Lucimar do Carmo / O Estado do Paraná |
Cadeiras simbolizando as vagas transferidas da rede pública para a particular. |
A reforma universitária proposta pelo governo federal foi o tema central das discussões, ontem, entre as comunidades interna e externa da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pela manhã os membros do Conselho Universitário estiveram reunidos para conhecer melhor os pontos da proposta. E ao longo do dia, uma série de atividades foram realizadas em Curitiba para informar a população sobre o assunto.
De acordo com o reitor da UFPR, Carlos Moreira Júnior, os pontos da reforma são muito complexos e podem trazer benefícios ou prejuízos para o ensino público no País. Entre os pontos citados pelo reitor está a proposta de ampliar dos atuais 13% para 30% o ingresso de jovens entre 18 a 24 anos nas universidades públicas até 2010. Hoje existem 105 mil estudantes no Paraná cursando o terceiro ano do ensino médio, ao passo que existem apenas 15 mil vagas no ensino superior público. A medida do governo, diz Moreira, é necessária para ampliar o acesso. “Porém, é preciso dar condições para as universidades absorverem esse contingente”, ressaltou.
Outra questão trata do financiamento das universidades, que viria de dois fundos diferenciados: manutenção e desenvolvimento. Isso, segundo o reitor, poderia ferir a autonomia das instituições. O governo também pretende implantar uma proposta acadêmica em dois ciclos, onde o aluno receberia um diploma de formação geral, após dois anos de estudos, e outro de formação específica, após mais dois anos. Essa alternativa, entende Moreira, é positiva, pois poderia reduzir a evasão escolar, que hoje varia de 30% a 35%.
Na frente
O reitor fez questão de frisar que alguns pontos abordados no projeto da reforma já foram implantados pela UFPR. Entre eles estão o aproveitamento de vagas ociosas na universidade, o sistema de cotas para minorias e o conselho de avaliação comunitária. “A UFPR saiu na frente em termos de modernização da nossa estrutura e já atende os objetivos dessa proposta”, finalizou.
Alunos e professores se dizem contra
Durante a tarde, estudantes e professores seguiram em passeata do prédio da Reitoria até a Praça Santos Andrade. Eles se posicionaram contra a reforma universitária proposta. Um dos pontos mais criticados é o Programa Universidade para Todos (ProUni), no qual universidades particulares destinariam até 20% de vagas para alunos de escolas públicas em troca de redução de impostos.
Para Maria Suely, presidente da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR), o governo deveria cobrar o imposto e investir nas universidades públicas, aumentando a oferta. Os estudantes fizeram até uma torre com carteiras empilhadas mostrando as vagas públicas sendo transferidas para as particulares.
A lei da inovação tecnológica também está sendo duramente criticada. Maria Suely afirma que ela vai permitir que professores montem empresas de pesquisa fora da universidade e, se der certo, corre-se o risco de o docente não voltar mais para a instituição. Além disso, o conhecimento gerado através de uma pesquisa patrocinada não poderá ser divulgado, já que pertence à empresa que investiu os recursos.
Segundo a primeira secretária do Andes – Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino Superior, Milena Martinez, em todo o País existe uma grande mobilização contra a reforma. “Mas são poucos os resultados obtidos, já que o governo está acelerando a reforma. As mudanças não foram discutidas com as universidades”, ressaltou.
Sem solução
Para o coordenador geral setorial do Diretório Central dos Estudantes (DCE), André Castelo Branco Machado, a reforma universitária não resolve os problemas que a universidade já acumula, como falta de verbas, professores e estrutura. O estudante também disse que o governo está fragmentando a proposta da reforma através de medidas provisórias, como forma de conseguir a sua aprovação. “É uma estratégia para conseguir enganar a população e ter sua aplicação garantida”, definiu. (Elizangela Wroniski)