Foto: Evandro Monteiro/O Estado |
Rio Iguaçu estava com vazão de 5,93 m3/s. Média é de 11,97 m3/s. continua após a publicidade |
O período de chuvas previsto para os próximos meses, com base em dados históricos, vislumbra uma recuperação gradual da vazão dos rios que servem o Paraná. Porém, as projeções positivas, adensadas pela contribuição iminente do fenômeno El Niño, que deve trazer ainda mais chuvas ao Estado, não mascaram a necessidade da manutenção da cultura de economia de água, desenvolvida no período da estiagem.
Segundo o engenheiro ambiental Eduardo Gobbi, a complexidade do funcionamento dos rios requer atenção. Por mais que chova a média histórica nos próximos meses, o sistema hidrográfico precisa de um longo período para se recuperar. ?As vazões dos rios resultam da soma do volume superficial, acumulado com as águas das chuvas, mais a água acumulada no lençol freático?, diz. A questão é que apesar do controle no volume superficial, não há como se ter noção exata da situação do lençol freático após um período de forte estiagem, como o experimentado nos últimos meses. ?Para uma recuperação total do sistema, será necessário ao menos um ano.? Isso significa que se o Estado voltar a sofrer nova estiagem como a deste ano em 2007, o problema do abastecimento de água pode se repetir. Daí a necessidade de um uso consciente e controlado da água, mesmo nos períodos em que estiver chovendo mais, como nos próximos meses.
O monitoramento da vazão dos rios, feito pela Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa), mostra que, apesar das chuvas intermitentes dos últimos dias, os rios ainda precisam de um significativo volume de chuvas para se recuperarem. Na medição de ontem, por exemplo, o Rio Iguaçu, na estação da ponte da BR- 277, estava com vazão de 5,93 m3/s, bem abaixo da média de 11,97 m3/s.
O alento é que até agora, em Curitiba, o total de chuvas acumuladas em setembro já se igualou à média histórica do período 1922 à 2006, que é de 123,2 mm. Com a previsão de chuvas para hoje e sexta-feira, feita pelo Instituto Tecnológico Simepar, a tendência é que o mês feche com uma média superior à histórica.
O que preocupa é a possibilidade de repetição de nova estiagem no ano que vem. Em Curitiba, desde novembro do ano passado, os totais mensais de chuvas acumularam déficit em relação à média histórica. Em abril e maio de 2006 choveu 79% menos que a média.
Racionamento
Por ora, a recuperação gradual do sistema de abastecimento de água vem garantindo a manutenção da suspensão temporária do rodízio no racionamento. Na manhã de hoje, após o monitoramento que a Sanepar realiza diariamente, a empresa anuncia se os moradores do grupo 7, formado parcialmente pelo Água Verde, Capão Raso, Fazendinha, Guaíra, Parolin, Pinheirinho, Prado Velho, Seminário e Vila Izabel e integralmente pelo Fanny, Guaíra, Lindóia, Novo Mundo e Portão, terão o abastecimento de água assegurado.
Já para os moradores dos bairros Parque Borda do Campo, São Cristóvão, Deodoro, França, Vila Fuck, Laranjeiras, Macedo, Santa Maria, Michel, Jardim Olinda, Mananciais da Serra, Pedreira e Penitenciária, em Piraquara, o abastecimento pode ficar comprometido, devido a um desligamento de energia elétrica programado pela Copel das 8h às 20h, que paralisa o reservatório Piraquara. Cerca de 16.100 mil pessoas podem ficar sem água, caso não tenham reservatório domiciliar.
Em função de obras de melhorias na rede, os bairros Tropical, Dalla Torre, São João, Monalisa, Vila Nova, Porto Laranjeiras, Fazenda Velha e Moradias Independência, em Araucária, também podem ficar sem água. O serviço consiste na interligação de rede na adutora do Sistema Passaúna, que tem início às 8h. A normalização do abastecimento está prevista para 20h.
Conseqüência do desequilíbrio ecológico
Joyce Carvalho
A estiagem que assola o Paraná há vários meses é resultado das conseqüências do desequilíbrio ecológico, oriundo de diversos fatores, como o desmatamento e a degradação do solo. Este foi um dos temas abordados no seminário Riscos Climáticos e Estiagem no Paraná, realizado ontem pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) – vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento -, em Londrina. O objetivo era compreender melhor a ocorrência do fenômeno. Pesquisadores, técnicos e agricultores participaram do evento.
Rogério Teixeira de Faria, pesquisador da área de engenharia agrícola do Iapar, conta que foram feitos diagnósticos sobre a estiagem para saber se a seca é conseqüência da mudança climática ou uma questão de variabilidade. ?Este é um tema ainda muito controvertido, que ainda não tem uma definição. Sobretudo, o clima é variável, mas houve uma degradação do solo e do meio ambiente. Estamos comprovando temperaturas cada vez mais altas?, afirma.
A estiagem tem causado grandes prejuízos aos produtores paranaenses, dependendo da região e do sistema de produção. Na última safra, houve um prejuízo de R$ 2 bilhões somente no cultivo da soja, segundo Faria. A safra ocupa quatro mil dos seis mil hectares plantados com grãos no Estado.
Existem várias tecnologias que são capazes de combater o problema e tornar a produção mais eficaz. ?As tecnologias vão desde plantas tolerantes à seca, plantio direto e integração da lavoura com a pecuária, que reduzem os riscos para perdas. O agricultor hoje é diferente daquele do passado. Hoje, contrai diversas dívidas e o risco é muito grande. O produtor não pode ter prejuízos sob risco de afetar toda a sua sustentação?, indica Faria.