A partir da próxima terça-feira, a colunista Ruth Bolognese volta a escrever, diariamente, para O Estado do Paraná. Com a mesma irreverência com que iniciou aqui, há 5 anos, a coluna que a transformou numa das jornalistas mais conhecidas, e polêmicas, do Paraná, e lhe deu o apelido de “Serpente Ruiva”, Ruth vai escrever sobre assuntos variados, de política à economia, de lazer a futebol, de sexo a novelas, mas sempre sob o ponto de vista dos paranaenses, com uma linguagem única e bem-humorada. E sem abrir mão da crítica e da opinião, condições essenciais do trabalho jornalístico que a caracteriza.
Ao abrir este espaço para Ruth Bolognese, O Estado proporciona aos seus leitores um novo foco da notícia, no conhecido estilo irônico que não poupa ninguém e que só é possível ser exercido num jornal independente e sem vínculos políticos ou econômicos. O Estado mostra que a imprensa paranaense abre espaço para a crítica contundente e abrangente.
E, para melhor para contar a própria história e as dificuldades de um jornalista que só se preocupa com a busca dos fatos e não faz concessões aos poderosos no Paraná, nem aos não poderosos, a própria Ruth Bolognese se reapresenta aos seus leitores:
De grão em grão
O primeiro curso de jornalismo fiz por correspondência, no Instituto Universal Brasileiro, aos 15 anos, e o diploma está lá, pendurado na parede de casa até hoje.
O pai e a mãe riam de mim e tinham razão. Para Terra Boa, norte do Paraná, onde a gente morava, era a mesma coisa que fazer supletivo à distância para trabalhar na Nasa.
Depois, passei no vestibular da Universidade Federal do Paraná e encontrei pela frente a dona Jandira, que fechou um restaurante de beira de estrada para abrir pensão para estudantes em Curitiba e, assim, pagar as despesas da filha, que fazia medicina.
Dona Jandira, especialista em reduzir a pó qualquer sinal visível de auto-estima, vivia dizendo que não moveria uma palha se a filha fizesse “um cursinho besta como este, de jornalista”.
Formada, vim trabalhar em O Estado do Paraná, passei para O Estado de S. Paulo e, depois, fiquei por 11 anos como correspondente em Curitiba do Jornal do Brasil, à época um dos melhores do País.
Mas a ladainha era sempre a mesma. Quando ia visitar a família em Terra Boa, cansei de ouvir a mãe perguntar: “E quando é que você vai trabalhar na Globo? Olha a Glória Maria, que beleza, né?”
Do outro lado
Um dia, com duas filhas para criar, salário baixo demais e sem vontade nenhuma de sair do Paraná para tentar carreira no Rio ou São Paulo, decidi deixar esse negócio de jornal para lá.
Mudei de lado do balcão e fui lustrar a imagem de políticos e empresários paranaenses na imprensa, função tranqüila e muito bem paga. Era bom, não era? Não. Para mim era sufocante, frustrante, horripilante.
Quando completei 50 anos, não deu mais para agüentar. O nó na garganta por ficar longe de jornal ameaçava virar doença ruim e, de um dia para outro, abanei a mão para o empregão na Associação Comercial do Paraná e bati de novo na porta de O Estado do Paraná, pedindo um cantinho para escrever. Ganhei. E junto com o cantinho, vieram os leitores, as dificuldades para pagar as contas no fim do mês, as ações na justiça e uma felicidade sem fim.
Um dia, o doutor Paulo Pimentel mandou dizer que era hora de parar. Doeu. Eu fiquei sem emprego e jurei, de pé junto, que nunca mais colocaria os pés aqui. E eu de novo no meio da rua.
Mas, aí, um velho amigo, José Eduardo de Andrade Vieira, ele mesmo, o ex-dono do Bamerindus, me abriu outra porta, a da Folha de Londrina e lá fui eu. Mais 4 anos de alegria e mais leitores, agora o pessoal do interior, vizinhos lá de Terra Boa, Maringá, Londrina.
O Nortão amado onde nasci. Identificaç,ão total. Dia mais, dia menos, e o velho amigo deixou a amizade de lado e sucumbiu a uma reclamação familiar contra a coluna: sofri, chorei e saí.
Nova jornada
Agora, depois de 3 meses como garota de programa de TV -participei, como convidada de programas políticos numa TV da capital – engulo aquela história de nunca mais pôr os pé aqui, faço o sinal da cruz e volto para O Estado.
Ponto para o doutor Paulo Pimentel, que esqueceu críticas e alfinetadas e me abriu a porta de novo. E terei o mesmo espaço em mais 5 jornais espalhados por todo o Paraná.
Isso amplia o alcance do meu trabalho e a responsabilidade. Mas é extremamente confortável porque moro na capital e no interior, me reconheço, estou em casa.
E desconfio que, em termos profissionais, sempre foi e vai ser sempre assim: desde o cursinho por correspondência no Instituto Universal Brasileiro, o desdém da dona Jandira, passando pelo sonho global da minha mãe, e a despeito de tudo, venho exercendo o jornalismo de grão em grão, de jornal em jornal.
Até que a última folha seja impressa. Mas por que tanta confusão profissional, meu Deus do Céu? Porque acho que os leitores já são bem grandinhos e podem saber o que eu sei, e o que me contam as pessoas, sem filtro nenhum.
Porque escrevo tudo e, como podem ver, acabo morrendo pela boca, ou pela escrita, sei lá. Ainda bem que no Paraná tem jornal que ainda leva em conta seus leitores. Poderia tentar a sorte no eixo Rio-São Paulo e me tornar celebridade, quem sabe?
Mas gosto mesmo é de costelinha de porco e a graça está em falar mal do governador Requião, dos deputados e o escambau para quem me entende, do meu jeito.
O princípio continua o mesmo: qualquer erro será corrigido no mesmo espaço e com o mesmo destaque. E “vamo que vamo”, eu e os leitores paranaenses, cumprir mais esta jornada.
Obrigada a todos. De verdade.
Em tempo
Ruth, a boa filha à casa torna. Seja bem-vinda. Da administração do Grupo Paulo Pimentel e dos seus colegas de redação.