O ano de 2003 – primeiro das gestões Requião e Lula, nas administrações estadual e federal, respectivamente -, foi marcado pela negociação ao extremo entre os movimentos sociais de luta pela terra e a administração pública. A condução das reintegrações de posse de maneira pacífica e, principalmente, o anúncio da compra da Fazenda Araupel, em Quedas do Iguaçu, para se tornar um modelo de reforma agrária, agradaram em cheio ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Todavia, como prega o ditado, não se pode agradar a gregos e troianos. Desta vez os desagradados foram os grandes proprietários rurais. A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) divulgou um relatório das ocupações de propriedades rurais no Paraná em 2003. Num tom crítico, os grandes proprietários utilizam números e matérias de jornal como argumentos para mostrar o que foi feito na questão agrária este ano.
O relatório é compreendido entre novembro de 2002 e outubro de 2003. Os números da Faep apontam que em 2003 foram ocupadas 53 propriedades, das quais 25 foram reintegradas por ação do governo ou acordos entre proprietários e sem-terra. Mesmo assim, segundo o relatório, 65 propriedades ainda continuam ocupadas no Paraná. A área total ocupada é de 58.137,8 hectares.
Das 25 áreas reintegradas, quinze foram com uso de força policial. Acordos solucionaram o problema das outras dez restantes: Núcleo Bacia do Rio das Cobras, em Quedas do Iguaçu (posteriormente vendido ao governo federal); Fazenda Impérios (Cândido Abreu); Fazenda Santa Luzia, em Lindoeste; Fazenda Palmeirense, em Teixeira Soares; Fazenda Sonda, em Santa Maria do Oeste; Fazenda Laranjeiras/Rio Bonito, em Rio Bonito do Iguaçu; Fazenda Bufadeira, em Três Barras do Paraná; Fazenda Itaporã, em Ramilândia; Fazenda Irmãos Greggio, em Laranjal; e Fazenda Matão, em Ortigueira.
Desânimo
O presidente da Faep, Ágide Meneguette, abre o documento com um texto onde procura sintetizar o estado de ânimo do produtor rural paranaense. ?O prejuízo da reforma agrária, hoje, é de quem produz. Nem as áreas produtivas estão sendo respeitadas?, diz o relatório.
Meneguette caracteriza a administração Jaime Lerner como ?um período de arrefecimento nas invasões de propriedades rurais, resultantes da disposição do Executivo estadual em cumprir as determinações judiciais de reintegração de posse?.
