Ressaca em Matinhos pega os pescadores de surpresa

A ressaca pegou de surpresa os pescadores de Matinhos, no litoral do Paraná, na madrugada de domingo. Parte dos barcos que estavam guardados ao lado do mercado de peixes foram levados pela água. Revoltados, os pescadores levaram os barcos para a frente da Câmara Municipal, onde fizeram um grande protesto. Ontem pela manhã os equipamentos permaneciam no meio do calçadão, no centro da cidade. Depois de uma audiência com o prefeito, os pescadores conseguiram marcar um encontro com representantes do governo do Estado (ler matéria ao lado).

Foto: Divulgação
Primeiro, os caminhões da Prefeitura jogaram o material na praia.

Os pescadores alegam que não foram avisados, nem pela Capitania do Portos nem pelo Corpo de Bombeiros, sobre a ressaca. ?Quando a gente viu a água estava chegando e levando tudo?, contou o pescador Marcelo Cesar Pereira. Ele só não teve a canoa destruída porque ela estava guardada no rio que fica próximo ao local. Mas a mesma sorte não teve Franciane da Silva Santos, que contou que o barco o qual o marido usava para tirar o sustento da família ficou bastante danificado. ?Agora a gente vai precisar de ajuda, pois não temos condições de colocar a canoa no mar?, disse.

Foto: Divulgação

Depois, os tratores tentaram cobrir a caliça com a areia da praia.

A ressaca aconteceu por volta das 3h de domingo. Segundo os pescadores, não se formaram ondas altas, porém a violência com que a água chegava na orla era tanta que ninguém conseguia ficar no local. Eles contaram que muitas pessoas se machucaram porque tentavam desesperadamente segurar os barcos, o que era impossível devido ao tamanho das embarcações. Dos cerca de 60 pescadores de Matinhos, apenas dois saíram nesta segunda-feira para pescar.

Prefeitura

Depois dos prejuízos causados durante o final de semana, os pescadores reclamam que a situação ficou ainda pior, já que eles não têm acesso para chegar com os barcos até o mercado de peixe. Isso está acontecendo porque em frente ao mercado a água já tomou conta da faixa de areia. Além disso, as pedras que foram colocadas na tentativa de conter as águas, criaram uma barreira impossibilitando que os pescadores cheguem até a praia.

Para o pescador Solano Alves de Lima, a solução seria canalizar o rio que fica próximo ao local, o qual serviria de acesso, bem como de abrigo para os barcos. A mesma opinião tem Alessandro Luiz da Silva, que garantiu que os pescadores até se propõem a fazer um mutirão para realizar a obra. Na avaliação de Daniela Cristina Gut de Oliveira, isso resolveria parte dos problemas dos pescadores. ?O turista reclama do peixe, que está caro. Mas o problema é que com essas coisas a gente ganha hoje e perde amanhã, o que inviabiliza nossa atividade?, falou.

Durante uma audiência com o prefeito de Matinhos, Francisco Carlim dos Santos, os pescadores conseguiram a garantia de apoio. De acordo com Francisco, a Prefeitura está na dependência do governo do Estado licitar o obra de dragagem do canal da Galheta, no Porto de Paranaguá. ?A areia que será tirada de lá vai servir para engordar a praia aqui em Matinhos?, falou. O prefeito também se comprometeu em pedir ajuda financeira para os pescadores que tiveram seus barcos e equipamentos perdidos com a ressaca.

Pessuti anuncia investimentos para 2007

Roger Pereira

Na tarde de ontem, o vice-governador Orlando Pessuti recebeu em seu gabinete os representantes da Colônia de Pescadores Z4, de Matinhos. Na reunião, o presidente da colônia, Mário Jorge Hanek, expôs o problema que já afeta o litoral paranaense há 15 anos, mostrou fotos da última ressaca e um levantamento dos prejuízos por ela causados. Além de um ressarcimento de R$ 12 mil, a colônia cobra do governo do Estado medidas de longo prazo, para conter novos acidentes naturais.

O vice-governador reconheceu que a situação do litoral é complicada, disse estar acompanhando de perto e prometeu destinar recursos para solucionar o problema. Pessuti convidou o secretário de Desenvolvimento Urbano, Luiz Forte Netto, que explicou aos pescadores os projetos do governo do Estado para a recuperação da orla, num investimento de cerca de R$ 15 milhões que deve entrar apenas no orçamento do próximo ano.

Sobre o problema emergencial dos pescadores, Pessuti prometeu mobilizar a Defesa Civil e as secretarias estaduais da Agricultora e de Trabalho e Emprego e Promoção Social para nos próximos dias encaminhar uma solução.

Prefeitura joga restos de construção na praia

Lígia Martoni

A Prefeitura de Matinhos adotou uma medida polêmica para amenizar os efeitos da ressaca na praia: colocou caliça – restos de material de construção – entre a calçada e a areia. A justificativa é oferecer uma proteção paliativa contra a subida da maré. Mas a solução gerou controvérsias, já que o material, mesmo depois de coberto com areia, ainda deixa pontas de concreto e ferro expostas. Além disso, da próxima vez que o mar avançar, existe risco de levar a areia superficial e arrastar a lama, junto com os entulhos, para a água.

O processo de colocação do material, há uma semana, gerou revolta nos moradores. Durante um dia inteiro os caminhões da Prefeitura trabalharam colocando a caliça com terra sobre os buracos deixados pela ressaca, entre os balneários Flamingo e Praia Grande, e retirando areia da praia para cobrir o material. O morador Márcio Miranda, que acompanhou o processo, disse que muita gente se reuniu em torno dos funcionários protestando contra a alternativa. ?O que todo mundo pede é que se arrume a praia, mas não daquele jeito. Tem entulho para todos os lados, barras de ferro quase um metro para fora?, protestou. ?Da próxima vez que a maré subir vai tirar a areia de cima, junto com o caldo vermelho da terra, e deixar o entulho exposto. Aquilo ainda vai machucar alguém?, desabafou Miranda.

O prefeito de Matinhos, Francisco Carlim dos Santos, parece não ver problemas na medida que tomou. Ele afirma que usou o material que tinha para proteger as residências que ficam em frente ao mar. ?Os moradores reclamam, mas também estavam reclamando que a maré estava subindo e poderia afetar as casas deles. O que poderíamos fazer no momento era isso.? Questionado se a areia que cobre o material pode oferecer perigo aos freqüentadores da praia, ele responde: ?A maré não leva porque, quando ela sobe, o concreto afunda. E agora não é época de banho?.

Técnicos do IAP farão hoje uma vistoria no local. Caso classifiquem o material como passível de causar danos ambientais, a Prefeitura de Matinhos deve ser notificada.

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