Villanova: cabe à base oferecer toda estrutura aos pesquisadores. |
Com 14 milhões de quilômetros quadrados, a Antártica possui 95% da sua superfície coberta de gelo. Esse gelo – cerca de 30 milhões de quilômetros cúbicos – representa 68% de toda a água doce do planeta. O clima da Antártica é caracterizado por temperaturas extremamente baixas – na região central já foi registrado 89ºC negativos. A média na região próxima ao litoral é de 10ºC negativos. Devido a essas características, o local abriga um dos mais abundantes sistemas biológicos do planeta. E isso faz com que comunidades internacionais invistam em pesquisas na região, já que a Antártica tem grande significado em termos de meio ambiente e efeitos nas condições climáticas. Esses e outros assuntos foram discutidos ontem no 9.º Simpósio Internacional de Biologia Antártica, que acontece em Curitiba.
O Brasil é um dos mais de 30 países que assinaram o "Tratado da Antártica" – que regulamenta as pesquisas mundiais na região -, e desde 1984 mantém no local o Programa Antártico Brasileiro (Proantar). A estação Comandante Ferraz está instalada na Baía do Almirantado, na Ilha Rei George, e serve para apoiar os programas científicos brasileiros. Hoje estão instalados, em uma área de 2,3 mil metros quadrados, 60 módulos que abrigam 43 pessoas no verão, 12 pessoas no inverno, além de uma população fixa de 10 militares.
De acordo com o subsecretário para o Proantar, José Eduardo Martins Pinto Villanova, cabe à base oferecer toda a logística para os pesquisadores, que vai desde transporte, roupas e segurança. "Nosso dia-a-dia é coordenado pelas condições do tempo", comentou. Segundo ele, atualmente dez universidades e instituições estão envolvidas em pesquisas na região, cujos projetos estão divididos em duas redes: mudanças ambientais globais (I) e programa de monitoramento ambiental (II).
Turismo
O professor do Departamento de Oceanografia Física, Química e Geológica da Universidade de São Paulo e coordenador da Rede II, Rolf Roland Weber, explica que o objetivo é identificar qual o impacto gerado com a presença do homem na região da Baía do Almirantado. Algumas linhas de pesquisas já vem sendo desenvolvidas, entre as quais estão a poluição por combustíveis, o tratamento do esgoto e lixo e o impacto paisagístico. "Em relação aos combustíveis já existe um plano de contingência eficiente. Sobre o esgoto e o lixo, há tratamentos, mas que precisam ser melhorados", comentou, acrescentando que a grande meta será a substituição das estações metálicas – são usados contêineres como instalações – para modelos mistos utilizando madeira.
A coordenadora de projetos de arquitetura na Antártica, Cristina Engel de Alvarez, destaca que os contêineres sempre foram utilizados pela facilidade de transportes nos navios, mas que com o processo de corrosão acabam sendo um dos grandes poluidores no local. "O ideal seria mesmo a implantação de unidades de madeira, mas como ainda não conseguimos associar a economia com a ecologia, a proposta é fazer um modelo misto", falou.
Estudos miram para mudanças climáticas
Pesquisadores de 15 instituições nacionais e 16 internacionais participam de investigações sobre as mudanças climáticas e sua relação com o continente antártico. O coordenador da Rede I, glaciologista e vice- delegado brasileiro do Comitê Científico para Pesquisas Antárticas (Scar), Jefferson Cardia Simões, diz que os resultados desse projeto ampliarão os conhecimentos sobre o papel da Antártica como um dos controladores do meio ambiente brasileiro. "Será a resposta às mudanças globais nessa região polar, que têm conseqüências para o território nacional", disse.
Segundo ele, ao longo dos últimos 20 anos, importantes observações científicas – como a redução da camada de ozônio da atmosfera e a desintegração parcial do gelo na periferia do continente – evidenciaram a importância da região polar austral às mudanças ambientais. Porém, poucas pesquisas foram realizadas para comprovar essa interrelação da Antártica com a América do Sul. E é nesse sentido que os estudos estão sendo desenvolvidos, diz Simões, acrescentando que "a meta para os próximos cinco anos é que se inclua modelos do clima do Brasil à questão Antártica". (RO)