Um avião Bandeirante modelo C-95, do Esquadrão Curinga da Força Aérea Brasileira (FAB), com dezesseis pessoas à bordo, caiu às 11h20 de ontem, em um terreno baldio, à margem do Contorno Leste, em São José dos Pinhais. A passageira Cláudia Stangarelli Guerra morreu na hora. O subcomandante Tôni Gonzaga de Brito e a passageira Maria Cristina Batista Lima, de 32 anos, morreram horas depois, nos hospitais São José, em São José dos Pinhais, e Evangélico de Curitiba, respectivamente. As demais vítimas, com fraturas diversas, foram transportadas para hospitais da Região Metropolitana.
A aeronave, comandada pelo capitão Gláucio Octaviano Guerra, havia decolado do Aeroporto Campo de Marte, em São Paulo, e estava seguindo para Florianópolis (SC). Os passageiros eram militares e suas famílias, que pretendiam passar o fim de ano com parentes.
As causas do desastre ainda são ignoradas, porém há informações de que o piloto chegou a fazer um contato com a torre de controle do Afonso Pena, informando que um dos motores havia apagado. Ele teria tentado uma aterrissagem no recém-inaugurado asfalto do Contorno Leste (BR-116), mas uma provável pane no segundo motor o teria feito descer de bico no terreno baldio. Houve um estrondo no momento da queda e a parte frontal do avião ficou completamente destruída. Os passageiros foram lançados a vários metros de distância.
Socorro
Cláudio da Silva, morador da região, foi um dos primeiros a chegar no local e socorrer as vítimas. Ele percebeu o avião se aproximando do solo e ainda comentou com amigos, afirmando que a aeronave parecia que ia cair. “Eu estava de bicicleta e quando tudo aconteceu coloquei a bicicleta nas costas e saí correndo para o banhado, para ajudar o pessoal. Foi tudo muito triste”, disse, emocionado.
Outro que chegou em seguida no local foi o comerciante Clodoaldo Teles, 27, que também mora na região. “Pelo estrondo achei que era um acidente com caminhão. Depois ví que era um avião”, disse, lembrando que a primeira providência que eles e outras testemunhas tomaram foi de evitar que as vítimas se afogassem, pois estavam atoladas no banhado. “Levantamos as cabeças delas e calçamos com o que era possível, mas evitamos mexer muito nas pessoas, para não causar mais ferimentos”, explicou. Entre as vítimas estavam mulheres e duas crianças.
Clodoaldo ainda chegou a conversar com o piloto e o co-piloto que pareciam não estar feridos com gravidade. Segundo ele, o piloto afirmou que os dois motores do avião sofreram panes e ele fez contato com a torre de comando. “Ele disse que quando liberaram uma das pistas do aerporto para que descesse o segundo motor falhou, então ele viu que não iria chegar e tentou descer no terreno baldio”, afirmou.
Infraero
O coordenador de segurança da Infraero, Antõnio Manoel Lima, confirmou que o piloto fez contato coma torre do Afonso Pena e disse estar em dificuldades, com um motor apagado. Imediatamente foi dado o alerta a equipe de resgate do Corpo de Bombeiros, que ficou de prontidão à margem da pista para efetuar o socorro, porém o avião caiu antes. Segundo Lima, a falha no segundo motor não chegou ao conhecimento da torre.
Como os bombeiros haviam ficado na margem da pista no aeroporto, os populares que testemunharam o acidente ficaram por cerca de 10 minutos ajudando os feridos, até que o socorro chegasse. Os bombeiros retiraram os feridos de perto do avião e passaram a atendê-los, dando prioridade aos que estavam em estado mais grave. Dois dos feridos foram removidos de helicóptero para os hospitais. Os outros treze seguiram em ambulâncias.
Três vítimas ficaram em estado grave e as demais sofreram politraumatismos e estavam internadas nos hospitais Cajuru, Evangélico, Trabalhador, Municipal de São José dos Pinhais, e Angelina Caron, em Campina Grande do Sul. O corpo da mulher que morreu no local foi transportado para o Instituto Médico Legal de Curitiba.
Equipes
Além de toda a equipe de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros de São José dos Pinhais, composta por 23 homens, também trabalharam no resgate e socorro às vítimas bombeiros de Curitiba, socorristas da Ecovia e homens da PM.
De acordo com o capitão Luís Mário Martins Moreira, comandante da equipe do CB, o piloto foi de grande habilidade e evitou uma tragédia maior ao tentar descer no terreno baldio, evitando cair em áreas de grande concentração de residências, como a Vila Quissisana e outras próximas dali.
O laudo que determinará a causa do acidente deverá ser concluído entre 30 e 60 dias, de acordo com a Aeronáutica.
Feridos foram internados em cinco hospitais da região
Mara Cornelsen
O acidente com o Bandeirante da FAB aconteceu a 3,6 km da cabeceira 33 do Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Das dezesseis pessoas a bordo, três eram tripulantes e os demais passageiros. A aeronave era comandada pelo capitão Gláucio Octaviano Guerra, que está internado no Hospital Evangélico de Curitiba. Seu estado é considerado bom. No subcomando estava o tenente Tôni Gonzaga de Brito, que recebeu graves ferimentos e morreu horas depois, na unidade de terapia intensiva do Hospital São José, em São José dos Pinhais. A mulher que morreu no local do acidente foi identificada no fim da tarde de ontem como Cláudia Stangarelli Guerra, que seria a mulher do comandante.
Também foram levados ao Hospital São José o sargento José Mário Ribeiro Correa e sua mulher, Rosilaine Gutierrez Correa, o sargento Maurício Guimarães de Carvalho e o sargento Márcio Sanchez de Queiroz.
Para o Hospital Angelina Caron, em Campina Grande do Sul, foram encaminhados Odair Silva de Almeida, Gionei de Almeida Lima e Luiz Gutierrez Correa, de 9 anos, filho de José Mário e Rosilaine.
Para o Hospital do Trabalhador, em Curitiba, foi levado Almir Alves de Melo, que está com fraturas e em estado de choque. No Hospital Evangélico, receberam atendimento médico o comandante, e Maria Cristina Batista Lima, de 32 anos, que morreu no início da noite.
E para o Hospital Cajuru, também na capital, foram levadas Valdecir Marques Nishibe e Amanda Marques Nishibe, respectivamente mulher e filha do tenente Osmar Toshiaki, internado no mesmo hospital. Os três foram submetidos a cirurgias durante toda a tarde de ontem e deverão permanecer internados na UTI. Também está no Cajuru Haislana Batista Lima, 9, que sofreu fratura de fêmur e não corria risco de morte. Ela é filha de Maria Cristina.
Aeronáutica lamenta
Mara Cornelsen
O Comando da Aeronáutica divulgou uma nota oficial, no início da tarde de ontem, lamentando o acidente ocorrido em São José dos Pinhais, onde caiu o avião Bandeirante da FAB, com dezesseis ocupantes.
De acordo com a nota, a aeronave, modelo C-95, pertencia ao Parque de Material Aeronáutico de São Paulo, sediado no Campo de Marte, e tinha Florianópolis (SC) como destino.
“O comando da Aeronáutica já deu início às investigações para apurar os fatores que contribuíram para o acidente”, diz a nota.
Resgate mobilizou 96 pessoas
Mara Cornelsen
O comando do 6.º Grupamento de Bombeiros, com sede em São José dos Pinhais, informou que um efetivo de 96 pessoas foi mobilizado para o resgate e salvamento das vítimas da queda do Bandeirante. Deste total, 38 eram bombeiros, 25 eram policiais militares, e três eram médicos do CB. Ainda foram mobilizados 6 policiais rodoviários federais, 8 militares do Cindacta II, 4 da Aeronáutica , e pelo menos doze civis voluntários.
Para dar atendimento às vítimas o CB utilizou dois helicópteros, nove ambulâncias, e seis viaturas para diferentes utilidades. A supervisão operacional dos bombeiros esteve a cargo do major Effgen; a coordenação operacional foi de responsabilidade do capitão Moreira e a coordenação médica sob responsabilidade do dr. Marcelo.
C-95 tem utilização civil e militar
Mara Cornelsen
O Bandeirante C-95, fabricado pela Embraer, é considerado um dos maiores êxitos da aviação civil e militar brasileiras. É um avião de transporte médio, com dois motores e que atinge uma velocidade máxima de 452 km/h. Ele é usado pela Força Aérea do Brasil, do Chile, Gabão, Uruguai, Cabo Verde e Colômbia. No âmbito da aviação civil é usado no Brasil, EUA, França, Inglaterra, Colômbia, México, Austrália, Bélgica, e Canadá.
Essa aeronave foi criada a partir de pesquisas desenvolvidas pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA), na década de 60. Efetua missões de transporte de cargas leves e passageiros, além de lançar pára-quedistas em missões de infiltração ou salto livre. Também é usado em missões de busca e salvamento e para aferir equipamentos em aeroportos.