Nem vencedores nem vencidos. A operação policial que fechou dois bingos ontem, em Curitiba, foi apenas uma lamentável demonstração de como as disputas políticas, quando não acontecem apenas dentro desta esfera , podem ser lesivas à população. Baseados num alvará expedido pela Prefeitura de Curitiba, os proprietários de bingo pretendiam reabrir quatro casas de jogo . No final da tarde, uma operação conjunta das polícias Militar e Civil teve início para fechar o Bingo Las Vegas, na Praça Rui Barbosa. Foi quando começou o grande tumulto entre policiais fortemente armados com funcionários do bingo.
O vereador Fábio Camargo (PFL)-autor da lei municipal, que supostamente autorizava a reabertura das casas-contrariou a ação policial e começou a gritar palavras de ordem contra o Governo do Estado. “É a volta à ditadura. Mas não vamos deixar que um secretário inconstitucional e um governador louco façam isto”, dizia, usando a mesa e o microfone do bingo como se estivesse num palanque eleitoral.
Rusga
A estratégia dos quatro bingos era, com a posse do alvará da Prefeitura, reabrir as casas ontem, de hora em hora a partir das 17h. Por volta deste horário representantes da Polícia Militar (PM), e vinte minutos após, do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), estiveram no Bingo Las Vegas, leram o alvará de funcionamento e se retiraram. Uma hora depois, a PM retornou ao local e começou a negociar com representantes do sindicato dos bingos. A negociação já durava quase uma hora, quando exatamente às 18h55 o Cope invadiu o bingo. A ação do Cope chegou a desagradar os negociadores da PM. O capitão Marco Aurélio Paredes Czerwonka chegou a questionar o delegado-chefe do Cope, Marcus Michelotto, sobre a ação precipitada, segundo ele, e que acabou com qualquer tentativa de negociação. “O alvará que eles possuem, não é válido. Por isso nossa operação”, justificou Michelotto.
Nesse momento, os funcionários comandados pelo vereador se revoltaram e começaram a gritar palavras de ordem. Como os policiais do Cope impediam a entrada e saída da sala de bingo , o vereador tentou sair e iniciou outro tumulto que acabou com uma funcionária machucada ao ter seu braço prensado na porta. Camargo, que dizia estar “num cárcere privado”, quebrou então a porta do bingo e, aos berros, convidava as pessoas para entrar. De nada valeu toda confusão. Por volta de 19h45, a PM deu o ultimato a quem ainda resistia: “ou sai em um minuto ou vai ser detido”, afirmou um oficial. Depois disso, os funcionários saíram, mas não desistiram. Foram ao Bingo das Flores, na Ébano Pereira. Houve mais confusão por lá, empurra-empurra com funcionários e, desta vez, com membros da imprensa.
Mesmo com protesto dos proprietários, o bingo também foi fechado.
Agressão
A funcionária Marilza Terezinha Juteu foi uma das vítimas do tumulto generalizado no Bingo Las Vegas. Mesmo dizendo estar ferida, ela se deslocou por cerca de um quilômetro até o Bingo das Flores. Lá, sentada no chão, reclamava da agressão, mas dizia que não queria ser levada ao hospital por um carro da polícia. Os representantes do bingo gravaram o momento em que Marilza se feriu. A fita foi entregue a uma equipe de reportagem da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), veículo que sabidamente vem sendo alvo de críticas do governador Roberto Requião (PMDB).
A PM passou a noite ontem em frente aos dois bingos, impedindo que eles sejam reabertos.
