Foto: Ciciro Back/O Estado

Luciano Oliveira e um dos ?kits? para homenagear Iemanjá.

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?Feliz ano novo, adeus ano velho; Que tudo se realize no ano que vai nascer; Muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender.? Quem não conhece essa popular canção entoada aos quatro cantos quando o dia 31 de dezembro do calendário romano se aproxima? Mais do que uma simples música popular, a letra traz todo um significado emblemático, ligado ao desejo eterno de esperança de dias melhores, mesmo que os 365 dias anteriores já tenham sido bons. É o constante desejo de conseguir maiores realizações, seja no campo profissional, financeiro ou pessoal.

Segundo  frei Alvadi Pedro Marmentini, que também é parapsicólogo, a simbologia da virada do ano é algo ligado ao desejo subconsciente de mudança na vida das pessoas. ?O novo, o início, é um tema que atrai. Cria-se toda uma expectativa positiva quando se começa algo. Seja um novo emprego, um novo relacionamento. Isso também acontece com o início de um novo ano?, explica.

É como se a cada pessoa surgisse uma nova oportunidade de fazer as coisas de modo diferente, especialmente para aqueles que sentem carência em alguma área da vida. Mas Alvadi alerta: a virada de um novo ano não é um milagre. ?O que tem que mudar é a atitude interior. Essa energia positiva da esperança é um empurrão, mas a mudança deve vir de dentro, em todos os dias do ano.?

A dica do frade para que as pessoas tenham um ano cheio de realizações é simples: ?Quem tem objetivos na vida, tem o verdadeiro sentido dela, tem força para vencer todos os obstáculos. Ter fé em si mesmo e na vida, com a consciência de que nascemos para ser felizes, é uma boa dica para ter um bom ano?.

Diferentes crenças

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Se na culinária os negros deixaram a saborosa herança da feijoada e no esporte a ginga da capoeira, nas tradições do ano novo deixaram a tradição da cor branca como símbolo da paz e o culto a Iemanjá. Na religião umbandista, que reza pela cartilha dos orixás, Iemanjá é a mãe de todos e a rainha do mar. E mesmo aqueles que não seguem a religião acabam fazendo direta ou indiretamente homenagens a ela. Alguns mantêm a tradição de simplesmente molhar os pés na água do mar, fazendo pensamento positivo na hora da virada. Outros jogam flores brancas ou pulam ondas. Os mais empenhados jogam barquinhos com objetos ligados à vaidade feminina ao mar, evocando proteção.

Luciano dos Santos Oliveira, proprietário de uma loja de artigos de umbanda, conta que o movimento cresce em até 70% na última semana do ano. ?Muitos não são praticantes de umbanda. São pessoas que, mesmo sem seguir a religião, querem fazer rituais para atrair paz e boa sorte no ano que se inicia.? Ele diz que os rituais, neste período, são comuns porque há uma grande concentração de energia positiva no ar. ?É a hora em que todos têm o desejo de deixar o que foi ruim para trás e buscar coisas novas e positivas. Com tanta corrente positiva, as coisas ficam mais fáceis de acontecer?, acredita. O comerciante diz que a grande procura é por barquinhos nas cores branca e azul – as cores de Iemanjá – e kits com perfumes, pentes e espelhos. ?Ela é muito vaidosa?, ensina.

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Para quem não tiver tempo de providenciar um barquinho, Santos diz que vale jogar flores brancas ao mar ou ainda escrever agradecimentos e pedidos em fitas azuis ou brancas. Velas azuis e brancas, acesas à beira do mar, também são bem-vindas. Para quem fica na cidade, um banho de descarrego também vale, preparado com água fervida com uma mistura de sete ervas, que deve ser jogado do pescoço para baixo.

Gastronomia

Em um País influenciado pela diversidade cultural, nem sempre é fácil explicar de onde vêm as tradições e rituais que são praticados. No Ano Novo, os mais variados ingredientes ganham as mesas e fazem parte da ceia servida na virada. Mas algumas comidas, garantem os supersticiosos, trazem sorte no ano que chega.

O chef Oliver Sturn diz que da Itália veio o hábito de comer uvas na noite de Ano-Novo. ?Elas têm a simbologia de fartura e prosperidade.? Também veio do país da bota o hábito de comer lentilhas, que, com grãos em forma de pequeninas moedas, estimulam a fortuna. Da Europa, também veio a tradição da carne branca dos peixes e frutos do mar, seguindo a influência católica. ?Antigamente não se comia carne vermelha neste período, em função do nascimento de Jesus.? Já a proibição de carne de aves, que ciscam para trás, e o incentivo ao consumo de carne de porco, animal que fuça para a frente, são criações populares.

Na sobremesa, a influência é árabe: comer romãs para atrair dinheiro e frutas secas, como nozes, avelãs e castanhas, garantindo a fartura.