?Não somos máquinas, somos mãos que afagam e transformam?. Essa foi a palavra de ordem dos trabalhadores durante a romaria que pediu, principalmente, a redução da jornada de trabalho, ontem, no Dia do Trabalhador. Eles se reuniram em frente à associação de catadores Sociedade Barracão, no Boqueirão, em Curitiba, e seguiram pelas ruas do bairro até a Paróquia Nossa Senhora da Paz.
Maria Izabel Machado, que representa a reunião de várias entidades, entre sindicatos e movimentos sociais, disse que o dia não era para festas, nem para participar do sorteio de prêmios, mas sim de luta. Ela explica que resolveram se concentrar em frente à associação de catadores para denunciar a precariedade de trabalho a que muitas pessoas são submetidas.
As 37 famílias da Sociedade Barracão, por exemplo, não têm onde guardar o material coletado e acabam convivendo com os entulhos. ?Gostaríamos que a sociedade respeitasse nosso trabalho, ajudamos o meio ambiente e não temos nenhum direito previdenciário. Os carrinhos cheios chegam a pesar mais de 200 quilos e trabalhamos cerca de 12 horas por dia?, reclamou a catadora, Estela Maris Ferreira. Os catadores pedem mais apoio dos governantes para ajudar os trabalhadores a se organizarem em cooperativas.
Além dos carrinheiros, Maria Izabel também falou sobre a precarização do trabalho de serviços terceirizados. ?Os trabalhadores terceirizados geralmente trabalham mais, ganham bem menos e não têm os mesmos benefícios que os trabalhadores das empresas?, falou.
A redução de jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais foi uma das principais bandeiras. Segundos os sindicalistas, muitas doenças ocupacionais estão relacionadas à longa e extenuante jornada de trabalho. Eles afirmam ainda que com a mudança seriam criados novos postos de trabalho, sem prejuízo para empresários. Seriam mais dois milhões de empregos no País e 130 mil só no Estado. Em relação ao trabalhadores das áreas da Saúde e Educação, pedem redução para 30 horas semanais.
Durante os dois quilômetros de trajeto eles empunharam bandeiras, faixas e cartazes, gritando palavras de ordem. A APP-Sindicato, que representa os professores estaduais, empunhou bandeiras em forma de banana. ?Nós sempre ganhamos uma banana de empresários e dirigentes políticos, agora chegou a nossa de dar banana para eles?, falou uma das diretoras, Silvana Prestes.
No bairro Barreirinha, os fiéis também se reuniram na Paróquia Nossa Senhora das Graças e Santa Gema Galgani. Saíram em procissão pelo bairro e rezaram missa. O padre Leocádio Zytkowski disse que também apoiam a redução da jornada de trabalho e pedem melhores condições de trabalho, saúde, educação e moradia.
As manifestações também se repetiram pelo interior do Estado. Em Maringá, o tema do romaria dos trabalhadores foi ?Felicidade (Feliz-cidade) é escolher a vida?. Eles discutiram o problema da violência, pobreza, saúde e educação, dificuldades vividas pelos trabalhadores. A organização esperava reunir cerca de 10 mil pessoas.
Celebração do 1.º de Maio Solidário em frente ao Palácio Iguaçu
Cintia Végas
Chuniti Kawamura |
Muitos acompanharam o evento. |
Milhares de trabalhadores se reuniram ontem em frente ao Palácio Iguaçu, na Praça Nossa Senhora da Salete (Centro Cívico), em Curitiba, para participar do 1.º de Maio Solidário. O evento, que esteve em sua sétima edição, foi organizado pela Força Sindical do Paraná. A população que passou pelo local – estimada em 155 mil pessoas – pôde participar de sorteios de prêmios e shows musicais, além de ter acesso a uma série de informações e serviços prestados pela Copel, Sanepar e Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar). Pela manhã foi celebrada uma missa comemorativa ao Dia do Trabalho, com a participação do padre Reginaldo Manzoti, da igreja Nossa Senhora de Guadalupe, no centro. Desta vez, a principal bandeira de luta da Força Sindical foi a redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais. Segundo o secretário de mobilização da Força Sindical, Nélson Silva de Souza, a mudança geraria, de imediato, cerca de 2,2 milhões de novos empregos no Brasil. Desses, cerca de 130 mil seriam no Paraná. ?Uma jornada de trabalho menor e com melhores salários é possível de ser implantada. Só na Grande Curitiba, já existem cerca de 22 mil trabalhadores que realizam quarenta horas semanais?, afirmou. Nélson defendeu ainda que a redução na jornada de trabalho evitaria doenças ocupacionais – como Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e Distúrbio Osteomusculare Relacionado ao Trabalho (DORT) – e minimizaria o número de acidentes de trabalho nas empresas. Além disso, permitiria que os trabalhadores tivessem tempo para buscar uma maior qualificação profissional, tendo maior disposição para estudar e realizar cursos em suas áreas de atuação. ?Quando está mais satisfeito, sofre menos pressão e menor assédio psicológico, o trabalhador rende mais?, defendeu Nelson. ?Até o próximo dia 15, queremos coletar 1,5 milhão de assinaturas em prol da redução da jornada de trabalho. Posteriormente, o abaixo-assinado vai ser mandado para Brasília (DF), diretamente para o presidente Lula?. Ontem, ao longo da Praça Nossa Senhora da Salete, diversas pessoas ligadas à Força Sindical faziam a coleta de assinaturas da população. A idéia é que o abaixo-assinado dê origem a um projeto de Lei sobre a questão da redução da jornada a ser enviado ao Congresso Nacional. Também no decorrer do evento de ontem, diversos quilos de alimentos não perecíveis foram arrecadados com a finalidade de serem doados a entidades assistenciais da capital.
Leia mais:
Greve avança no Dia do Trabalho