Com o advento dos relógios de segunda linha, a maioria vindos do Paraguai, a profissão de relojoeiro perdeu mercado. Devido ao valor do material, quando um relógio estraga, as pessoas preferem comprar outro a mandar consertar. Esse panorama também afetou a formação de novos profissionais. Já não existem escolas para ensinar o ofício. A maioria aprende com alguém da família. Um bom relojoeiro leva até 6 anos para ser lapidado.
Nos últimos anos, as pequenas oficinas foram fechando as portas e só as grandes redes estão de portas abertas. Dessa forma, pode-se dizer que a profissão de relojoeiro só sobrevive porque passa de pai para filho. O chefe da oficina Technos da Amazônia, Eder Olicheski, fala que o mercado de trabalho é bem fechado. A maioria das pessoas que trabalha na área foi indicada: são filhos ou parentes de alguém que já atua nesse segmento. No entanto, boa parte só sabe o básico. ?Só se aprende na prática. Se demora para lapidar um bom profissional, pode levar até uns seis anos?, calcula Eder.
Valdir Cestari, 49 anos, se encaixa bem nesse perfil. Ele aprendeu a profissão aos 13 anos quando morava no interior do Estado. Depois veio para Curitiba e ganhou experiência. Agora a história se repete com um dos seus filhos, que aprendeu a profissão em casa. O jovem ganha a vida trabalhando em uma oficina no município de Contenda.
Guilherme Bordini da Silva, 38 anos, também aprendeu a profissão com o pai, que era guarda municipal e fez o curso por correspondência. O pai de Guilherme trocou de atividade porque o salário compensava, principalmente as comissões. Mas hoje Guilherme vive outra realidade. Com o advento dos relógios de segunda linha, pouca gente procura as lojas em busca de conserto, que custam no mínimo R$ 25. ?O valor não compensa. Elas compram outro?, fala. Se depender dele, o filho de 8 anos não vai levar adiante o ofício. ?Vejo muitos colegas que perderam o emprego e não conseguem nova colocação?, explica.
Donizete Gomes aprendeu a arte de consertar relógios por correspondência e há 25 anos atua nessa profissão. Hoje trabalha na relojoaria mais antiga de Curitiba, a Progresso. Ele também anda desmotivado com o mercado e com a falta de bons profissionais. ?Há 17 anos não tiro férias porque não tem ninguém para colocar no meu lugar?, conta. Ele tem um filho de sete anos e também não encontra justificativas para motivar o filho a seguir a mesma profissão.
Prazer
Mas se por um lado o ofício enfrenta tantos problemas, Donizete confessa que se sente realizado quando pega relógios mecânicos com mais de 100 anos. Ele sabe que tem nas mãos um tesouro, seja pelo valor de mercado ou pelo sentimental.