel, da Comec, que contesta: “Uns dizem que somos sortudos, porque entramos num emprego em que não há preocupação com demissões. É difícil explicar que não é bem assim, que no estado há sim gente criativa, atuante. Talvez porque por muitos anos o estado deixou de investir, de se preocupar com os recursos humanos”, avalia.

Baseado em sua experiência de quase 30 anos no serviço público, o funcionário da Secretaria de Corregedoria e Ouvidoria Geral, Walter Gonçalves, destaca que o “patrão” do servidor é a população, e é principalmente para ela que o funcionalismo deve satisfações. “Ele (o servidor) presta um serviço à sociedade. É o povo que vai cobrar os resultados dos trabalhos”, afirma.

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