Disputa

Quase 4 mil fora do vestibular da UFPR

Um círculo formado por candidatos logo na entrada do campus Agrárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR) traduziu o clima de tranquilidade que marcou ontem a primeira fase da 39.ª edição do vestibular.

A universidade, que teve o maior número de inscritos dentre as federais do Sul do País, também registrou baixo número de ausentes: 8,6% (3.764 candidatos). Em 2009, quase 4,2 mil não compareceram na primeira etapa. Esse não foi o único feito.

A estrutura montada para garantir o tráfego livre de tumulto permitiu com que todos os locais de provas fechassem os portões pontualmente às 13h30. Resultado, não existiu a clássica e triste cena de vestibulandos tentando pular os portões por causa de atrasos.

Aliás, o último a entrar no campus Agrárias, fez isso às 13h28 e cruzou o portão sem esboçar muita ansiedade. No local, estavam inscritos 963 estudantes que prestavam o concurso para os cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia.

A única ocorrência mais tensa do concurso foi na Uniandrade, onde um candidato foi eliminado por se negar a entrega a arma.”Informações preliminares davam conta que ele era policial e iria prestar vestibular para Direito, porém, não quis deixar a arma com o fiscal de provas”, esclareceu o coordenador geral do Núcleo de Concursos Raul Von der Heyde.

Gritos e orações

Os candidatos que formavam um círculo e chamavam a atenção de quem entrava no campus Agrárias, por causa do som do grito de guerra e das orações, se dividiam entre estreantes no concurso e veteranos. Todos apostaram no bom humor para garantir o sucesso nas provas.

“Certamente isso ajuda a extravasar o nervosismo”, afirmou a candidata ao curso de Zootecnia, Jaqueline Moscaleski, de 20 anos. Quanto à decepção provocada pelo problema no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o grupo era a favor da repetição das provas para todos os estudantes. “Como isso não deve ocorrer, temos que ver o Enem como treino para o vestibular da UFPR”, ironizou a candidata de Zootecnia Lidiane Marcondes, 19.

Dificuldade em Química

Daniel Caron
Kleber: primeiro a sair.

O primeiro candidato a terminar a prova foi Kleber Caruso, 18, que tentava vaga no curso de Zootecnia. “Como não é a minha prioridade, nem fiquei muito nervoso e resolvi rapidamente porque ainda quero viajar hoje (ontem)”, explicou o vestibulando que se inscreveu em quatro concursos, do quais um precisou desistir por ser na mesma data da UFPR.

“Tentaria na UEL (Universidade de Londrina) também”, contou. Ele considerou a prova de Química a mais difícil. “Precisei chutar em várias questões”, revelou. A mais fácil para Caruso foi Geografia.

Para quem saiu um pouco mais tarde, as provas foram consideradas bem acessíveis. “Foi tudo fácil, pois eu estudei”, sintetizou o candidato transexual, que disputa uma vaga para Medicina Veterinária, Paulo Marques, 25.

“Acho que estarei na segunda fase”, celebrou a candidata de Medicina Veterinária, Aline Candido, 20. Ela ainda estava inconformada com o erro das provas do Enem. “A UFPR não deveria considerar o Enem, não dá para confiar em algo assim”, avaliou a estudantes que, no Enem, preencheu as provas rosa e cinza.

Cautela no caso Enem

Daniel Caron
Akel: avaliação.

O Enem também foi tratado pelo reitor da UFPR, Zaki Akel, durante a coletiva sobre o concurso. “A postura da universida,de ainda é de cautela quanto à adoção do Enem e do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) que iremos experimentar nesta edição, destinando 10% das vagas. Lógico que para a próxima edição levaremos tudo isso em conta na hora de avaliar o uso do Enem e do Sisu no processo de ingresso à universidade”, destacou Akel.

“O anúncio da nova data do Enem é 4 de dezembro. No meio do nosso calendário. Isso vai sobrecarregar os estudantes que participarão das bancas para as cotas raciais, marcadas entre os dias 29 de novembro e 3 de dezembro, e os vestibulandos que farão provas específicas no dia seguinte ao Enem”, informou o reitor.

37 em banca especial

Um dos pontos que mobilizou a atenção da equipe de 3.624 pessoas da organização do vestibular foram as adaptações específicas de cada candidato portador de necessidade especial.

“Para isso que fizemos uma banca para entrevistar cada candidato e ter o discernimento sobre a necessidade e a estrutura que cada um demandaria”, explicou o médico da UFPR e responsável pela fiscalização de uma das turmas, Rui Fernando Pilloto.

A coordenadora do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (Napne), Laura Ceretta Moreira, acompanhou de perto o processo. Desde 1996 ela atende aos estudantes da UFPR com necessidades especiais e é uma entusiasta da iniciativa de oferecer vagas suplementares a essas pessoas. Neste ano são 37 candidatos às vagas suplementares, dentre 41 com alguma necessidade especial.

“Ouvi de um dos pais que acompanhou a filha cadeirante que ela escolheu disputar a vaga no processo tradicional por considerar que há pessoas com problemas muito mais graves do que o dela”, contou Laura.

Exclusão

A coordenadora considera ainda muito baixo o número de pessoas que consegue completar o ensino médio e tentar uma vaga suplementar. “No Brasil, 10% de pessoas têm necessidade especial, e apenas 2% concluem o ensino médio devido ao processo de exclusão ao longo da vida”, analisa.

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