Seleção de policiais militares é uma árdua tarefa

Em 30 dias, deve ser divulgado o edital do próximo concurso para soldados da Polícia Militar. Cogita-se que serão abertas cerca de mil vagas e mais uma vez será dado início ao processo de seleção dos futuros homens que cuidarão da segurança da população. A tarefa de selecionar esses soldados é trabalhosa e primordial para evitar que pessoas com distúrbios vistam uma farda e usem o poder adquirido para o lado do crime.

A preocupação em bem escolher a próxima turma de soldados aumenta após o escândalo desvendado pela Operação Tentáculos, iniciada em 16 de junho e que descobriu o envolvimento de um grande número de policiais militares do 13.º Batalhão da PM com o crime organizado.

De acordo com o tenente Dicésar Moreira Luiz, subchefe do Centro de Recrutamento e Seleção da PM, existem duas formas de se ingressar na PM: através do Curso de Formação de Oficiais, para o qual é preciso prestar vestibular, e do curso de formação de soldados, para o qual pode se inscrever qualquer tipo de pessoa – desde que preencha os pré-requisitos determinados.

Nos dois casos, com exceção do vestibular, as etapas classificatórias são as mesmas. Os candidatos passam por uma prova escrita e de conhecimentos gerais, exame médico, exame psicopatológico, suficiência física e investigação social. De todos esses testes, o psicopatológico e a investigação social são os mais importantes. É através deles que pode-se descobrir o candidato tem o perfil ideal para se tornar um policial.

De acordo com a sargento Sandra Mara Reimer, responsável pelo setor de psicologia da PM, o exame psicopatológico verifica o perfil do candidato para saber se ele vai se adaptar ao trabalho e à vida militar. ?Os candidatos precisam ter controle emocional, saber controlar a agressividade, já que eles terão porte de arma durante serviço. Além disso, é importante verificar a tendência a controlar frustrações, porque pensamos no policial para uma carreira de 30 anos. Ele precisa saber lidar com o estresse, a pressão do trabalho?, explica a psicóloga.

Um candidato com grande agressividade e baixo controle emocional, por exemplo, dificilmente será aprovado no exame psicopatológico da PM. No ano passado, no concurso para soldados – que abriu 1,5 mil novas vagas – 85 pessoas foram reprovadas no psicopatológico. E no concurso para oficiais, 50 não passaram pelo teste. ?É uma loteria. Nunca sabemos o grupo que vem. Às vezes temos sorte e os candidatos são mais adequados. Outras vezes não?, explica. Isso pode ser observado fazendo um comparativo com os concursos de 2003, quando apenas nove foram reprovados no psicopatológico do concurso para soldado e 12 no concurso para oficiais.

Sociedade

Todos os candidatos a cargo na PM têm a vida investigada pelo serviço reservado da corporação. Segundo o tenente Dicésar, é analisado todo o ambiente social em que a pessoa vive e são entrevistados parentes, amigos, vizinhos. ?A polícia vai até a escola onde o candidato estudou, aos antigos trabalhos, procura saber como ele se relacionava com os colegas de trabalho. Uma pessoa envolvida em crimes, drogas ou que leve uma vida promíscua, por exemplo, não seria aprovada?, explica o tenente.

Essa etapa da seleção é a mais trabalhosa e pode levar meses. No concurso para soldado de 2004, quatro candidatos foram reprovados na pesquisa social e 94 no concurso de 2003. Na prova para soldados, um foi reprovado em 2004. O tenente Dicésar lembra que a investigação social dos candidatos continua durante todo o curso e também se estende durante a carreira.

Reprovados vão à Justiça

Alguns dos reprovados na seleção da PM recorrem à Justiça para conseguir entrar na corporação. De acordo com a PM, de 1995 até hoje, já foram impetrados 137 mandados de segurança por candidatos reprovados no psicopatológico e na pesquisa social. Uma vez conseguida a liminar, a PM é obrigada a integrar o candidato condicionalmente, até o caso ser julgado pela Vara de Fazenda Pública. Esse processo pode levar até três anos. Recentemente, um candidato a oficial foi reprovado no psicopatológico, mas conseguiu na Justiça a integração definitiva aos quadros da PM. Agora, a PM foi obrigada a reformar o oficial por problemas mentais. Para evitar que ele permaneça na ativa com a chance de cometer infrações, vai ficar em casa, recebendo salário integral.

Candidatos reprovados no psicopatológico são os mais inconformados e acabam indo brigar na Justiça pelo direito de se tornar soldado ou oficial da polícia. Segundo o departamento jurídico da PM, casos envolvendo comprometimento psicológico dos candidatos são os mais fáceis de serem ganhos.

O último concurso para bombeiros teve 37 mandados de segurança impetrados, quatro deles por reprovações no psicopatológico e um na pesquisa social. Já no curso de formação de oficiais, foram 30, seis no psicopatológico e um na pesquisa social – que conseguiu liminar e foi integrado condicionalmente e está fazendo o curso no Guatupê. (SR) 

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