Dados levantados pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) mostram que a Hepatite B foi a doença prevenível por vacina que registrou maior queda nos índices de cobertura entre os anos de 2015 e 2021 no Paraná. Em 2015, a vacinação contra essa doença alcançou 88,74% do público-alvo. O índice de cobertura baixou para 57,18% no ano passado, uma queda de mais de 30 pontos percentuais. A imunização contra outras doenças também teve redução preocupante e liga um alerta para a volta de doenças já erradicadas no Paraná.
Para reverter essa tendência negativa, a Sesa promete lançar nos próximos dias algumas campanhas de incentivo à vacinação contra a Hepatite B e outras doenças. A informação foi confirmada à redação pelo secretário estadual de Saúde, César Neves.
Médico gastroenterologista de formação, o novo secretário estadual de Saúde disse à reportagem ter uma preocupação especial com essa moléstia. Para Neves, merecem cuidado principalmente os casos crônicos que podem levar à cirrose hepática e à formação de tumores e de câncer no fígado.
“Se formos fazer uma pesquisa básica entre as pessoas nas ruas, no transporte coletivo, creio que poucas saberão que a Hepatite B tem entre suas vias de transmissão o contato sexual. Nós temos que insistir, bater nessa tecla do cuidado do contágio e da importância da vacina. Nós faremos um movimento muito forte, na verdade já demos início a esse movimento aqui na Sesa. A hepatite é meio que esquecida. Não se vê o Ministério da Saúde fazendo grandes campanhas de prevenção, veiculando informações sobre a forma de transmissão. Já estamos agindo nisso, nos próximos dias vamos veicular campanhas de mídia, que creio serem muito importantes para esse papel”, revelou.
Além da Hepatite B, o Paraná também registrou queda na imunização pelas vacinas BCG, contra a tuberculose (de 100% para 77,23%); Hepatite A (94,56% para 77,39%); Meningite Meningocócica C (96,68% para 78,77%); Pentavalente, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, meningite por bactéria Haemophilus influenzae tipo b) e hepatite B (94,4% para 78,23%); Pneumocócica (de 94,15% para 80,46%), Poliomielite (90,5% para 77,19%); Rotavírus Humano (94,21% para 78,41%); e a Tríplice Viral, contra caxumba, sarampo e rubéola (90,55% para 82,45%).
Os motivos apontados pelo secretário para explicar a queda na aplicação de vacinas nos últimos anos são vários. Segundo Neves, os números vêm caindo no estado desde 2015, mas pioraram durante a pandemia. “Primeiro veio aquela determinação do Ministério da Saúde para que as pessoas só procurassem os serviços de saúde em casos de agravamento do quadro respiratório. Isso impactou principalmente junto às mães que deixaram de sair de suas casas e não levaram os filhos aos postos de saúde para cobrir as campanhas vacinais”, explicou.
Outro ponto citado pelo secretário foi a prioridade dada à aplicação das doses das vacinas contra a Covid-19. “Todos os esforços ficaram canalizados naquele momento para que nós contingenciássemos o maior número de vacinas homologadas pela Anvisa para o combate ao coronavírus. Isso fez com que o próprio Programa Nacional de Imunizações, em algum momento, ficasse praticamente suspenso, e isso impacto bastante na vacinação”, detalhou.
Por fim, Neves apontou outros dois fatores que podem explicar a queda nos números de imunização vacinal no Paraná. Um deles teve um impacto indireto nos números: o ataque hacker ao sistema de informações do Ministério da Saúde. Em 10 de dezembro do ano passado o site do Ministério da Saúde foi alvo de um ataque digital. Outros portais administrados pela Saúde, como o ConecteSUS e o Portal Covid, também foram afetados e chegaram a ficar fora do ar.
Outra causa de impacto direto, mas de difícil mensuração: uma “enxurrada de fake news” sobre as vacinas, nas palavras do secretário. “Os ataques que as vacinas vêm recebendo são preocupantes. Nós temos que repudiar veementemente esses ataques. Isso está na contramão da ciência, e é um desserviço à saúde pública. Aqui não estamos avaliando o mérito de pessoas que optaram ou não por se vacinarem, mormente falando sobre a Covid. Mas nós somos muito enfáticos sobre a questão do convencimento. Contra números não há argumentos. Nós só chegamos a esse patamar de uma estabilidade sustentável na queda de casos, internações e ocupações de leitos e principalmente de óbitos graças à vacinação, não temos dúvida nenhuma”, declarou o secretário.
Além das campanhas de conscientização pela importância das vacinas, a Sesa também está realizando eventos de formação de tutores da saúde. “São pessoas”, define o secretário, “que irão disseminar o conhecimento continuado na atenção primária, na atenção especializada e nas salas de vacina, refazendo o treinamento para as equipes de vacinação e também trazendo estratégias, inclusive de busca ativa nos municípios para que consigamos sensibilizar principalmente as mães a trazerem seus filhos para as salas vacinais”.
O secretário reforçou a importância de duas grandes campanhas de vacinação em curso no Paraná, a contra a gripe influenza e contra o sarampo. A primeira é realizada todos os anos de forma sazonal, entre o outono e o inverno. A segunda está sendo reforçada depois de casos autóctones do sarampo terem sido identificados em São Paulo. Ambas as campanhas foram divididas em duas etapas, com encerramento previsto para o fim de junho. Os primeiros dados preliminares da vacinação devem ser divulgados no início de maio.
O índice esperado de cobertura da campanha contra a gripe é de 90%, e para a vacinação contra o sarampo, de 95%. “Nossa meta é bastante ambiciosa. Tenho certeza de que conseguiremos, estamos em uma luta muito intensa com a ajuda das nossas equipes. Com isso vamos conseguir equilibrar e colocar novamente nos eixos a nossa carteira vacinal, que é absolutamente essencial para termos uma segurança vacinal na nossa população. As vacinas são seguras, elas são importantíssimas”, concluiu o secretário.