A frase “Curitiba de todos os povos” é uma afirmação comprovadamente correta. Segundo o Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população da capital paranaense é formada por 1.587.315 habitantes -760.848 homens e 826.467 mulheres. Desse total, 67.131 pessoas (4,2%) vieram de outros estados, principalmente São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Mas a grande maioria veio do interior do Estado. De acordo com o IBGE, essa migração interna representa cerca de 40% da população da capital, ou seja, aproximadamente 635 mil pessoas.
A mudança de perfil de Curitiba começou a partir da década de 70 – quando a cidade registrava 609.026 habitantes. Com o processo de mecanização agrícola, muitos trabalhadores do interior do Estado perderam a atividade no campo e vieram para Curitiba tentar uma nova ocupação. Segundo o chefe da unidade estadual do IBGE do Paraná, Sinval Dias dos Santos, outras conjunturas, como a ocorrência de uma forte geada em 1975, que dizimou os cafezais do Paraná, também contribuíram para a migração. Na década de 90, diz Sinval, “foi a divulgação de Curitiba como a melhor cidade para se viver”, e a industrialização que atraíram uma grande quantidade de pessoas vindas de todos os cantos do País.
O mesmo crescimento aconteceu em cidades da Região Metropolitana. É o caso de Fazenda Rio Grande, que em 1991 tinha 24 mil habitantes e, em 2000, saltou para 70 mil habitantes. Esse fenômeno, afirma o chefe do IBGE, está intimamente ligado à migração da capital. “As cidades da Região Metropolitana acabam se tornando cidades-dormitório, já que as pessoas trabalham em Curitiba, mas moram na região que apresenta atrativos como aluguel e custo de vida mais baratos”, avalia.
Mudança
Mas, acredita ele, esse panorama vem mudando: “As pessoas estão verificando as dificuldades dos centros urbanos, como a cobrança de qualificação profissional, e estão retornando às suas cidades”, observa. “Aliado a isso, muitas pessoas que vieram para Curitiba já conseguiram atingir o objetivo, outros estão se aposentando, e também estão voltando a migrar para outras regiões.”
Programa abriga migrantes
Desde 1971, a Prefeitura de Curitiba, através da Fundação de Ação Social, criou a Casa da Acolhida, que funciona na Rodoferroviária da cidade. O órgão tem a função de receber migrantes que vem à capital em busca de trabalho, para tratamento de saúde, para procurar documentos ou familiares. A assistente social e coordenadora da Casa, Maria de Fátima Nadolny, disse que o órgão segue uma rotina de trabalho para verificar a real necessidade da permanência ou transferência dessas pessoas da cidade. Só no passado, passaram pela triagem da Casa mais de 13 mil pessoas. No primeiros seis meses de 2004, foram 5,5 mil pessoas.
A Casa da Acolhida desenvolve três programas específicos: o Vaga do Trabalhador permite a permanência de pessoas que vieram para a capital em busca de emprego, por até oito dias no albergue do Resgate Social. “Se nesse período ele encontra emprego, nós vamos até o local verificar a veracidade da informação, e a pessoa pode ficar mais 30 dias no albergue, até receber o primeiro salário e se organizar”, explica Maria de Fátima. No período noturno, todos os albergados participam de atividades em grupo, onde são tratados assuntos como orçamento familiar e auto-estima.
Outro programa é o Viva Melhor, que dá apoio no albergue São João Batista para pessoas que vêm a Curitiba para tratamento de saúde. Através das Visitas Domiciliares a equipe da Casa verifica o local onde o migrante está morando. “Isso é feito nos casos em que os migrantes vêm pedir passagem para retornar ao seu lugar de origem”, conta a assistente, que garante que os contatos com familiares ou amigos que irão receber o viajante também são checados. No ano passado, 2.949 pessoas vieram à capital em busca de emprego, 1.993 estavam em trânsito por Curitiba, 1.687 vieram para tratamento de saúde, e 458 vieram de mudança. A grande maioria, 3.921, eram oriundos do interior do Paraná, e os demais, da Região Metropolitana, Santa Catarina e São Paulo.