As sacolinhas plásticas, usadas para embalar todo tipo de compra que o brasileiro faz, principalmente as de supermercado, podem estar com os dias contados, pelo menos no Paraná. É o que pretende a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), que promete fechar o cerco contra empresários que se negarem a criar alternativas para destinação das embalagens ou a substitui-las pelas sacolas oxibiodegradáveis, que se decompõem em alguns meses. O desafio, entretanto, será mudar a cultura que impera no País de utilizar esse utensílio indiscriminadamente. A partir daí, o próximo passo da Sema e do Ministério Público do Estado (MPE), que estão atuando em conjunto nessa questão, é chamar cada um dos proprietários de supermercados para cobrar-lhes posicionamento. A primeira reunião acontece na quinta-feira, com representantes das dez maiores redes supermercadistas do Estado.
?O que queremos é convencer os comerciantes que isso é interessante para o meio ambiente. No entanto, o principal item dessa discussão é a mudança de comportamento do usuário, como a adoção da sacola de pano para as compras. Para isso é preciso colaboração de todos?, conclui o promotor Saint Claire Honorato Santos, do MPE.
Dados repassados pela Sema apontam que, somente no Estado, são disponibilizadas ao setor supermercadista 80 milhões de sacolas plásticas todos os meses. A quantidade preocupa o coordenador estadual de Resíduos da Sema, Laerty Dudas. ?As sacolas demoram centenas de anos para se decompor. Imagine todo esse volume no meio ambiente entupindo bueiros, poluindo rios e resultando em enchentes?, diz. Mais: segundo ele, quem deve responder por todo esse resíduo é quem os distribui, ou seja, supermercados, principalmente. ?A Lei n.º 6.938 (de 1981) é clara ao estabelecer que quem coloca o produto no mercado é responsável por ele direta e indiretamente. Portanto, também devem responder pela destinação desse material?.
Com vistas a pressionar o setor a achar alternativas para o problema, a Sema contatou a Associação Paranaense de Supermercados (Apras) em agosto do ano passado e estabeleceu: ?Eles devem ter pontos de entrega voluntária e adotar uma política reversa no sentido de pressionar também fornecedores e indústria para que os auxilie nessa adequação?.
Outra opção seria a adoção das oxibiodegradáveis, que consistem em saquinhos do mesmo material adicionados de um polímero de patente inglesa, o D2W, que permite a decomposição do plástico em 18 meses. No entanto, segundo Dudas, a resposta não foi satisfatória. ?Disseram que não poderiam responder administrativamente por cada estabelecimento?. Isso foi há dois meses.
Bons resultados estão aparecendo
Desde que começou a utilizar as oxibiodegradáveis em janeiro deste ano, o gerente de marketing da rede de supermercados maringaense Cidade Canção, Célio Kiracani, tem visto bons resultados. ?Os clientes estão percebendo que, comprando em nossas organizações, mesmo usando a sacolinha para se desfazer do lixo, podem fazê-lo sem preocupação?, constata. A rede foi a primeira a utilizar a tecnologia.
As sacolas ficaram três meses em testes para avaliação da qualidade. Aprovadas, passaram a ser usadas em definitivo pela empresa, que hoje gasta cerca de 10% a mais com as embalagens. ?Mas consideramos isso investimento para garantir o futuro?, diz o gerente.
?Também deixamos disponível um 0800 para as pessoas tirarem suas dúvidas?, completou.
A Apras, por sua vez, informa que apresentou à Sema diretrizes e orientações institucionais para que os supermercados do Paraná contribuam e incrementem os Pontos de Entrega Voluntária (PEV) e também na utilização de tecnologia que auxilie na diminuição dos impactos ambientais. A associação diz ainda que um grande número de supermercados do Paraná, principalmente hipermercados, já disponibilizam ao consumidor Pontos de Entrega Voluntárias (PEV), ?focados principalmente na educação do consumidor para o hábito de separar para reciclar?.
Maringá: ONG e empresários adotam medidas
Há cerca de dois anos, quando atuava na limpeza de fundos de vale, o presidente da organização não-governamental (ONG) Fundação Verde, de Maringá, Cláudio José Jorge, chegou a uma conclusão: ?Precisávamos dar um jeito nas sacolas plásticas. Era o que mais encontrávamos nos rios?, conta. O passo seguinte foi pesquisar o que o mundo estava fazendo para dar conta desse verdadeiro desafio ambiental. Em alguns países da Europa, por exemplo, a forma encontrada foi fazer doer no bolso: se o consumidor quiser as sacolinhas tem de pagar por elas e caro. Resultado: muita gente voltou à boa e velha sacola de pano.
Mas outra solução verificada na Inglaterra chamou a atenção do ambientalista: as sacolas oxi-biodegradáveis. São um pouco mais caras, mas, segundo ele, compensam pelo benefício ao meio ambiente. ?O aditivo aplicado faz com que a cadeia molecular seja um pouquinho menor, permitindo que se quebre e que os microorganismos consigam comer o plástico?, explica. O desafio, agora, era vender a idéia ao setor varejista e aos fabricantes: ?Quanto mais empresários aderissem, mais barato deveria ficar?.
Assim, enquanto Cláudio convencia os empresários da parte ambiental, Fátima Meguer, diretora comercial da B&L consultoria, tentava achar junto com eles meios de tornar a iniciativa economicamente viável. ?Como fica em torno de 5% a 8% mais cara que a convencional, propomos adequações, como impressão da logomarca em apenas um dos lados da sacola e em menos cores?, explica. Atualmente, quatro redes de supermercados maringaenses utilizam a tecnologia em cerca de 50 lojas da região.
Mas a expectativa é que esse número se multiplique. A maior parte dos supermercados paranaenses já foi contatada e a consultora tem sido procurada por redes de outros estados. A receptividade, garante Fátima, é satisfatória. O que pesa por enquanto são os custos. ?Mas costumamos dizer que, nesse caso, é um investimento?.