Foi-se o tempo em que o selo era apenas um comprovante de que a correspondência foi paga. Apesar de ter sido criado com este intuito, em 1840, na Inglaterra, o selo acabou se tornando alvo de milhares de colecionadores, que viam no pequeno pedaço de papel o retrato de uma determinada época. No Dia do Filatelista (colecionador de selos), comemorado hoje, as atenções se voltam para o pequeno, mas valioso objeto.
“A filatelia está diminuindo um pouco e sendo feita por pessoas mais idosas”, revela o filatelista Ernesto Cohn, 59 anos, tesoureiro da Sociedade Paranaense de Filatelia. Colecionador desde os oito anos de idade, o engenheiro eletricista e administrador aposentado conta que as pessoas mais jovens não têm interesse pelo hobby. “Na sociedade, o mais novo tem mais de quarenta anos de idade. A juventude não tem interesse em olhar um pedaço de papel carimbado”, lamenta. Cerca de cem filatelistas fazem parte da sociedade paranaense. Em todo o País, estima-se que não passa de 5 mil o número de colecionadores de selos.
O próprio Ernesto Cohn revela que está, aos poucos, se desfazendo de sua vasta coleção. “Resolvi usufruir desses bens, vendendo e indo viajar”, conta. Cohn diz que não sabe a quantidade de selos que possui, mas adianta que tem quase a coleção completa do Brasil, além da de Alemanha e Israel. Também garante que possui pelo menos um selo de cada país do mundo, até mesmo de nações que não existem mais. Mesmo assim, se considera um colecionador mediano. “Tenho um amigo que coleciona selos de 42 países. Eu fazia de três e desisti.”
A decepção com os selos, especialmente com os do Brasil, é um dos motivos que está levando Cohn a se desfazer das coleções lentamente. “No passado, houve muitos desvios de conduta, malandragem, por parte de funcionários dos Correios e da Casa da Moeda, que tinham acesso aos selos”, revela. Ele lembra que, entre 1977 e 1994 – período de inflação no Brasil -, uma norma estipulava que os selos que não fossem vendidos até 31 de dezembro do ano seguinte teriam de ser incinerados. “Mas duvido que isso tenha sido feito. Prova disso é que o mundo está inundado com selos do Brasil de 1976 a 1994”, conta Cohn. A baixa credibilidade do produto brasileiro faz inclusive com que ele tenha pouco valor no mercado internacional, atesta o filatelista.
Valor
O valor do selo, explica Cohn, está relacionado à raridade e não à antigüidade. “Muita gente pensa que a “caixa do vovô” vale uma fortuna, mas não é bem assim. “Não existe fortuna no meio de um monte de lixo.” Em sua coleção, Cohn conta com algumas raridades, como o Olho-de-Boi ? o mais famoso entre os leigos ?, da primeira série emitida no Brasil, em 1843. Cada um custa R$ 2.450 e o duplo R$ 4 mil. Os selos mais caros, no entanto, são da série seguinte, emitidos um ano depois, e cuja finalidade era enviar correspondências ao exterior. O valor de cada um é R$ 24.500.
O Brasil foi, segundo Cohn, o segundo país a emitir selos, depois da Inglaterra. Estima-se que tenham sido produzidos, ao longo desses anos, 2.400 selos comemorativos e novecentos regulares.
Para quem está começando a colecionar, Cohn aconselha a iniciar ou pelo ano de nascimento da pessoa ou escolher temas como orquídeas, aviões, navios, e buscar mundo afora. Ele alerta, no entanto, que colecionar selos é um hobby, não um investimento. “Um colecionador recebe um décimo do que pagou quando comprou. A crise financeira está atingindo o mundo inteiro, e a procura por selos também reduziu”, atesta.
Serviço – Para quem deseja se tornar um filatelista, a Agência Filatélica de Curitiba (Rua Marechal Deodoro, 298 – sobreloja) está preparada para atender os colecionadores com os lançamentos de 2002, além das coleções de selos de anos anteriores. Além disso, a Sociedade Filatélica de Curitiba (Rua Quinze de Novembro, 556 – 10.º andar – sala 1001) tem reuniões todas as quartas-feiras, das 9h às 11h45 e quintas-feiras, das 18h30 às 21h.