A questão da indisciplina na sala de aula, aliada a outros fatores, como condições de trabalho e envolvimento pessoal, tem refletido na saúde dos profissionais da educação. No Paraná, apesar de não existirem dados estatísticos, entidades de classe afirmam que os problemas de saúde têm sido motivo de muitos afastamentos de professores e funcionários de escolas.
O médico do trabalho e perito judicial, Geraldo Celso Rocha, observa que o número de profissionais da educação que são encaminhados para avaliação por problemas de saúde tem aumentado. "Na fase inicial, face às exigências profissionais, aparecem o estresse, a fadiga e a depressão. Depois disso estão os sintomas físicos, como alergias de pele e perdas de voz", disse o médico. Segundo Rocha, a primeira queixa é sempre da fadiga, já que muitos professores reclamam que a falta de disciplina e concentração dos alunos geram insatisfações e frustrações. "Muitos se cobram por não poder lidar com essas questões", comentou.
Mas o acúmulo disso pode levar a problemas mais sérios como a chamada síndrome de Burnout. A doença é uma reação à tensão emocional crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e estressante com o trabalho. Ela se caracteriza por exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo, depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos. Essa síndrome é um tipo de estresse ocupacional e institucional, que afeta principalmente profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas, como médicos e professores.
A secretária de Políticas Sociais da APP-Sindicato, Silvana Prestes, disse que muito se fala em prevenção dessas doenças, mas nada de efetivo acontece. Ela citou que existe até um projeto aprovado pela Assembléia Legislativa no ano passado para prevenir a saúde vocal e síndrome de Burnout nas escolas, mas ele nunca saiu do papel.
O técnico em segurança do trabalho da APP, Edevalter Inácio Bueno, ressaltou que em 2005 a entidade começou a fazer um levantamento sobre acidentes de trabalhos na escolas, e em alguns casos ficou evidenciado que eles ocorreram porque o profissional estava debilitado. A partir dessa realidade, a APP quer montar uma comissão que acompanhe a saúde dos trabalhadores. Para isso estará promovendo uma audiência pública, no dia 23, na Assembléia Legislativa do Paraná, em Curitiba. Já no dia 26, em Londrina, promoverá um seminário estadual para tratar do tema.
Especialistas fazem algumas avaliações
A indisciplina, que muitas vezes é vista apenas como um problema de educação, pode ser fonte de reflexão para uma série de leituras sobre a formação do indivíduo. Para alguns especialistas, antes de se falar em indisciplina é preciso avaliar a disciplina como forma de organização. Quando se pensa o tema dentro da escola, a indisciplina pode ser encarada como um problema e até fonte geradora de doenças para o educador.
A pedagoga Chloris Casagrande Justen afirma que existe uma série de procedimentos que concorrem com a indisciplina. Ela entende que o modelo de liberdade que vem sendo proposto, não é bem concebido, e acaba desajustando o indivíduo. "Assim como nosso organismo sente sono e fome na hora certa, também nós precisamos de uma orientação e seguir etapas", comentou. Em relação à criança, Chloris diz que falta a brincadeira, o lúdico, para que ela possa se desenvolver. "Quando a criança brinca com a boneca de mãe e filha ela está aprendendo essa relação. O mesmo acontece quando ela brinca de professora, pois está exercitando a autoridade", comentou.
A criança só será organizada, diz a pedagoga, se os pais forem organizados. O mesmo acontece na hora de se comunicar. "Hoje as pessoas discutem muito porque não têm regras na hora de conversar. E as crianças aprendem com os adultos a gritar para conquistar a palavra", ponderou. A pressa e correria para se conquistar as coisas também refletem na formação da pessoa, já que muitas vezes se passa por cima de algumas fases necessárias para o desenvolvimento do indivíduo.
Ambiente
A psicóloga especialista em Psicopedagogia, Mari Angela Calderari Oliveira, diz que a indisciplina não pode ser vista apenas como uma falta de disciplina, pois o conceito será variável para diferentes pessoas e ambientes. Projetando isso para dentro da escola, ela avalia o que pode ser indisciplina para muitos – como uma grande movimentação dentro da sala de aula -, pode ser para outros uma forma diferenciada de se trabalhar o conteúdo com melhor aproveitamento. "A escola precisa estar atenta a essa realidade, e diferenciar também das questões psicossociais que estão ligadas ao comportamento, como a agressão, por exemplo", ponderou.
Visão semelhante tem a doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano e professora das Faculdades Integradas Rio Branco (SP), Maria Alice de Castro Rocha. "Vai depender das questões educacionais. Se a escola é mais tradicional, a disciplina é algo imposto. Já se a escola tem uma postura mais construtivista, a disciplina é algo que será construída", ponderou. (RO)