Mais da metade das rodovias paranaenses estão em estado ruim ou deficiente. Esta é a conclusão do relatório anual da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), apresentado ontem em Brasília. Uma equipe de profissionais percorreu as principais estradas estaduais e federais do País e constatou que 74,7% da extensão pesquisada apresenta algum grau de imperfeição.
Desse total, 36,4% estão deficientes, 23,7% ruins e 14,6% em péssimo estado. Apenas 25,3% se encontram em ótimo ou bom estado. Em todo o País foram analisados 74.681 quilômetros, sendo 8.638 km na região Norte, 21.582 km no Nordeste, 11.052 no Centro-Oeste, 20.612 no Sudeste e 12.797 no Sul.
Em 2003, a CNT fiscalizou 56.798 km e encontrou 74% de trechos com problemas e 26% de estradas boas. A coleta de dados para o relatório atual foi feita entre 28 de junho e 29 de julho. Catorze equipes, formadas por pesquisadores e motoristas selecionados pela CNT, foram os responsáveis pelo estudo. Ao todo, foram percorridos 109.829 km, resultando nos 74.861 avaliados. Esse estudo vem sendo realizado pela CNT desde 2000.
Segundo o documento, do total de 4.037 quilômetros de rodovias avaliadas no Paraná, 2.341 estão em estado deficiente ou ruim, 1.664 estão em bom estado e apenas 32 quilômetros estão em péssimas condições. O pior trecho se encontra na PR-460, entre as cidades de Iretama e Pitanga, na região Central do Estado. Entre os trechos ruins no Paraná estão a BR-158, BR-163, BR-272, BR-476, PR-090, PR-281 e PR-092. Com deficiência, aparecem as rodovias BR-475, BR-153, BR-116, BR-373, PR-508, e os trechos da PR-582/BR-163, PR-182/BR-163 e PR-280/BR-280. Em bom estado aparecem as rodovias privatizadas no Estado. Os trechos administrados pelas seis concessionárias tiveram bom desempenho na avaliação da CNT.
DER
O Departamento de Estradas de Rodagem (DER) informou que os critérios utilizados pela CNT foram subjetivos, levando em conta a análise técnica normalmente usada. Segundo o diretor-geral do DER, Rogério Tizzot, o relatório da CNT verifica, por exemplo, o conforto do motorista durante a viagem, não destacando questões técnicas. Além disso, o órgão estadual afirmou que a análise misturou as malhas estaduais e federais. “É um critério a ser considerado, mas nem todos os trechos que constam no relatório estão em más condições”, disse Rogério.
Exemplo
Como exemplo do trabalho que vem sendo realizado pelo DER, Tizzot destacou a PR-092, que está sendo recuperada em 43 quilômetros, entre as cidades de Jacarezinho e Wenceslau Braz, no Norte Pioneiro. Outro ponto levantado pelo diretor do DER foi a PR-182, que vai de Guaíra até Toledo, no Noroeste, e que também está passando por uma restauração. “Aquelas obras que ainda não foram iniciadas, estão em processo de licitação para que os trabalhos possam começar”, destacou. Até novembro, o DER espera concluir 1.837 km, definir a recuperação de mais 646 km com financiamento do Banco Mundial e outros 450 km em parceria com o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran). “Acredito que na próxima avaliação da CNT o resultado será diferente, pois os trabalhos estão sendo realizados”, conclui Tizzot.
O diretor do Departamento Nacional de Infra-Estrutura Terrestre (Dnit), Rosalvo Gizzi, estava em Brasília e não tinha conhecimento do relatório da CNT. Ele vai se pronunciar sobre o assunto hoje, depois de se inteirar da avaliação.
Estradas ficam com 20% da Cide
Brasília – Segundo a pesquisa da CNT, as estradas privatizadas lideram a lista das melhores do País. Mesmo assim, o presidente da entidade, Clésio Andrade, alerta que o capital privado tem poder limitado. Ele poderá resolver problemas da logística, acabando com os gargalos nos principais corredores de escoamento da produção, mas não resolverá os problemas rodoviários como um todo, nem mesmo com a Parceria Público Privada (PPP). “As PPPs podem ser usadas em cerca de 3 mil quilômetros de rodovias, mas nós temos mais de 70 mil km de estradas”.
A solução, segundo Andrade, é o governo investir pelo menos R$ 50 bilhões nos próximos cinco anos em infra-estrutura de transportes, incluindo portos, ferrovias e hidrovias. Dinheiro no Tesouro há, afirma ele, pois a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) cobrada sobre os combustíveis, gera cerca de R$ 10 bilhões por ano. Desse total, apenas R$ 1,9 bilhão está sendo usado em transporte neste ano.
