Eduardo requião não poupou |
"Querem transformar o acidente em um grande negócio, mas nós não vamos permitir." A afirmação é do superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA), Eduardo Requião, que garante que ao invés de encontrar formas para conter os prejuízos provocados pelo vazamento de óleo, as empresas responsáveis pelo acidente estão discutindo os valores financeiros que serão empregados. Três dias após o acidente, afirma Requião, elas não teriam providenciado a estrutura necessária para conter o vazamento. "Fala-se em US$ 10 milhões, e o acidente virou um negócio", ponderou.
O superintendente do porto disse que existe uma intenção das empresas de responsabilizar o porto pelo acidente. "O problema ocorreu dentro do navio que estava em um terminal privado", falou Requião, acrescentando que o Porto não poderá sofrer com essas distorções. Ele imputou toda a responsabilidade do acidente à empresa Cattalini, bem como pela falta de controle do acidente. "Se eles tivessem agido adequadamente logo após o acidente, as proporções seriam bem menores", falou. O superintendente disse ainda que as empresas envolvidas querem que o porto empregue recursos do Estado no acidente. Mas ele já descartou essa possibilidade.
Para Eduardo Requião, o silêncio do capitão do navio, Jaime Lopes, é um comportamento muito estranho. "Ele não falou com ninguém porque estava abalado, mas não saía de perto dos representantes da seguradora", disse. Independente da nacionalidade do navio, Requião disse que as empresas terão que se responsabilizar pelo dano.
Eduardo Requião disse ainda que, desde que assumiu a superintendência da APPA, vem buscando apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Ministério dos Transportes e da Agência Nacional de Transportes Aqüaviários (ANTAq) para projetos ligados às melhorias na infra-estrutura do Porto de Paranaguá. O superintendente reclamou que, no entanto, em nenhum momento recebeu aval para seus projetos. "Não é possível que deputados federais venham até aqui para pedir a liberação de transgênicos e que, na hora em que o porto precisa de todo apoio, desaparecem. Eles ficam preocupados com os ratinhos do porto, ao invés de se importar com os ratos de gravata", denunciou. "É um descaso com este porto, que vai fechar 2004 com uma receita de US$ 8,4 bilhões e crescerá neste ano mais de 30% em relação ao ano passado", acrescentou.
Multas
Além dos terminais da Cattalini e da Transpetro, que foram interditados logo após o acidente, a APPA editou uma portaria ontem determinando a interrupção dos trabalhos também no terminal da Fospar. Eduardo Requião disse que a medida foi bastante questionada, porém ele argumentou que a preocupação é com a segurança, já que eles estavam trabalhando com amônia, e devido à grande movimentação em torno do acidente no terminal da Cattalini, as precauções devem ser redobradas. Requião disse que os navios atracados no terminal público também estão reclamando da quantidade de óleo na região. Para isso, providenciaram um equipamento de sucção para tentar retirar o material.
Considerando que houve cumprimento das exigências das autoridades ambientais para medidas de contenção dos vazamentos de óleo, o Ibama multou em R$ 250 mil/dia a Cattalini Terminais Marítimos (operadora do terminal), a Wilson Agência Marítima (responsável pela documentação do navio), a Kuhzmann Surveyos e Consultores (representante da seguradora) e a Sociedad Naviera Ultragas (fretadora do navio). Esses valores poderão ser revistos quando os órgão ambientais avaliarem que os trabalhos são satisfatórios.
A Cattalini não quis se pronunciar e evitou qualquer tipo de contato com a imprensa, ao contrário do ocorrido no dia seguinte ao acidente.
Temporada deve ficar comprometida
A temporada de verão no litoral do Paraná deverá ser comprometida devido ao vazamento de óleo do navio chileno Vicuña. A afirmação foi feita ontem pelo presidente do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Rasca Rodrigues, durante uma coletiva de imprensa no Porto de Paranaguá. Segundo ele, devido à falta do pronto atendimento logo após o acidente, o óleo se espalhou e vai chegar até as praias. A Ilha do Mel e o balneário de Pontal do Sul já foram afetados.
O presidente do IAP explicou que o metanol já queimou durante a explosão ou se diluiu na água. Porém o óleo tende a ficar com uma camada mais espessa, mas não desaparece facilmente. Ele acredita que em 30 ou 45 dias haverá condições de fazer uma análise mais profunda dessa situação, mas que em hipótese alguma as pessoas deixem de ir ao litoral. "Vamos fazer coletas para ver a balneabilidade e o conselho agora é que as pessoas evitem entrar na água onde tiver manchas de óleo", falou Rodrigues.
O navio Vicuña estava carregado com 14 mil metros cúbicos de metanol, 1.150 toneladas de óleo e 120 toneladas de óleo diesel. Antes da explosão, 7 mil toneladas de metanol já haviam sido descarregadas, e até agora ninguém soube precisar quanto de material foi despejado no meio ambiente. Quatro dias depois do acidente, o óleo ainda continuava vazando do navio.
Sindilitoral
O acidente com o navio chileno Vicuña já trouxe reflexos negativos para o turismo no litoral. Segundo o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares, Casas Noturnas e Similares do Litoral Paranaense (Sindilitoral), José Carlos Chicarelli, várias reservas foram canceladas, inclusive em áreas que não foram afetadas pelo óleo. "Se houver maiores prejuízos, vamos cobrar medidas reparadoras dos responsáveis", afirmou.
Chicarelli passou a tarde de ontem ligando para comerciantes de Guaraqueçaba, Ilha do Mel, Pontal do Paraná e Paranaguá para fazer um levantamento da situação. Segundo ele, ouviu muitas reclamações e a preocupação com redução de turistas durante a alta temporada é grande.
Chicarelli apontou como um dos problemas a falta de divulgação de informações que esclareçam a população. "Nem todo o litoral foi afetado, mas as pessoas não sabem disso", fala.
O presidente da Associação dos Barqueiros da Baía do Litoral Norte do Estado do Paraná, Zoel Pereira, também está apreensivo. Segundo ele, o movimento de pessoas interessadas em fazer as travessias para as ilhas já caiu um pouco. "São 100 pais de família que dependem do trabalho", diz. Chicarelli afirma que, se os prejuízos se confirmarem, o setor vai exigir medidas reparadoras. Uma delas é divulgação maior do litoral do Paraná. (Elizangela Wroniski e RO)
Encontrado terceiro corpo
De acordo com a Capitania dos Portos do Paraná, durante um mergulho exploratório feito ontem por técnicos da empresa Svitzer Wijsmuller, contratada para essa atividade, foi constatado que existem rasgos no casco, na região da proa a boreste, sem possibilidade de bujonamento. A partir de agora também podem se desenvolver ações para a retirada do óleo.
Durante o mergulho, os técnicos também avistaram um corpo preso aos destroços no navio. Porém não houve condições de realizar o resgate. Outra informação no começo da tade de ontem dava conta que o quarto corpo tinha sido avistado próximo a Ilha da Palmas. O Corpo de Bombeiros foi verificar a informação, porém constatou que se tratava de duas bóias de cor laranja que estavam amarradas. Continuam desaparecidos o chileno Ronald Pena Rios e o argentino Alfredo Omar Vidal. (RO)
Equipes buscam animais contaminados
Equipes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR) percorreram ontem as baías de Paranaguá, Antonina e Guaraqueçaba para verificar a situação dos animais depois do grande vazamento de óleo combustível causado pela explosão no navio chileno Vicuña na noite da última segunda-feira. Como havia muitos relatos de pescadores e comunidades locais sobre a presença de animais mortos, os técnicos resolveram realizar a busca. O acidente já é considerado o maior desastre ecológico na Baía de Paranaguá. De acordo com o Ibama, as manchas de óleo atingiram manguezais, o Parque Nacional do Superagüi e a Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba.
No final da manhã de ontem, havia a informação de que muitas aves estavam com as asas sujas de óleo. Isso acontece quando elas tentam mergulhar na água para se alimentar com algum peixe. No retorno, não conseguem voar e acabam morrendo afogadas. Além das aves, quatro botos e duas tartarugas foram encontrados mortos. Eles foram localizados em áreas perto do local do acidente e em lugares mais distantes, como a Ilha das Peças, Ilha do Mel e a Praia do Pasto. Estudos serão realizados para constatar se as mortes realmente foram causadas pela contaminação da água.
A bióloga do núcleo de fauna do Ibama, Cosette Xavier da Silva, explica que os animais vivos e os mortos foram levados para uma enfermaria improvisada em uma sala da Cattalini Terminais Marítimos, empresa que fazia o descarregamento do metanol no momento da explosão. Ontem à tarde, um contêiner hospital, vindo de Itajaí (SC), foi montado em frente à igreja do Santuário de Nossa Senhora do Rocio para servir como ponto operacional para o recebimento dos animais.
De acordo com um dos coordenadores da fiscalização do Ibama, João Antônio de Oliveira, foi criada uma infra-estrutura de fauna para esse tipo de atendimento. Quatro equipes passaram todo o dia de ontem em busca de outras espécies e, hoje, organizações não governamentais devem se juntar ao Ibama para ampliar os trabalhos.
O tratamento disponibilizado pelas equipes do Ibama tem como objetivo minimizar os estragos causados pelo impacto ambiental. "Uma pomada é colocada nos olhos do animal para proteger esta parte do corpo. Depois, avaliamos os bichos, lavamos com detergente e fazemos todo o tratamento veterinário. Eles serão mantidos no local até alcançarem condições de soltura. Isso vai depender de uma avaliação da temperatura e da própria mancha de óleo", explica Cosette. Ela esclarece que alguns animais se recuperam mais rápido, enquanto outros necessitam de cuidados maiores. "Esperamos que não venham tantos animais", conta Cosette.
As equipes dos órgãos ambientais presentes no litoral do Paraná e da Defesa Civil estão pedindo para a população local repassar informações sobre possíveis animais mortos ou em estado crítico devido ao vazamento de óleo. As entidades formaram ontem um centro de captura de animais. Quem encontrar bichos nessas condições pode ligar para o telefone (41) 420-3500. (Joyce Carvalho e RO)