Em um dia frio e chuvoso, daqueles em que todo mundo quer passar o dia embaixo das cobertas, muita gente acorda ainda de madrugada para viajar. E não tem nada de turismo e diversão: essa gente percorre longas distâncias em busca de tratamentos de saúde, porque as cidades onde moram não oferecem alternativa no sistema público. Muitas pessoas vêm de outras cidades para serem atendidas em Curitiba. Somente no Hospital de Clínicas, por exemplo, mais de 40% dos pacientes são de fora -27% moram na região metropolitana e 13%, no interior.
De acordo com o HC, em 2012, 117.440 pacientes da região metropolitana e 58.662 do interior foram atendidas na instituição, do total de 427.353 atendimentos. A Secretaria da Saúde (Sesa) informou que estão em funcionamento helicópteros para atendimento de pacientes em Curitiba e Londrina, mas para quem busca tratamento na capital o jeito é enfrentar a estrada, porque são usados apenas em casos graves.
Casos
Eliane do Rocio Soares acordou na primeira hora de ontem para pegar o transporte da saúde que a traria de União da Vitória até o HC, a mais de 200 km de distância. Ela vai fazer uma cirurgia da vesícula e, por isso, tem que vir várias vezes para a capital fazer as consultas e exames. O marido, Vilmar Oliveira da Silva, é trabalhador rural, e deixa o serviço para acompanhá-la. Os filhos do casal ficam com a avó. “A gente só deve chegar em casa lá por 8h da noite”, conta Eliane.
A auxiliar de enfermagem aposentada Lucia Gaulak saiu da zona rural de Quitandinha para ir ao HC. “Faço tratamento porque coloquei uma prótese no quadril e fiz cirurgia no tornozelo. Semana passada vim três vezes pra cá”, conta. Para isso, acordou antes das 4h da manhã. “Tem que largar tudo, família, casa, serviço para vir”, lamenta.
Idosa reclama de cansaço
A aposentada Inês Burdelak percorreu mais de 150 km, de Irati a Curitiba, para colocar um aparelho no coração. Amanhã, terá que voltar para ver se está tudo bem e no mês seguinte também. “Eu venho quase todo mês”, revela. O transporte de saúde de sua cidade saiu de lá por volta das 2h30. “O pior de tudo é a canseira, ainda mais pra gente que é de idade. Sei que ao chegar em casa vou tomar banho e não vou nem querer jantar”, desabafa. Inês diz que em sua cidade um cardiologista vai de Ponta Grossa fazer o atendimento pelo SUS, mas como a demanda é muito grande, as consultas demoram a ser marcadas. “Meu marido marcou há poucos dias só pra agosto”, afirma.
Barbara Staniszewski Wolf veio com a mãe, Rosani, de Antônio Olinto ao HC para tratar da rinite. Além de faltar à aula, ela reclama que teve que acordar às 4h. “O pior é acordar essa hora”, comenta. Rute Gouveia Carneiro acompanhava o filho Matheus Vitor na consulta por causa de alergia. Os dois vêm de Wesceslau Braz, que fica a quase 300 km de Curitiba. “É muito ruim”, diz Matheus. “Qualquer coisa mais especial a gente tem que sair de lá”, ressalta Rute.
Helicóptero só em caso grave
Dos cinco helicópteros para a saúde prometidos na campanha eleitoral pelo governador Beto Richa (PSDB), a Secretaria da Saúde (Sesa) informa que apenas dois já estão em funcionamento, em Londrina e Curitiba. As aeronaves são destinadas ao transporte de órgãos para transplante e atendimento de casos mais graves, em que existe o risco de morte. Ainda segundo a Sesa, em breve Cascavel também terá helicóptero.
A Sesa informou que tem priorizado o investimento no atendimento de urgência e emergência do interior. Conforme a demanda e a necessidade de tratamento mais próximo também são priorizadas em algumas especialidades, como a oncologia.
Aliocha Maurício |
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Rute e Mateus vêm de Wenceslau Braz, a 300 km de Curitiba. |