Seca pode provocar racionamento no Paraná

A população de Curitiba e Região Metropolitana está sendo alertada a economizar água por conta da estiagem que assolou o Paraná durante todo o outono e que promete continuar até o final do inverno. O nível da água nos três reservatórios responsáveis pelo abastecimento já baixou consideravelmente – a barragem do Iraí, por exemplo, está com quantidade de água disponível equivalente a 38% da reserva normal. E a Sanepar avisa: racionamentos devem acontecer caso o consumo não seja reduzido em pelo menos 20% dos atuais 20 milhões de metros cúbicos/mês de água usados pela população da Grande Curitiba.

Nas barragens de Piraquara e do Passaúna a situação não é muito diferente. Dos 23 milhões de metros cúbicos armazenados usualmente pela primeira, restam apenas 15,1 milhões atualmente. O nível da água já baixou 3,25 metros. Na segunda, a diminuição é um pouco menos drástica, mas preocupa: dos 48 milhões de metros cúbicos de água, atualmente a barragem comporta 41 milhões. No Iraí, a situação é a mais crítica desde que o reservatório começou a operar, há cinco anos. O nível de água já baixou mais de três metros e a reserva normal de 58 milhões de metros cúbicos, agora é de apenas 22,3 milhões. E a velocidade com que a quantidade de água tem diminuído é grande: há pouco mais de uma semana, a baixa no nível da água nos reservatórios não ultrapassava os 2,5 metros.

Como as três barragens compensam o abastecimento umas das outras, pode-se considerar que a média de capacidade está limitada a 60% nas três, dado que levanta preocupação. "Nos próximos três meses não há perspectiva de chuvas. Se quisermos garantir abastecimento a 100% da população, todos os dias temos de fazer uso racional da água", avisa o presidente da Sanepar, Stênio Jacob. Segundo ele, uma economia de 20% já é suficiente para superar a má fase sem necessidade de racionamentos. Caso contrário, a providência terá de ser tomada. O que a Sanepar garante, por enquanto, é que, se acontecer, o rodízio será alternado e que nenhuma região passará mais que 24 horas por semana sem água.

Por enquanto, os municípios que vivem situação pior na RMC são Almirante Tamandaré, onde os poços que abastecem a cidade praticamente secaram, fazendo com que tenha de receber água de Curitiba; e Campo Largo, onde o rio Itaqui não dá conta da demanda e a Sanepar tem usado poços para compensar o abastecimento. A falta de chuva, que vem se agravando ano a ano, é a responsável pela precariedade. Para se ter uma idéia, nos últimos dez anos, na região, a média de precipitações no mês de maio diminuiu de 75,2 mm/mês para atuais 15,3 mm/mês. Em junho, a queda foi de 79,2 mm/mês para 1,9 mm/mês. A degradação ambiental é a principal causa de tamanha diminuição, explica o diretor de Operações da Sanepar, Wilson Barion, uma vez que, com a destruição das matas ciliares o solo não consegue reter água suficiente para encher poços ou escoar para os rios. "É a resposta da natureza ao que o homem tem exercido", resume.

Emergência

A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil decretou situação de emergência em 42 municípios do Paraná (ver lista), a maioria no sudoeste do Estado, onde não chove há mais de 70 dias. Outros 19 municípios podem ser declarados em situação de emergência pela Defesa Civil nos próximos dias, caso não chova o suficiente nessas áreas. Calcula-se que cerca de 350 mil paranaenses estão sentindo os efeitos da estiagem prolongada. O tenente Alessandro Galeski, da Seção Administrativa da Defesa Civil, informou que a decretação da situação de emergência permite a contratação de caminhões-pipas ou até mesmo a perfuração de poços artesianos.

Vazão dos rios está diminuindo a cada ano

A Sanepar e a Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa) salientam que, ano a ano, a vazão dos cerca de 200 rios e 800 poços que abastecem a maior parte das cidades paranaenses está diminuindo. No período de seca, sente-se isso com a iminência de faltar água. Em alguns locais, a baixa no nível da água é tamanha que chega-se a pensar em 2006 como o mais crítico dos últimos 75 anos.

É o caso do Rio Iguaçu, na região de União da Vitória. Ali, o rio enfrenta a menor média de vazão da história das medições, feitas desde 1930, com atuais 43,9 metros cúbicos por segundo contra os usuais 466 metros cúbicos por segundo, em situações normais. "Na região, em maio, choveu somente 20% da média histórica dos últimos trinta anos", explica o presidente da Suderhsa, Darcy Deitos. Em outras estações de medição da Suderhsa – como as de Foz do Iguaçu, próximo às Cataratas; de Jataizinho, no Rio Tibagi; nas nascentes do Iguaçu, Região Metropolitana de Curitiba; Idianópolis, no Rio Ivaí; e de Palotina, no Rio Piquiri – no último dia do outono as vazões já se aproximavam das mínimas registradas desde que são feitas as medições, entre 30 a 50 anos. "Essa aproximação demonstra a gravidade da situação. Se continuar esse quadro, podemos chegar a vazões ainda menores que as médias históricas", conclui Deitos.

A Suderhsa pretende lançar no ano que vem o Plano Estadual de Recursos Hídricos, que deve contemplar gestão semelhante ao que determina o Plano Nacional, aprovado em março deste ano. Recompor a quantidade – através de plantio de matas ciliares – e a qualidade da água – evitando contaminação dos mananciais por esgoto ou agrotóxicos – serão os objetivos dos comitês gestores de cada uma das três bacias hidrográficas que formam o Paraná para a adequação do plano.

Cataratas do Iguaçu com paisagem modificada

Diogo Dreyer

Daniele Rodrigues/Cataratas do Iguaçu S.A.
Baixa vazão mostra as enormes rochas que ficam no local.

A estiagem está mudando até mesmo a paisagem das Cataratas do Iguaçu, onde a vazão do Rio Iguaçu continua diminuindo. O volume na tarde da última terça-feira chegou a 298 metros cúbicos por segundo. A média em dias normais é de 1,5 mil metros cúbicos por segundo. Ontem, o volume médio chegou próximo aos 500 metros cúbicos por segundo. Os dados são do monitoramento hidrológico da Bacia do Iguaçu, feito pela Copel (Companhia Paranaense de Energia).

Por causa da falta de chuvas na cabeceira da Bacia do Rio Iguaçu, que fica na Região Metropolitana de Curitiba, o turista que chega às cataratas encontra um cenário diferente do que se vê em fotos. Algumas das quedas d’água secaram. O leito do rio praticamente deixou de passar por baixo da passarela principal. Aliás, se por um lado diminuiu a força das águas, por outro ficou evidente a grandiosidade das rochas que formam o conjunto de 275 saltos.

A quantidade está perto da maior seca registrada no atrativo. De 1982, quando a Itaipu Binacional começou a monitorar os leitos, até hoje, a vazão mínima foi de 134 metros cúbicos, registrada em 12 de outubro de 1988.

Segundo a assessoria de imprensa da Hidrelétrica de Itaipu, o reservatório da represa está cheio, e a vazão do Rio Paraná está próxima do normal, já que sua bacia é abastecida por rios em outros estados. Mas metade da energia produzida por suas turbinas – cerca de 5 mil megawats – está sendo utilizada apenas para abastecer a região sul do Brasil.

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