Com o início do verão, na última segunda-feira, os cuidados no caso de chuvas intensas e rápidas devem ser redobrados. De acordo com o Instituto Tecnológico Simepar, climatologicamente o verão será uma estação chuvosa no Paraná, e, com isso, o risco de enchentes também poderá ser elevado. Do início do ano até a última terça-feira, a Defesa Civil do Paraná atendeu 346 ocorrências de enchentes, todas na Grande Curitiba.
A mais recente aconteceu um dia após o início da nova estação. Na última terça-feira, moradores da Vila Nova, no Boqueirão, em Curitiba, foram surpreendidos com a força e rapidez com que a água invadiu suas casas. “É impressionante. A chuva durou menos de duas horas, mas em questão de 30 minutos vi minha casa toda alagada. Perdi sofá, geladeira e colchão. Só consegui salvar alguns alimentos porque deu tempo de levantá-los, senão estaria sem comida”, relata a dona de casa Zenilda Izidório.
Há pouco mais de um mês, o mesmo problema atingiu moradores do Uberaba, também em Curitiba. Naquela época, cansados de perder tudo a cada chuva mais forte, eles queimaram pneus e bloquearam ruas pedindo providências. “Temos medo de dormir e acordar com a água dentro de casa. Depois dessas chuvas tive que me prevenir. Agora minha casa está mais alta e com muita coisa pendurada, pois não quero ter que comprar tudo novamente”, diz o morador Thiago Ferreira dos Santos.
A razão para tantas chuvas, segundo a meteorologista Sheila Paz, do Simepar, é a união do calor da época com a umidade vinda da região amazônica. “No verão, as temperaturas se elevam com muita facilidade. Além disso, somos constantemente abastecidos por uma umidade vinda da região da Amazônia. Quando a umidade se encontra com o calor, desencadeia todo esse processo de instabilidade, que gera chuvas intensas e rápidas. Por isso, as mudanças bruscas de temperatura durante o dia são comuns nessa época”, explica.
De acordo com o major Mauricio Aliski, da Defesa Civil do Paraná, a incidência de enchente é um fator de risco para casos de leptospirose, doença transmitida através da urina de rato nas águas da enchente. Febre alta, calafrios, dor de cabeça, dores musculares, vermelhidão nos olhos e pele amarelada são sintomas citados por Aliski típicos da leptospirose. Para se prevenir, o major explica que o essencial é não entrar em contato com a água de enchente, bem como beber água fervida ou clorada e deixar alimentos longe do alcance de animais. Caso seja realmente necessário entrar na água, usar proteção.
Limpeza
De acordo com a prefeitura de Curitiba, um investimento de R$ 7,3 milhões está previsto para 2010, a ser aplicado nos serviços de contenção de enchentes e recuperação de rios que recebem grande quantidade de água em dias de chuva forte. Exemplo disso é o trabalho de limpeza que será feito nos rios Iguaçu, Barigui, Belém, entre outros.
Vida adaptada à natureza
Por conta das constantes inundações, moradores da Vila Rocio, em Morretes, litoral, tiveram que adaptar suas residências para não serem atingidos pela água que desce da Serra do Mar e deságua no Rio Nhundiaquara, alagando as regiões mais próximas à margem. Para a moradora Catarina do Carmo, que vive há mais de trinta anos no local, dia de chuva forte ainda representa insegurança. E para não sofrer com as enchentes, a solução foi levantar a casa – ação seguida pelos vizinhos. “Estávamos cansados de perder tudo a cada vez que chovia mais forte. A solução foi essa, mas ainda temos medo quando o céu fica esc,uro”, revela. Em uma das piores enchentes no local, a água alcançou cerca de um metro. Em Matinhos, moradores também temem quando o céu escurece. “A nossa rua é uma tristeza. Meu muro já caiu, tamanha a força da água da última enchente. Não sabemos mais o que fazer. Vemos obras na orla e nos bairros mais importantes, mas nada disso chega até nós”, reclama Débora Cavalcanti. A equipe de O Estado tentou entrar em contato ao longo da última semana com as prefeituras dos dois municípios, mas em nenhum dos casos foi atendida.
