Campo de batalha

Reintegração de posse termina em batalha campal

Não foi pacífica a reintegração de posse do terreno invadido em setembro no bairro Campo Comprido, em Curitiba. Ontem de manhã, moradores tentaram reagir à ação da polícia, que chegou ao local por volta das 7h.

Avisados sobre a desocupação, eles montaram barricadas e colocaram fogo em pneus, fechando a Rua João Dembinski. De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), três pessoas acabaram presas – duas por porte ilegal de armas e outra por desacato. Outras três ficaram feridas, porém, sem gravidade.

Com faixas e uma bandeira do Brasil nas mãos, os integrantes da invasão (cerca de 1.500 famílias) entoaram gritos de guerra e cantaram trechos do hino nacional.

Quando um carro do Corpo de Bombeiros se aproximou para apagar o fogo, algumas pessoas se deitaram no chão para impedir a passagem. Crianças e mulheres foram utilizadas como escudo.

Os policiais iniciaram a entrada na área às 9h25. Durante a ação, mil integrantes da tropa de choque, da cavalaria e do 13.º Batalhão da Polícia Militar (PM) utilizaram bombas de efeito moral e balas de borracha.

Alguns moradores tentaram reagir atirando pedras, mas logo se dispersaram, correndo para ruas próximas. “Cercamos a área invadida, que tem 22 alqueires, e a dividimos em dois setores”, explicou o major do 13.º Batalhão, Luiz Fernando Barbosa, um dos comandantes da ação.

Logo após a entrada da polícia, os moradores começaram a desmontar seus barracos e a retirar seus pertences. Muitos se mostravam bastante assustados e diziam não saber para onde ir.

Era o caso da zeladora Elita Maria da Silva, que estava acompanhada de três filhos, de 15, 13 e 1 ano de idade. “Só queríamos um local para morar. Não tenho condições de pagar aluguel”, desabafou.

Ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) atenderam os feridos: o cinegrafista da TV Comunitária Anderson Leandro da Silva, que foi atingido por uma bala de borracha no rosto; a moradora Zelinda Alves de Moura, que também foi atingida por uma bala de borracha, no tornozelo; e um garoto de oito anos, que sofreu queimaduras de primeiro e segundo graus na perna e em um dos braços.

Na confusão, cinegrafista foi atingido no rosto por bala de borracha.

“Fui pegar uma criança que estava caída no chão e acabei sendo atingida”, contou Zelinda, que antes da invasão vivia com três filhos na casa da mãe. Já o pai do menino vítima de queimaduras, o também integrante da invasão José Maria Coelho, negou que tivesse colocado o filho na linha de frente do confronto. “Queríamos negociar de maneira pacífica. Porém, a polícia agiu de má-fé”, declarou.

Após a chegada da PM, o integrante da Central de Movimentos Populares, entidade que dava apoio aos moradores, Luiz Herlain, entregou à imprensa uma carta aberta à população responsabilizando a prefeitura e a Câmara Municipal de Curitiba pelo que pudesse vir a acontecer.

Carta

“Tudo isso está ocorrendo porque a capital não tem uma política de habitação eficiente”, disse. Logo após o início da desocupação, técnicos da Companhia Paranaense d,e Energia (Copel) desfizeram ligações irregulares de luz feitas pelos moradores.

O terreno no Campo Comprido, pertencente à Varuna Empreendimentos Imobiliários e localizado entre as Ruas João Dembinski e Teodoro Locker, foi indevidamente ocupado no dia 6 de setembro.

A ordem de reintegração de posse da área foi dada em 15 de setembro, pela juíza Julia Maria Tesseroli. O prazo para que as famílias realizassem uma desocupação pacífica terminou há exatamente um mês.

Choro e angústia: assustados, muitos moradores não sabiam para onde ir.
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