Grávida de 8 meses e com um bebê de 11 meses, a dona de casa Ana Cláudia da Silva estava em pânico por ficar sem expectativa de como ficarão as vidas dos filhos e do marido, que é lavrador. “Meu cunhado também mora aqui, na casa da frente. Vamos para onde? Já não sobrava dinheiro para nós quando estávamos aqui e pagando aluguel. Agora, como será?”, lamenta.
A maior preocupação do cunhado dela é com o prejuízo que teve com a reintegração de posse. Com uma casa de alvenaria de quase 60 metros quadrados, ele investiu R$ 8 mil no imóvel. “É o sonho de cada um que está sendo derrubado. Poderiam ter nos dado um tempo para acharmos um lugar para onde ir, para retirar nossas coisas com calma”, afirma o lavrador Luiz Leandro dos Santos.
O pedreiro José Correia do Santos está preocupado com as prestações que ainda têm para pagar do material comprado para erguer a casa. “E agora? Tenho que pagar a prestação e achar outro lugar para morar. Tenho contas para pagar de uma asa que não tenho mais”, disse.
Caminhões da prefeitura ajudaram os moradores a retirar seus pertences e o que era possível salvar de tijolos, madeiras e coberturas. Muitos foram para casa de famílias e aqueles que ficaram desabrigados terão de recorrer à prefeitura para buscar uma solução. A primeira medida do governo municipal é verificar as pessoas que já estão inscritas na fila da Cohab.
A invasão aconteceu no dia 6 de outubro. Logo depois a NAL Administração e Participação Limitada entrou com o pedido de reintegração de posse, conseguindo o mandado no dia 5 de novembro, mas apenas ontem a Polícia Militar, com 465 homens, cumpriu o mandado. A ação será mantida até que todas as casas estejam derrubadas, podendo prosseguir até o final de semana.
Moradores acusam líder de estelionato
A Polícia Civil investiga possível golpe de estelionato que algumas pessoas teriam sofrido ao comprarem lotes no terreno invadido na Avenida Costa Cavalcanti, em Araucária, que teve a reintegração de posse iniciada ontem. Os moradores reclamaram de taxas e prestações que pagavam à Associação de Moradores Jardim Alegre, criada logo após a invasão.
Após o escolher o terreno, com preços entre R$ 2.500 e R$ 3 mil, era preciso desembolsar R$ 350 para fazer parte da associação. Depois, uma taxa de R$ 500 para que a casa recebesse energia elétrica e água. As ligações eram clandestinas. A Copel e a Sanepar fizeram uma única ligação para o terreno, com o restante das redes sendo distribuídas de maneira irregular.
Os moradores acusam João Batista Menezes, conhecido como Polaco, de liderar a associação e ser responsável por receber o dinheiro. Mas ele nega ter ficado com qualquer valor. “Tudo era investido em melhorias das ruas, abastecimento de água e energia para todos. E também no refeitório, que todos podiam usar na associação”, explicou Polaco, que foi encaminhado à Delegacia de Araucária para averiguação. Até o fechamento desta edição, ele continuava prestando depoimento.
Além das taxas, os moradores alertaram para a última conversa que tiveram com Polaco. Segundo eles, todos teriam de assumir uma dívida maior para que os terrenos fossem legalizados. Com uma entrada de R$ 1.500, duas parcelas de R$ 500 e mais 12 parcelas de R$ 250,. “Não recebi esse dinheiro e esta foi a forma que conseguimos de pagar o que a proprietária do terreno queria para vender a área”, explica Polaco.
No entanto, o advogado dos proprietários contesta a informação de Polaco. A justificativa é que nunca houve acordo e que a proprietária só aceitaria vender o terreno se o pagamento fosse à vista. “Ela nunca autorizou venda de lotes. A área não foi loteada. É uma área privada e que tinha espaços de preservação”, contesta Leôncio Belon.
Marcos Borges |
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Invasores estão preocupados com as prestações a vencer do material comprado para erguer as casas. |