Em Cambé, duas pessoas continuam em tratamento para se livrarem de uma criptococose. A doença é incomum e perigosa, mas o fator que a causa é bastante comum e pode parecer inofensivo. Esse tipo grave de micose – que pode deixar seqüelas sérias – é provocado por um fungo (Cryptococus neoformans) das fezes de pombos. As duas vítimas estão em internação domiciliar. A família de uma delas alerta sobre os riscos.

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O empresário Ronald Tkotz, 88 anos, contraiu a doença em 2006. Desde então, já passou por vários tratamentos e, atualmente em casa, é acompanhado pela filha, a médica Viktoria Tkotz. Diante do caso do pai, já em estágio avançado da doença – com complicações neurológicas, ela afirma que os riscos são grandes, não apenas à população de Cambé como de outras localidades, como Londrina. ?Esse fungo fica nas fezes dos pombos infectados. Essas fezes secam e qualquer brisa que passe levanta o pó e os fungos. A infecção se dá por inalação. A maioria das pessoas não desenvolve a doença, mas algumas, por azar, a têm. É preciso alertar que todos estão suscetíveis?, afirma.

O outro paciente tem cerca de 20 anos e é filho do caseiro de Tkotz. O diagnóstico foi dado no início deste ano. Por ser mais jovem, ele está reagindo mais rápido ao tratamento e melhorando gradativamente. Como explicam também os especialistas em zoonoses, pessoas que têm o sistema imunológico prejudicado (ou baixa imunidade) são mais suscetíveis à criptococose, que se manifesta por sinais ?pulmonares, neurológicos e cutâneos inespecíficos? e pode ser fatal. ?Não se trata apenas de dois casos confirmados em um mesmo município, como de vizinhos. Isso é um absurdo em termos epidemiológicos?, alerta a médica.

Ela explica que, além de séria, a criptococose é uma doença de difícil diagnóstico e de tratamento complicado e caro. ?O que é interessante é que o rapaz foi atendido pela rede pública e o médico levantou essa doença rara como primeira hipótese. Ou seja, eles estão em alerta. É urgente que se tome alguma providência para diminuir e controlar a população da ave?, diz a médica.

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Ciente da gravidade do problema, Viktoria também indica que a população pode ajudar. ?Primeiro, não alimentando os pombos. Antes de varrer ou limpar as fezes, é preciso molhar antes. Outra coisa importante é verificar o telhado. Mesmo em casa, a pessoa pode estar se infectando?, alerta.

No último mês de agosto, a região de Londrina enfrentou um grande problema por conta da superpopulação de pombos. A discussão gerada levou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a autorizar o abate de 50 mil, por uma questão de saúde pública.

Pombos

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A Secretaria de Saúde de Cambé informou que como as doenças provocadas pela ave não são de notificação obrigatória, eles não têm como repassar informações sobre os casos. A Secretaria de Saúde de Londrina também informou que não tem informações oficiais e que, com a solução paliativa de 2006, a preocupação com o problema já não é tão grande.

Apesar da Saúde de Londrina não comentar, em entrevista concedida há onze dias, o secretário de Meio Ambiente do município informou a O Estado que a preocupação atual era com a gripe aviária. Como traz a matéria do último dia 12, a estimativa era de que há na cidade mais de 170 mil pombos. O secretário Gerson da Silva disse na acasião que as autoridades locais estão estudando meios de ficar livres dos riscos e das aves, novamente.