No dia 27 de junho de 1924, às 11h, foi ao ar a primeira transmissão experimental da Rádio Clube Paranaense. Ela foi feita da casa do técnico Livo Moreira. A primeira música ouvida pelos poucos curitibanos que possuíam aparelho foi Viúva Alegre. Durante 29 anos a Rádio Clube foi a única emissora no Estado. Hoje, ao completar 80 anos, a rádio que começou com apenas 5 watts de potência pode ser ouvida em países como Japão e Nova Zelândia.
Quando foi oficialmente ao ar, a rádio já funcionava em uma mansão que ficava em frente ao Colégio Estadual do Paraná, com o nome de Rádio Clube Paranaense Squif. A transmissão era realizada durante duas horas por dia e tinha um caráter educativo. Na programação, músicas com piano, violão e poesias. O alcance não era muito amplo – eram 5 watts de potência, contra 50 mil hoje. As ondas médias cobrem todo o Paraná e as ondas curtas alcançam vários países.
O ex-radialista e assessor do Grupo Lume, que controla a rádio, Vicente Mickosz, conta que na época a emissora era ouvida apenas pelos amigos, como se fosse um clube. Mas, de 1926 a 1930, acabou ficando fora do ar. Quando retornou, ocupou o prédio Belvedere, no alto do bairro São Francisco, com o prefixo Pran. Em 1933 troca mais uma vez de nome e passa a ser conhecida como Rádio Clube Paranaense PRB-2. Nessa fase, já alcançava todo o território nacional.
Além de ser a precursora do rádio no Paraná, a emissora também deu início às transmissões esportivas. A primeira foi em 1934, um Atletiba que terminou empatado em 1 x 1. No ano seguinte também fez a primeira experiência do Brasil em radioteatro, com a peça Ceia dos Cardeais.
Mas o período áureo da Clube foi entre 1940 e 1960. Chegou a ter 14 novelas diárias, com 70 pessoas contratadas. As histórias eram contadas ao vivo, e o contra-regra tinha que prestar muita atenção ao tipo de som que teria de ser produzido. Não foram poucas as vezes em que ocorreram equívocos, o que exigia muita habilidade dos atores para contornar a situação. Conta-se que em uma das novelas deveria ser produzido o som de um tiro, mas no lugar saiu um mugido. Sem titubear, o ator fustigou: “Não adianta se esconder atrás da vaca que eu te mato assim mesmo”.
A PRB-2 tinha a sua própria orquestra e os programas de auditório caíram no gosto dos curitibanos. No Cassino Ahu se apresentavam artistas conhecidos nacionalmente, como Emilinha Borba, Carlos Galhardo, Vicente Celestino e Orlando Silva. Os 400 lugares do auditório não eram suficientes, e muita gente ficava do lado de fora, esperando para pelo menos poder ver os artistas. O tráfego sempre era interrompido.
Museu
Toda essa história estará registrada em um museu, que deve ser inaugurado nos próximos dias. São 50 mil discos catalogados. Entre eles, vários de 78 rotações, como o Nossa Canção, lançado em 1930 com músicas de Alcides Gerardi e Oswaldo Borba, mais orquestra. “No total foram dois caminhões de discos trazidos para cá”, revela Vicente. Entre as raridades também há LPs da dupla paranaense Nhô Berlarmino e Nhá Gabriela.
O museu abriga ainda aparelhos antigos, e que funcionam, como um gramofone e um rádio “capelinha” da década de 1930. Há ainda reportagens, fotografias e réplicas dos primeiros estúdios das outras emissoras criadas pelo grupo. Também destaca-se uma válvula com mais de meio metro de altura. Eram necessárias quatro delas para pôr a rádio no ar. Hoje são usados transistores de apenas alguns centímetros.
Serviço
– O museu vai funcionar no prédio atual da Rádio Clube Paranaense, à Rua Rockefeller, 1311, e será aberto ao público. Informações pelo telefone (41) 332-2772.