Chuniti Kawamura / O Estado do Paraná
Dolores, a irmã mais nova, posa diante
da casa com o cavalo da família: orgulho.

Uma casa de madeira, cheia de frestas entre as tábuas e sem energia elétrica. Os moradores não têm o que comer, muitas vezes passam fome e dependem de doações. Se isso já dá uma idéia da dificuldade em sobreviver, imagine essa casa no meio da floresta, com acessos muito difíceis. Imagine também esses moradores sendo cinco irmãos surdos-mudos entre 40 e 60 anos, quase todos doentes. Esse é o drama de Antônia, Vitória, Dolores, Palmirio e Joaquim, da família Gonçalves da Costa, que moram no meio do mato em Rio Bonito, município de Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba.

A mãe deles morreu há muitos anos e o pai os deixou em novembro de 2003. Ele tinha uma pensão de um salário mínimo, com o qual todos sobreviviam. Já com limitações e muito doente, o patriarca da família autorizou uma pessoa de sua confiança para pegar o dinheiro, comprar comida e levar tudo até a casa. Um pouco antes de o pai morrer, essa pessoa repassou todos os documentos e o cartão da pensão (que precisava de um recadastramento) para um primo dos cinco surdos-mudos. Ele sumiu e nunca mais apareceu nem para visitá-los. Não se sabe se o primo conseguiu reverter a pensão para os irmãos.

Por causa disso, eles estão passando por muitas dificuldades desde a morte do pai. Quatro estão doentes e com algumas limitações físicas. A condição especial também não ajuda porque os irmãos não sabem a língua dos sinais e tentam se comunicar com gestos. Às vezes, nem mesmo as poucas pessoas próximas conseguem entender o que querem dizer. Tudo isso não permite que trabalhem freqüentemente. Vitória consegue, de vez em quando, serviços como doméstica. O mais novo, Joaquim, é o mais disposto e consegue apenas uns bicos na época de colheita nas plantações, perto de onde mora.

Distância

Além de tudo isso, tem a distância. Ir até a cidade demora muito, ainda mais quando não se tem carro. A família possui apenas um cavalo que ajuda na locomoção pela propriedade. Se tivesse automóvel, não adiantaria, pois o veículo chega somente a um ponto da estrada de terra que dá acesso à casa. Depois, são pelo menos 20 minutos a pé, entre descidas e subidas para chegar até o núcleo. Quando chove, fica praticamente impossível ir até lá. Por muitas vezes a comida doada por algumas pessoas não pode ser levada pela quantidade de lama.

Serviço – Quem quiser ajudar a família Gonçalves da Costa pode ligar no telefone (41) 3032-7624 e falar com Daniele Fedalto.

Irmãos querem ficar em Rio Bonito

Quando os dois homens estão sem trabalho, todos ajudam a manter a casa arrumada, cuidar das galinhas, catar pinhões na floresta para consumo próprio e tentar plantar alguma coisa perto de casa. O solo da região já não está muito apropriado para isso. Eles não conhecem qualquer técnica de plantio, não utilizam adubo e plantam a mesma semente várias vezes. Quando cresce um milho, por exemplo, deixam um pouco de grão para semear. Isso faz com que a produção seja muito pequena e de pouca qualidade.

Os irmãos moraram a vida inteira no local. Os três mais novos nunca saíram de lá, somente Antônia e Vitória. Quando perguntadas se gostariam de mudar para uma cidade, elas respondem que não. Ali é o mundo deles e onde sabem se virar. Elas apenas tentam dizer que não vão deixar ninguém ir até a propriedade da família e cortar árvores. Se isso acontecer, correriam atrás do intruso com um facão.

Alegria

Apesar de toda essa situação, os cinco surdos-mudos vivem alegres, como se aquilo fosse comum. Os valores, os objetivos de vida e as ambições são totalmente diferentes das pessoas que vivem na cidade. São simples, mas com a casa muito bem arrumada e sempre esbanjando simpatia, alegria e carinho. Eles simplesmente não reclamam da vida. Na quarta-feira passada, duas assistentes sociais de Campo Largo visitaram os irmãos e, com isso, há uma expectativa para que a documentação deles seja analisada para o recebimento de algum benefício.

continua após a publicidade

continua após a publicidade