O sem-terra Anaro Lino Vial, 50 anos, baleado no confronto da última terça-feira entre seguranças da Fazenda Coqueiro, em Foz do Jordão, e integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), teve sua morte cerebral confirmada ontem. Outro sem-terra, Paulo Sérgio Brasil, 36 anos, morreu no mesmo dia da batalha. O caso será analisado inclusive pela Organização das Nações Unidas (ONU). O MST encaminhou denúncias sobre o caso a vários órgãos no Brasil e para a relatora especial sobre Execuções Arbitrárias, Sumárias ou Extrajudiciais da Comisão de Direitos Humanos da ONU, Asma Jahangir.
Os procuradores do Ministério Público de Guarapuava, Mauro Drobowolski e Lucimara Erlund visitaram a fazenda pertencente à Trombini Florestal. A área e a outra fazenda do grupo, em Mangueirinha, também ocupada pelo MST, estão sendo vigiadas pela Polícia Militar para evitar mais confrontos.
Emboscada
O secretário de Estado da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari, afirmou ontem que há fortes indícios de que houve uma emboscada na terça-feira. “Determinei investigação rigorosa sobre esse fato lamentável. Este governo não admite conflitos agrários”, afirmou Delazari, que também contestou uma informação divulgada pela diretoria da Trombini Florestal. “Ao contrário do que a empresa informou, a secretaria não tinha conhecimento da invasão no domingo. Só tomamos conhecimento após o confronto”, explicou. A reportagem entrou em contato com a empresa, mas nenhum diretor quis se pronunciar no momento. Em nota oficial, a Trombini Florestal acusa os sem-terra de terem iniciado o conflito, invadindo a fazenda e usando rifles, pistolas e facas. Conforme a nota, as fatalidades ocorridas foram causadas por uma reação de defesa dos seguranças.
Reintegração
Acontece amanhã, em Ortigueira, uma audiência entre integrantes do MST e Milton Vargas Prudêncio, proprietário, da Fazenda Santa Maria, ocupada por 220 famílias de sem-terra. O juiz da cidade, Rodrigo Morillos, pretende verificar a situação do local e se concede ou não reintegração de posse. O MST alega que a fazenda é usada para o tráfico de drogas.
Polícia investiga denúncia de extorsão
Imbituva
(AE) – A Polícia Civil de Imbituva, na região central do Estado, investiga denúncias de que duas pessoas, que se identificaram como pertencentes ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), teriam tentado extorquir dinheiro de um proprietário rural para que a fazenda não fosse invadida. Os advogados do fazendeiro gravaram as conversas que tiveram com os supostos integrantes do MST. As fitas estão com a polícia, que já as encaminhou para perícia técnica.O advogado Fernando Madureira disse que, no dia 20 de agosto, dois homens armados estiveram na Fazenda Imbaú, que tem cerca de 500 hectares e laudo de produtividade, dizendo que tinham ido fazer uma vistoria, porque a propriedade seria invadida no dia seguinte por oitenta famílias que se deslocariam de Ortigueira. À noite, um deles, que se identificou como João Carlos, telefonou ao proprietário, Amauri Sebastião de Ávila, dizendo que a invasão poderia ser suspensa caso houvesse “acerto”.
O fazendeiro marcou conversa para o dia seguinte, quando os advogados Madureira e Fernando Deneka entraram no caso e passaram a gravar os telefonemas. Nas negociações, o primeiro preço para evitar a invasão era de R$ 100 mil, mas baixou para R$ 5 mil. João Carlos afirmou que essa era uma prática comum em vários locais do País.
O advogado Deneka encontrou-se com João Carlos e com outro suposto sem-terra que se apresentou como Emanuel Francisco de Lima. Segundo o advogado, eles vestiam camisa e boné do MST e ocupavam um Tipo prata placas CAA 2686, de Curitiba. A propriedade do veículo está sendo investigada pela polícia.
No dia 29, Lima enviou um fax ao fazendeiro em papel com o timbre do MST e endereço da Cooperativa Central de Reforma Agrária, em Curitiba, com um número de celular. “Venho por meio desta em nome do MST agradecer V.Sª. pela colaboração ofertada de R$ 5.000,00 em virtude do acordo ao qual chegamos em comum acordo. Sendo o que resta para o momento aguardando seu pronto pagamento”, diz o fax.
Na tarde de ontem, a pessoa que atendeu confirmou ser João Carlos, mas desligou o aparelho assim que soube que se tratava de um repórter.
Madureira disse que, após o fax, não houve mais contato e não foi possível marcar um local para o flagrante, que seria acompanhado pelo Ministério Público. Segundo ele, os dois homens citaram pessoas que estariam envolvidas na extorsão.
“Estamos dando prioridade a esse caso, em razão da gravidade”, disse o delegado Robson Cezar da Silva Barreto. Ele intimou várias pessoas e está formalizando o pedido de quebra de sigilo telefônico.
Integrantes do MST disseram desconhecer tanto Lima quanto João Carlos. Segundo a entidade, não há nenhum acampamento do movimento em Imbituva. “Parece que essa história é mais para desviar a atenção”, disse um dos membros do MST. Segundo ele, seria uma forma de tirar o foco do confronto de anteontem em Foz do Jordão.
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