Bonecas antigas, fadadas a envelhecer em um armário qualquer, são a matéria-prima da restauradora Regina Romero dos Santos, que há 23 anos se dedica à recuperação dos traços originais das bonecas – um trabalho delicado e minucioso, que exige não apenas talento, mas amor. Depois de restaurar centenas delas ao longo desses anos, Regina quer agora passar o conhecimento a outras pessoas. Nos próximos dias 29, 30 e 31 ela estará ministrando oficina de restauro e conservação de bonecas antigas, como parte do projeto O brinquedo, a criança e o tempo, no Museu Paranaense, em Curitiba.

Regina adverte, porém, que o assunto é bastante vasto, e que um curso rápido não é o suficiente para a pessoa se tornar um bom profissional. “Para reconhecer uma boneca, sua matéria-prima, maneiras de recuperá-la, é preciso estudar muito. O curso oferece conhecimento para quem queira abraçar a área, mas o caminho mesmo é o estudo e muita pesquisa”, explica.

Autodidata, Regina conta que usava as próprias bonecas até aprender a restaurar de fato. E Regina tinha mais de cem delas. “No início, estraguei muitas”, afirma. Até se tornar a profissional que é hoje, a restauradora teve de recorrer à literatura principalmente européia. “No Brasil não há nada nesse sentido. E mesmo a literatura internacional não revela todos os segredos que envolvem a restauração de bonecas”, lamenta.

Raridades

Entre algumas raridades com que Regina está trabalhando no momento, destaca-se um bebê Schmidt, alemão, do final do século XIX. Uma das curiosidades, revela Regina, é que as bonecas mais valorizadas são as que têm boca aberta, em que os dentes são visíveis. Também as bonecas com cabeça em porcelana são valorizadas: não saem por menos 700 a 800 euros – de R$ 2.380,00 a R$ 2.720,00 – dependendo de suas características.

Segundo Regina, a maioria das bonecas que restaura é de família, passada de geração para geração, e não de colecionadores. “Muitos querem apenas que a boneca fique bonita e pedem que eu mude os olhos, o cabelo original”, conta. Em cada trabalho, Regina demora de dois a quatro meses, dependendo o que há para recuperar. “É difícil sair em menos de um mês”, avisa. Quanto aos valores, eles variam muito: podem sair por R$ 300, R$ 500 ou R$ 700, dependendo do trabalho dispensado. Já os consertos – feitos geralmente em bonecas mais novas – são bem mais baratos: de R$ 10,00 a R$ 30,00, dependendo do que se trata.

Apesar de todo a dedicação que o trabalho requer, Regina diz que não dá para sobreviver apenas de restaurações de bonecas. “Na Europa, quem trabalha com restauração vive disso. Lá, a tradição é maior, e existem os famosos laboratórios”, explica.

Alma

Sobre as bonecas brasileiras e, especialmente, as mais recentes, de plástico ou borracha, Regina é taxativa: são feitas de forma grosseira e perderam a delicadeza. “Os países europeus tentam até hoje manter os detalhes das bonecas, a delicadeza. Parece até que têm alma. Já aqui a boneca produzida em série é praticamente descartável”, lamenta. (Lyrian Saiki)

Serviço: Inscrições para a oficina podem ser feitas pelo (41) 304-3300. Para quem quer levar bonecas para consertar ou restaurar, o telefone da Regina é (41) 3024-7780 ou 3022-1193.

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