Resíduo de esgoto pode ser usado na irrigação

É possível usar um dos resíduos do esgoto tratado, o efluente, para irrigar as plantas e lavouras, aumentando a produtividade da área e ainda poupando os rios da poluição. Esse foi o resultado alcançado na pesquisa realizada pelo londrinense Adriel Ferreira da Fonseca, doutorando na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, vinculada à Universidade de São Paulo (USP). O projeto foi vencedor do 25.º Prêmio Moinho Santista Juventude na categoria Desenvolvimento Sustentável.

O pesquisador explica que há várias maneiras de tratar os esgotos. Uma delas é o uso de lagoas de estabilização, usada principalmente em cidades de pequeno e médio portes, por oferecer um tratamento eficiente sem gastar energia elétrica. Como resultado do processo, há o lodo (resíduo do material que se sedimentou no fundo da lagoa) e o efluente, a parte líquida do esgoto tratado. “Mesmo passando por todo o tratamento, o esgoto não atinge os parâmetros estabelecidos pela resolução n.º 20, de 1986, do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Ainda permanecem altas concentrações de nitrogênio e fósforo”, explica Fonseca.

Mesmo assim, o esgoto tratado é lançado nos rios, o que origina a eutroficação, que consiste em um crescimento excessivo de plantas aquáticas (algas), pela enorme presença dos nutrientes. Elas acabam consumindo todo o oxigênio da água do rio, não permitindo a sobrevivência de peixes e outras espécies de animais. “O rio perde totalmente a vida. O lançamento causa um grande impacto ambiental”, classifica Fonseca.

A solução imediata seria a instalação de outro nível de tratamento do esgoto, que purificaria ainda mais o processo. Mas custa muito caro, o que é inviável para a maioria dos municípios brasileiros. Baseando-se nessa constatação e na bibliografia das experiências em outros países, o pesquisador acreditou que era possível utilizar o efluente de esgoto como forma de substituir a água na irrigação de plantas. A experiência começou em vasos, com resultados satisfatórios por causa da quantidade de nutrientes presentes nesse subproduto do esgoto. “Devido à pobreza do solo brasileiro, não foi possível isentar a aplicação de fertilizantes, mas as doses foram diminuídas”, comenta Fonseca.

Depois disso, os testes foram feitos em uma área de capim e em uma cultura de milho na cidade de Lins (SP). “Foi verificado que houve uma economia de 50% do uso de fertilizante apenas irrigando com o efluente”, afirma o pesquisador. “Isso mostra que se pode substituir a água de boa qualidade na irrigação, deixando-a para o consumo humano, e ainda não poluir o curso dos rios. Além disso, permitiu redução nos custos e aumento de produtividade.”

Por enquanto, a descoberta está no âmbito de pesquisas. Faltam estudos de saúde pública para comprovar se o efluente é patógeno ou não. Por isso, ainda não há contato direto com as plantas irrigadas. Fonseca acredita que o projeto terá viabilidade a curto prazo, mas para isso precisa ainda definir critérios de uso e qualidade, além da garantia de não haver a contaminação humana. “O projeto será empregado dependendo da vontade política e da aprovação da sociedade. Ainda precisamos esperar a legislação sobre o reaproveitamento da água, que está na fase de elaboração”, conclui.

Pioneiro

O projeto foi considerado pioneiro pela banca avaliadora do prêmio. O pesquisador receberá medalha, diploma e um cachê de R$ 30 mil em uma cerimônia no dia 30 de setembro no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, presidida pelo governador Geraldo Alckmin.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo