A frente fria prevista para atingir todo o Paraná ontem demorou para chegar na Região Metropolitana de Curitiba. Até o fim da tarde, nenhum sinal de chuva na Grande Curitiba, que passou mais um dia com altas temperaturas. A falta de precipitação e o aumento de consumo de água devido ao calor causaram problemas no abastecimento de diversos bairros de Araucária.
O baixo nível do Reservatório Sabiá, que abastece os bairros Cachoeira, Capela Velha, Chapada, Centro, Costeira, Boqueirão, Estação, Fazenda Velha, Passaúna, Porto Laranjeiras, Sabiá, Tindiqueira e Vila Nova, prejudicou o abastecimento de cerca de 30 mil pessoas. Com isso, as residências que não contam com mecanismos de reservação domiciliar já ficaram sem água na tarde de ontem.
O gerente de produção da Sanepar para Curitiba e Região Metropolitana, Paulo Raffo, reconhece que, com o aumento significativo da população de Araucária, o reservatório não tem mais a capacidade de vazão necessária para atender toda a região e, principalmente, nos períodos de maior consumo há a necessidade de racionamento.
"O problema ocorre nos horários de maior consumo, pela madrugada o reservatório volta a encher e amanhecemos com a vazão normal. No entanto, se o consumo continuar exagerado, podemos ter falta de água novamente", explica. Por isso, a Sanepar já está orientando a população de Araucária a economizar água.
Seca
No entanto, a região Sudoeste do Estado foi atingida pela frente fria. Mas as pancadas de chuva esparsas que caíram sobre alguns municípios durante o dia de ontem pouco contribuíram para amenizar o problema da estiagem na região e muitas cidades já estudam decretar estado de emergência.
"Essa chuva não foi suficiente, as pancadas seguem muito irregulares e o défict hídrico é muito grande. Afinal, desde o final de outubro não chove consideravelmente na região", observa o técnico do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento, Antoninho Fontanella. Ele está analisando o relatório de danos de 27 municípios dos quais, segundo ele, 26 podem decretar estado de emergência.
Um dos municípios mais atingidos pela estiagem é Francisco Beltrão. Segundo o prefeito em exercício, Wilmar Reichembach, a chuva mal passou pela cidade, que já está com toda a documentação preparada para decretar o estado de emergência até o final desta semana. "Afinal, os prejuízos para a agricultura já são irreversíveis", comenta. Segundo Reichembach, as perdas no município já somam mais de R$ 31 milhões.
O meteorologista do Instituto Tecnológico Simepar Itamar Moreira diz que a frente fria não está muito ativa no Estado e informa que apenas a região Sul do Paraná foi atingida por chuvas regulares ontem. Na região Norte, principalmente nos municípios próximos a Maringá, que também estão sofrendo com a estiagem, não houve chuva. O meteorologista informou que hoje deve chover um pouco mais nas regiões Sudoeste, Centro e Norte, mas em quantidades que não devem animar os agricultores. A partir de amanhã, apenas pancadas características do verão devem atingir o Estado.
Dispara venda de água mineral
Rosângela Oliveira
Se por um lado algumas regiões do Estado estão sofrendo com a estiagem, as distribuidoras de água mineral estão sorrindo à toa. Só em Curitiba o consumo aumentou em média 60%, e algumas empresas estão contratando equipes emergenciais para atender a demanda.
O cliente que ligar para a empresa onde Wagner Saggiuro trabalha, no Pinheirinho, não poderá escolher a marca da água. Algumas já estão em falta desde segunda-feira. Ele diz que, nos dias normais, a distribuidora chega a vender cerca de 400 galões com 20 litros de água. Ontem as vendas saltaram para mil galões. O mesmo aconteceu na distribuidora de Sérgio Wojcik, no Bigorrilho. "Nesses dias de calorão, as vendas aumentaram em mais de 50%, e das seis marcas que trabalhamos, duas já estão faltando", conta.
O presidente da empresa de águas Ouro Fino, Guto Mocellin, diz que a demanda aumentou em 100%. "Nós produzíamos 500 mil litros por dia, e agora teremos que dobrar a capacidade para poder solucionar o problema de abastecimento." Segundo ele, 20% dos clientes não estão sendo atendidos por dificuldades na produção, entrega e logística. De acordo com Mocellin, desde 1997 a Ouro Fino não registrava uma demanda tão grande como agora. Foi necessário implantar um terceiro turno de trabalho.