Diversos símbolos podem ser lembrados quando comemora-se a abolição da escravatura, datada do dia 13 de maio de 1888. Na época da escravidão, os negros trazidos ao Brasil não deixaram de lado suas danças, cantos, santos e festas religiosas. O candomblé é até hoje a religião que conserva com mais fidelidade as crenças da raça negra. No entanto, a mistura de culturas introduziu os ritos católicos aos cultos africanos. E como a religião católica era o culto seguido pelos escravistas, os santos negros viraram símbolo de luta pela igualdade.
?Os santos negros passaram a ser uma afirmação da importância do negro porque o santo é modelo, corresponde aos ideais daquela comunidade?, afirmou o teólogo e diretor do curso de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Mário Antônio Sanches. Segundo o professor, no século 19 existiam confrarias (espécie de irmandades) onde os negros veneravam esses santos. ?Dentro do contexto escravo, estes santos colocavam por terra a ideologia da época. Eles eram vinculados à igualdade, já que a existência de santos negros significava que a raça tinha o mesmo valor do branco?, completou.
São Benedito
São Benedito foi um dos santos negros mais cultuados pelos escravos no Brasil e por isso muitas comunidades negras realizam festas em sua homenagem na data de hoje. Ele nasceu na Sicília (Itália), em 1526, filho de escravos etíopes. Sua biografia conta que ele tornou-se santo porque tinha o dom da ciência infusa – que se supõe vinda de Deus por inspiração e ensina sabedoria, santidade e amor à Igreja.
O papa Pio VII inscreveu São Benedito no rol de santos em 1807. ?Em Curitiba, São Benedito não é muito conhecido. Neste bairro, não há muita referência de negros. Mas em locais como a Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro existe um culto grande a ele?, contou o padre Renato, da Paróquia São Benedito de Curitiba, no bairro Capão da Imbuia. Nossa Senhora da Aparecida, padroeira do Brasil, é um dos ícones religiosos negros mais lembrados. Mas muitos outros santos menos conhecidos, como São Martinho de Lima e Santa Efigênia, também são representantes da raça negra no catolicismo.