Em vez de protesto, baderna e vandalismo. Foi assim que o Movimento pelo Passe Livre (MPL) realizou ontem mais uma manifestação pelas ruas de Curitiba. Os estudantes saíram da Praça Santos Andrade e andaram em direção à sede da Prefeitura, no Centro Cívico. Durante a manhã, eles fecharam o trânsito em vários pontos do centro da cidade e amassaram parte da lataria de três carros que tentaram furar o bloqueio. Os manifestantes fizeram o ato para cobrar da Urbs a resposta prometida sobre o assunto há um mês, em outro protesto, realizado na sede da empresa, na Rodoferroviária.
Um dos integrantes do MPL, Rodrigo Paes, disse que os estudantes estavam esperando alguma resposta pública que mostrasse a posição da empresa, o que não aconteceu. As reivindicações do movimento são o passe livre no transporte coletivo para todos os estudantes da cidade, a abertura da planilha de custos da Urbs e queda no preço da tarifa, entre outros.
Durante a concentração na Praça Santos Andrade, no início da manhã, integrantes do movimento informaram que havia uma pessoa da Guarda Municipal infiltrada entre os estudantes, o que não foi confirmado. "Um ou dois guardas municipais estão à paisana. Qualquer pessoa consegue identificar. Quando há quebra-quebra ou vandalismo, são essas as pessoas envolvidas. Os integrantes do movimento, que há um ano se mobilizam, não querem saber de violência", comenta Ernesto Paes, outro integrante do MPL. De acordo com ele, entre os estudantes que participam do ato, estavam alunos do ensino médio de escolas particulares e públicas, além de universitários.
Com batuques, apitos e gritos de ordem, os manifestantes deixaram a Praça Santos Andrade em direção à Prefeitura, com o acompanhamento do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) e Diretran. No caminho, pararam no Colégio Estadual do Paraná e tentaram chamar mais estudantes para aderir ao ato. Alguns pularam o muro para invadir o colégio e chamar a atenção dos alunos, mas não conseguiram. Em seguida, fecharam o cruzamento das ruas João Gualberto e Luiz Leão, em frente ao Passeio Público. O trânsito ficou tumultuado. A psicóloga Carmen Simon desceu de seu carro para pedir que a rua fosse liberada, o que motivou um princípio de confusão. Após alegar que tinha uma consulta médica agendada e ser persuadida a dizer que apoiava o MPL, os estudantes saíram e deixaram o trânsito fluir.
Na chegada ao Centro Cívico, os estudantes encontraram 80 guardas municipais em frente à Prefeitura. Os integrantes do movimento resolveram bloquear a Avenida Cândido de Abreu. Um automóvel Escort tentou passar pela barreira e foi impedido pelos manifestantes, que deram socos na lataria do carro. Os estudantes sentaram na frente do veículo para que ele não fosse embora. Além disso, fizeram pressão para que a motorista pedisse desculpas pela atitude. Após relutar, a motorista pediu desculpas aos manifestantes para conseguir ir embora. Ela não quis falar com a imprensa. Alguns integrantes do movimento foram, então, para frente da sede das Varas de Família, também na Cândido de Abreu. Retiraram do mastro a bandeira do Estado do Paraná que estava hasteada. A bandeira foi colocada no chão e alguns estudantes andaram sobre ela.
Movimento não obtém resposta positiva
Houve muita discussão sobre a forma como os integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) seriam recebidos pela Prefeitura. Eles queriam que todos entrassem no prédio da administração municipal ou que um representante fosse encontrá-los. "Eles acham que vão ganhar da gente no cansaço. Mas cada vez vai piorar", prometeu Frederico Neto, outro integrante do MPL, durante a negociação.
As conversas tiveram intermédio da vereadora Professora Josete (PT). "O movimento é justo, pois o vale-transporte é a diferença para muitos não irem para a escola. Mas é preciso buscar formas para isto." Perto da hora do almoço, o diretor de Transportes da Urbs, José Antônio Andreguetto, foi até os estudantes para entregar uma carta com a resposta da empresa sobre as reivindicações do movimento. De acordo com ele, o documento expressa que as três esferas de governo (União, Estado e município) têm suas obrigações quanto à educação, conforme a Constituição e as Leis de Diretrizes e Bases (LDB). Com isso, a Urbs sinaliza que a reivindicação também deve abranger os governos estadual e federal. "Não há nada de novo. Não tem como pensar em passe livre para qualquer categoria sem outra fonte de renda. Estariam comprometidos 50% da renda arrecadada hoje. A passagem subiria 50% ao usuário", afirmou.
Após o encontro com Andreguetto, integrantes do movimento foram protocolar um pedido de audiência com o prefeito Beto Richa. No documento, os estudantes citam o exemplo bem-sucedido de uma cidade francesa que implantou o passe livre há dois anos. Enquanto era feito o protocolo, alguns integrantes do movimento tentaram bloquear o trânsito na Cândido de Abreu. Acabaram danificando a lataria de um Gol, do vendedor João Carneiro, com pedaços de pau. "Amassaram o capô e a lateral. Vou tomar providências", garantiu. Alguns manifestantes pediram para que a imprensa não divulgasse que o ato de vandalismo foi causado por integrantes do movimento.
Depois disso, o trânsito novamente foi tumultuado pelos manifestantes, que decidiram seguir em direção ao Passeio Público. No caminho, mais uma motorista teve problemas com a ação dos estudantes, sendo pressionada a não ferir o bloqueio, inclusive com socos na lataria. Eles entraram em uma estação- tubo para pegar ônibus sem pagar a tarifa, mas foram impedidos por guardas municipais. Somente depois das 13h é que o movimento se dispersou. (JC)
Jovem é preso acusado de crime contra patrimônio público
Elizangela Wroniski
Um estudante foi preso em flagrante, acusado de crime contra o patrimônio público, depois de participar da manifestação. Segundo o delegado titular do 4.º Distrito Policial, Luís Alberto Salles, Alexandre Emmanuel de Oliveira, de 19 anos, foi detido por policiais militares depois de quebrar uma caixa de luz da Companhia Paranaense de Energia (Copel) e rasgar a bandeira do Estado do Paraná. O rapaz só deveria ser liberado com autorização da Justiça.
Segundo o estudante Frederico Neto, depois que a manifestação terminou, um grupo de mais ou menos 15 jovens estava voltando para casa. No Cabral, foram abordados pelo Grupo de Operações Especiais (GOE) da Guarda Municipal. O GOE teria agido com violência. "Devido a conversas no orkut falando sobre o uso de bombas durante a manifestação, os policiais foram revistar o grupo e sentaram o cacete. Mas quero deixar claro que o movimento pelo passe livre não tem nada a ver com o orkut. Nós temos uma página própria na internet", fala Neto.
No entanto, a Prefeitura de Curitiba nega qualquer tipo de violência durante a ação do GOE. Segundo a assessoria de imprensa, os policiais foram acionados porque os estudantes estavam impedindo a passagem dos ônibus biarticulados para colar cartazes de protesto. Nem as placas de sinalização estavam sendo poupadas. Além disso, o grupo é que teria recebido o GOE atirando objetos como cabos de vassoura e braceletes de couro com agulhas.
Depois que o grupo foi dispersado e a polícia deixou o local, Alexandre teria tirado da cintura uma corrente que servia de cinto e passou a desferir golpes contra caixa de luz e um orelhão. Em seguida foi preso por policiais militares. Segundo o delegado, eles acompanharam toda a manifestação à paisana. Além disso, um guarda municipal teria visto Alexandre rasgar a bandeira do Estado. "Ele foi preso em flagrante e só vai ser liberado com a autorização da Justiça", disse o delegado.